Capítulo vinte e um

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Dois dias para a viagem e ainda estou dividida. Para ser honesta? Acho que meu coração sabe exatamente o que eu quero, mas a minha mente me diz outra coisa. Tenho até junho para decidir tudo, porque é quando os livros das duas faculdades começam a ser vendidos. E meus pais vão querer comprar como um presente.

Não quero. Não quero ser advogada.

Vendo pelo lado bom, passar sete meses morando com Drew será incrível! Fazem anos que meus pais não viajam para fora, então eles vão junto, mas ficarão na casa dos pais de Drew, que é literalmente quase do lado da casa dele. Quando Drew saiu de casa, se mudou para uma no mesmo condomínio de seus pais. Me contou que não consegue ficar longe deles.

Mesmo faltando dois dias minhas malas já estão prontas. Se tudo der certo eu não volto nunca mais.

– Você vai levar uma mala inteira só de livros? – Minha mãe entra no quarto me perguntando.

– Sim ue! Quero meus livros comigo.

– Mas você pode comprar mais quando estiver lá, Drew tem livros também.

– Mas eu quero os meus.

– Você vai levar mesmo só uma mala de roupas? Leva mais uma filha!

– Estou levando uma mala de livros e uma mochila e uma mala de roupas.

– Filha você vai morar lá por um bom tempo, não acha que deveria levar mais?

– EU NEM TENHO ROUPA MÃE! – Que discussão insuportável. Não aguento mais.

– Tudo bem, leve o necessário para você. – Ótimo. Agora me sinto horrível por ter gritado sem motivo.

Já disse que não estou preparada? Porque eu definitivamente não estou. Fui a escola e me despedi de meus antigos professores. Não sei o que será de mim sem eles. Também me despedi de alguns amigos, e Clara irá me ver no aeroporto junto com minha prima Jess. Eu deveria estar triste por deixá-las, mas não vejo a hora de viver a minha vida.

Não vejo a hora de viver algo que é só meu, algo que ninguém saiba, algo que me faça feliz. Minha vida é só minha, é o que repito na minha cabeça todos os dias. Mas por que eu ainda me preocupo com o que meus pais pensam? Acho que todo mundo é um pouco assim, mesmo depois de adulto.

*

Por pura e espontânea ansiedade, dormi o dia todo durante esses dois dias. A minha lógica foi simples! Se eu dormisse, não precisaria me importar com o tempo passando, então foi o que eu fiz. Drew achou que eu estava morta e minha mãe disse que eu estava apenas hibernando. Já eu acho que se eu hibernasse um pouquinho mais, eu morria.

Hoje é o dia da viagem e estou mais elétrica do que nunca! Meu Twitter que me aguente, porque postei trezentas coisas em menos de um minuto. Nunca viajei de avião, não consigo parar de imaginar como vai ser. Vou ver o céu de pertinho!

Posso ser meio ignorante ao dizer isso, mas nunca vou entender como aquela coisa enorme e pesada voa. Também nunca vou entender como o paraquedas aguenta uma pessoa. É, sou burra, vou parar os questionamentos por aqui porque depois disso o nível só diminui.

Estou sentada ao lado de minha irmã, meus pais estão juntos. Ela já viajou milhares de vezes de avião então é totalmente normal para ela, o que a faz rir de mim quando percebe o quão animada eu estou.

– Já se acostumou? – Ela pergunta.

– Com o que? – Respondo sem tirar os olhos da janela.

– Com o céu, com ele tão perto.

– Nunca irei me acostumar com isso, Vic. Queria abrir a janela e pular para ver se as nuvens me aguentam.

– Você entende que morreria? – Ela diz, rindo.

– Entendo que iria valer a pena.

E então, fico ali, no meu próprio mundinho observando o céu, as nuvens, aquela imensidão azul. Um dia espero descobrir todas as artimanhas, segredos e detalhes do universo. Espero conseguir contar a todo mundo, espero conseguir fazer com que todos vejam o quão lindas são as estrelas, o sol, os planetas e principalmente a lua. A lua é a minha primeira e eterna melhor amiga, e o céu? Ah, ele definitivamente sempre será o meu primeiro amor.

*

Queria ter conseguido ficar acordada durante toda a viagem, mas acabei dormindo. Bom, pelo menos não irei precisar descansar. Eu nunca entendo quando alguém diz "ah, viajei horas de avião, preciso descansar", porque eu dormi igual um neném naquele lugar. Estou mais elétrica do que nunca.

No meu telefone, milhares de mensagens do Drew que não respondi:

Já esta vindo?
Como foi a viagem?
Já chegou?
Meu Deus mulher responda
Morreu?
MIA, MERDA
O que tá achando?
CACETE MIA CADE VOCE
Ata desculpa
Sua mãe disse que vc dormiu
Bons sonhos, te amo

Caio na gargalhada quando leio as mensagens e vejo as vinte e duas chamadas perdidas. Vinte e duas Drew? É sério? Decido respondê-lo:

o desespero do gato
acabei de chegar

Guardo o telefone na mochila. Quero viver cada momento. ESTOU FORA DO PAÍS! Finalmente pisando em solo estrangeiro, finalmente realizando um dos meus maiores sonhos.

Vejo meus pais de mãos dadas e me encaixo no meio deles igual quando era criança. Faço os dois me darem as mãos. Eles e minha irmã começam a rir. Amo esses momentos com a minha família.

Drew disse que não poderia ir no aeroporto, mas provavelmente me esperaria em casa. Cada segundo longe dele parece uma década! Acho que como nós ficamos tanto tempo separados, meu cérebro sente falta dele muito depressa. Queria que ele nunca tivesse se mudado quando era criança, queria que ele não tivesse ido embora. Mas por um lado, esse reencontro foi algo tão incrível para mim, algo que realmente me fez bem. Eu precisava disso.

Sou aquele tipo de garota que acredita em destino, em qualquer destino. Ok, ok, sei que pode parecer clichê, mas eu acredito que não importa o quanto tempo leve, aquela pessoa pode ir e voltar de sua vida milhares de vezes, se for destinado para que em algum momento ela fique de vez, ela vai ficar. Acredito que eu e Drew somos destinados a sermos melhores amigos para sempre! E nada tira isso da minha cabeça.

Paper Rings | Drew StarkeyWhere stories live. Discover now