Capítulo 63

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S/n Grimes

— Carl... - fui até ele entre as lágrimas, olhando para a mordida em sua barriga. — Não...

— Está tudo bem. - ele disse com a voz arrastada, forçando um fraco sorriso.

— Foi culpa minha. - o desconhecido atrás de mim falou. — Eu... Eu sinto muito.

— Não foi culpa dele. - Carl se apressou em dizer.

— Ele é o viajante? - olho para o meu irmão, que concordou com a cabeça.

Eu não queria ouvir, não queria falar, não queria acreditar naquilo. Eu só queria o meu irmão. Queria o meu irmão comigo, para sempre.

— Você não pode... Você não... - murmuro, tendo minha mão segurada pelo garoto.

— Todos estão aqui? Vocês conseguiram? - ele perguntou, apertando a minha mão mais forte.

— Sim...! Sim...! - fungo o nariz, olhando para todas as pessoas presentes naquele esgoto. — Quando isso aconteceu?

— Mais cedo, quando eu fui atrás do Siddiq. - disse Carl, fazendo o viajante atrás de nós respirar fundo.

— Por que não me disse nada? - o questiono, segurando seu rosto com leveza e hesitação.

— Queria ter um último dia vivo. - ele falou. — E foi um dos meus melhores dias. Você, a Judith... Obrigado.

— Carl... - voltei a chorar, abraçando o meu irmão.

Eu apertava o corpo magro do garoto com medo de que ele escapasse, de que ele morresse e me deixasse. Com medo de que ele também fosse embora, como o Glenn foi.

Mesmo aqui embaixo, podíamos ouvir o som das bombas explodindo a comunidade, enquanto o cheiro de esgoto se misturava com a fumaça.

A pele pálida de Carl queimava, ele suava e tossia. O ajudei a beber um pouco de água e não saí de perto dele nem por um segundo.

Até o nosso pai chegar.

Papai e Michonne se aproximaram, olhando para todos com um olhar estranho. Judith estava com o Daryl que, assim como os outros, mantinha a cabeça abaixada, ele também não sabia o que dizer.

Quando os dois viram Siddiq, a confusão aumentou. O viajante olhou para o chão e o olhar do casal pousou em mim e no Carl.

— Eu trouxe ele aqui. - disse o garoto, vendo nosso pai abaixar perto de nós. — Foi assim que aconteceu. - levantou a blusa, mostrando a mordida.

Michonne caiu de joelhos na nossa frente, chorando desesperadamente. Eu abaixei a minha cabeça e chorei baixinho, ouvindo os múrmuros do meu pai.

Ele estava em choque, todos estávamos. Não havia o que fazer, não havia uma solução, uma cura. Eu não podia fazer nada. Ninguém podia.

Por um momento, todos ficamos em silêncio. Michonne e eu chorávamos baixinho ao lado do garoto, enquanto papai olhava para ele sem conseguir acreditar. Os olhares caíam sobre nós, mas ninguém tinha coragem de dizer algo.

Daryl mantinha Judith sentada em seu colo, segurando o rosto da menina para que ela não visse aquela cena. Para que ela não visse o nosso irmão morrer lentamente.

— Eu... Eu não... - papai tentou dizer algo, segurando as lágrimas que insistiam em querer cair. — Como?

— Pai... Tá tudo bem. Tem que estar. - Carl forçou em falar, mesmo com a voz arrastada. — Eu não sabia se você ia conseguir voltar antes, mas, só pra garantir, eu escrevi isso pra me despedir de todos. - ele pegou várias cartas e as entregou para Michonne, que tinha as mãos trêmulas.

Love in chaos II - Daryl DixonWhere stories live. Discover now