24. ALESSA.

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A vergonha me queimou. Como eu tinha sido capaz de fazer aquilo? O que Nino pensava de mim? Os pensamentos horríveis vieram com tudo em minha direção, lembranças do passado, de quando eu havia sido tocada de uma forma dolorosa, com certeza sem receber prazer algum. Eu tremia sob a água quente do chuveiro tentando com tudo de mim evitar o choro, mas foi em vão. Não sei quanto tempo fiquei ali, chorando contra a parede do box, mas a água já estava fria quando saí do banheiro enrolada num roupão de banho. Culpa. Eu me sentia culpada. Como eu poderia abaixar a guarda daquela forma, fazer aquelas coisas tão íntimas na frente de um computador, de um homem? Peguei meu celular sabendo que já havia milhares de mensagens de Nino e respirei fundo. 

NINO: Alessa, eu fiz algo de errado?

NINO: Alessa, por favor. Você está segura, eu nunca te machucaria. Ver seu corpo não muda isso.

NINO: Você sabe que eu te amo, não é? Isso não muda nada. Continuaremos como antes, não precisamos nunca mais fazer algo do tipo.

NINO: Alessa, sério. Você prometeu que não me daria mais esse fodido tratamento de silêncio.

NINO: Porra. Desculpa, ok? Eu não deveria ter deixado continuar, eu deveria saber que era demais pra você.

Respirei fundo tentando conter a miríade de emoções dentro de mim. Porque eu não conseguia ser normal como as outras pessoas? Porque eu estava me sentindo tão… Suja? 

EU: Não é tratamento de silêncio. Eu juro. Só preciso de tempo para entender o que aconteceu. Você não fez nada de errado, eu te amo.

Nino visualizou instantaneamente, mas demorou quase dois minutos inteiros antes de responder. 

NINO: Eu não sei exatamente como você se sente, mas eu posso imaginar com alguma clareza. Eu passei por alguns traumas sexuais, nada comparado com o que lhe foi feito, mas eu sei como é a sensação de se sentir culpado por encontrar prazer em algo que te machucou. Eu sei como é se sentir sujo, arrependido, de algo que foi ótimo simplesmente porque seu passado detém poder sobre você. Está tudo bem, Alessa. Sou eu. Sou eu, Nino. Você não precisa se sentir assim. Eu AMO você. Isso não muda nada. Seu corpo é lindo, me excita e isso é tudo. Não precisa acontecer de novo. Apenas lute com tudo que você tem contra esses sentimentos ruins e pense que SOU EU. A pessoa que nunca te julgaria. A pessoa que SEMPRE vai te amar.

Meu coração doeu ao ler a parte sobre ele ter passado por traumas assim no passado. Eu odiava seu pai mais do que qualquer outra pessoa na vida. Minha maior realização seria criar uma máquina do tempo e voltar no passado para matar aquele velho fodido com minhas próprias mãos. 

EU: Foi bom. Incrivelmente bom. Eu só preciso dormir e tentar assimilar a revelação de que eu POSSO sentir prazer mesmo depois de tudo. Você me salva todos os dias. Você me salvou do Monstro, matou para me proteger, me amou quando ninguém mais me amou, me entendeu quando ninguém mais me entendeu, nunca me julgou. Você me mostrou segurança, amizade, amor e agora prazer. Você é tudo que eu sempre quis.

EU: Vou tentar dormir. Eu te amo muito. Não estou te ignorando, só preciso de um tempo. Boa noite, Nino.

NINO: Eu entendo, não se preocupe. Tenha uma boa noite, eu também te amo.

Apertei o celular contra o peito e me deitei na cama sem me importar em me vestir. Se havia alguma que poderia afastar os monstros, se havia alguém que poderia me fazer feliz, era Nino. Havíamos sido unidos pela dor e criamos um laço inquebrável. Nada poderia nos separar. 

INQUEBRÁVEL - Saga Inevitável: Livro 4.Where stories live. Discover now