Capítulo 14

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S/n Grimes

Eugene mentiu sobre a cura. Não há nada em Washington. Ele só queria proteção, pois sempre soube que não sobreviveria sozinho. Abraham deu uma baita surra no Dr. Estranho, mas agora as coisas estão melhores entre eles.

Conseguimos chegar em Virgínia, mas papai achou melhor que nem todos fossem até a tal comunidade que o Noah morava com a sua família, Shirewilt Estates. Sendo assim, apenas meu pai, Noah, Tyreese, Glenn e Michonne foram até a comunidade, eu e o resto ficamos alguns quilômetros mais afastados.

Eu estava sentada embaixo de uma árvore com Judith entre as minhas pernas. Carl estava em pé com os olhos fixos na floresta e em todos os cantos. Abraham e Rosita vigiavam Eugene de longe, nenhum dos dois estava muito feliz com o esquisito. Enquanto isso, Gabriel lia a Bíblia que ele mesmo copiou e Beth conversava com Sasha.

Daryl tinha saído para caçar, ver se encontrava algo para a gente comer. Desde que saímos do hospital, eu e Daryl ainda não nos falamos. Ele matou a Dawn para me proteger, pelo menos é isso que eu penso, mas eu não consegui agradecer por isso ainda.

Quando finalmente tivemos uma chance de conversar sem ninguém a nossa volta, Daryl decidiu sair para caçar. Parece que ele está fugindo de mim, não sei. Sempre que chego perto ele se afasta, como se quisesse ficar longe de mim, como se não quisesse interagir comigo.

— Pensando nele? - Maggie apareceu de repente, sentando ao meu lado.

— Como? - olho para ela com confusão.

— Você estava pensando no Daryl, não estava? - a mais velha olhou para mim de volta, colocando a Judith em seu colo. — O que está acontecendo? Pode me dizer.

— Lá no hospital, a líder deles apontou uma arma pra mim. - comecei a contar, passando a olhar para o nada. — Eu não sei, acho que ela ia abaixar a arma, mas o Daryl atirou nela antes.

— Agora você não consegue falar com ele. - resumiu, brincando com a pequena sentada sobre as suas pernas.

— Sempre tem alguém por perto, e quando não tem ele simplesmente se afasta. - digo. — Acho que ele não quer falar comigo. Talvez queira se afastar.

— Tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante. - Maggie respirou fundo, encostando sua cabeça no tronco da árvore. — Tá apaixonada por ele, né?

— Sendo sincera, sim. - confesso, cansada de guardar aquilo apenas para mim. — Mas acho que ele não sente o mesmo.

— Ele sente. - a mais velha disse com total certeza. — Ele só deve estar confuso.

— Pessoas confusas magoam pessoas incríveis. - citei uma das frases que eu mais lia nos livros de literatura do ensino médio.

— Pessoas confusas já foram pessoas incríveis. - ela completou. — Se você ama alguém, deve dizer pra essa pessoa. Diga agora, o mais rápido que puder, porque depois pode ser tarde.

— Eu tenho medo da reação dele. - eu disse. — Tenho medo dele se afastar ainda mais. Medo de perdê-lo por completo.

— Existe uma grande diferença entre amar uma pessoa e não conseguir viver sem ela. - Maggie falou, me olhando de relance. — Eu por exemplo, não se se conseguiria viver sem o Glenn. As vezes olho para trás e não sei como vivi sem ele por tanto tempo.

— Eu sei como amar outra pessoa, mas eu não consigo acreditar que a outra pessoa possa realmente me amar. - desabafei, sentindo um alívio por dentro.

— Mesmo que o mundo esteja desmoronando, ame. - ela me encarou nos olhos, falando de maneira séria. — Mas lembre-se: não corra atrás de quem quer ficar distante.

— Todo mundo acaba virando uma droga. - solto um suspiro longo e pesado, deitando a minha cabeça no ombro da mulher.

— Quando você ama alguém, você não tem nenhum controle. O amor é isso, te deixa fraco. - disse a mais velha, colocando a sua cabeça sobre a minha. — Mas o amor realmente é tudo que importa. As pessoas morrem, te abandonam, mas o amor continua ali. Ele pode te destruir por completo, mas também te mantém viva.

— Não sei se isso é algo bom ou ruim. - comentei, fazendo a mulher se calar por alguns segundos.

— "Almas gêmeas são destinadas a se conhecer, mas nem sempre a ficarem juntas." - Maggie citou. — Ouvi isso quando estava na faculdade.

— No nosso caso, acho que é o orgulho que não deixa nós ficarmos juntos. - digo, forçando um fraco sorriso. — Quer dizer, duas pessoas podem mesmo ser destinadas a ficarem juntas? Feitas uma pra outra? - começo a questionar. — Não sei se acredito nisso. - confesso. — Talvez eu acreditasse nisso tudo antes do apocalipse, quando eu era apenas uma adolescente do ensino médio cheio de paixões e ilusões, mas agora... agora eu nem sei mais no que eu acredito.

Junto com o sentimento de alívio, veio o aperto no peito. Eu não tinha desabafado completamente, tinha mais uma coisa entalada na minha garganta. Ainda tinha algo que eu precisava desabafar com alguém.

— Tem mais uma coisa. - tiro minha cabeça do seu ombro, olhando para os meus próprios dedos. — No hospital, tinha um policial chamando Gorman. Ele... ele meio que... sabe? - gesticulei com as mãos, movimentos confusos que fizeram Maggie franzir o cenho.

— Não estou entendendo. - ela disse, tentando decifrar o que eu queria dizer.

— Ele quase me estuprou. - digo de uma só vez, ainda sem olhar para ela. — Fui salva por um médico, o Dr. Steven.

— S/n, eu... eu sinto muito. - Maggie não sabia o que dizer, então apenas me abraçou.

Retribuí o abraço e deixei algumas dolorosas lágrimas caírem, passando um dos meus braços por Judith.

— Seu pai sabe? - a mais velha perguntou, olhando para mim. — E o Daryl?

— Não, ninguém sabe. - nego rapidamente. — Só você.

— Ele chegou a... - a interrompo no mesmo instante.

— Não. - eu neguei. — Ele quase conseguiu, mas o Steven chegou bem na hora.

— Serei eternamente grata à esse médico. - ela sorriu fraco, deixando um beijo na minha testa.

Olhei para o lado ao ouvir o som dos arbustos se mexendo, vendo Daryl sair de trás dos mesmos. O homem carregava alguns esquilos, os quais jogou no colo de Carol.

Daryl sentou em um tronco caído e começou a mexer em sua besta, ali eu vi o momento perfeito para conversar com ele. Preciso dizer o que sinto antes que eu perca a coragem.

— Daryl, eu... - sentei ao seu lado, chamando a atenção do homem, mas o barulho de motor de carro me interrompeu.

Papai desceu do carro com um semblante nada contente. Glenn e Michonne desceram logo em seguida, olhando para o chão enquanto seguiam meu pai. Já o Noah tinha uma cara de choro, parecia ter e chorado bastante no meio do caminho.

— Cadê o Tyreese? - Sasha perguntou preocupada, sentindo falta do irmão.

Ninguém respondeu.

Meu pai apenas abaixou a cabeça e colocou as duas mãos na cintura, fazendo a mulher cair em lágrimas.

Tyreese estava morto. Ele morreu, provavelmente, tentando ajudar alguém.

Love in chaos II - Daryl DixonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora