30. ALESSA.

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Nino congelou, o corpo tenso. Seu rosto assumiu uma expressão de assombro que me perturbou profundamente. 

— Você… Você não quer ter filhos? — Perguntei baixinho e o receio em sua expressão foi minha resposta. — Porque? 

— Porque eu não quero. — Ele respondeu duramente. 

— Ok. Mas você precisa ter um motivo. — Retruquei. — Você não pode simplesmente querer que eu aceite isso sem me dar um motivo plausível. 

— Não preciso de um motivo. Eu não quero filhos. Se isso te incomoda, você pode se casar com outro. — Nino ralhou me fazendo pular de seu colo. O loiro me encarou longamente enquanto eu ficava de pé e me afastava dele. 

— Você disse que faria qualquer coisa por mim. — Apertei os lábios. — Se você não quer me dar filhos, pelo menos me diga o motivo. 

Nino também se colocou de pé lentamente, o rosto se fechando numa máscara de frieza. Eu não entendia o porquê de tamanha irritação, não entendia o motivo dele simplesmente não me dizer o porquê. Eu era sua noiva e essa era uma decisão que me dizia respeito. A dureza em seus olhos me deixou assustada quando as íris cinzas caíram sobre mim. 

— Não é sobre querer ter filhos ou não, é sobre não poder ter filhos. — Nino sibilou. — Eu sou estéril, Alessa. 

Minha boca ficou seca ao ouvir aquilo e minhas pernas já bambas pareceram tornarem-se gelatina. Eu não tinha certeza, mas eu podia apostar que não havia sido natural.  Eu não era boa em biologia, mas imaginava que dois gêmeos idênticos deveriam ter a mesma capacidade de gerar filhos. Nico definitivamente não era estéril, ele tinha Lorenzo, e pelo olhar sombrio de Nino, ele havia sofrido algo que o mudou dessa forma. 

— Você… — Não consegui formular qualquer frase por um longo amontoado de segundos, minha mente corria rápido, dividida em pensamentos e teorias, mas eu não conseguia me agarrar a nenhuma. — Você sempre foi estéril ou…? 

Nino sorriu. Eu odiava aquele sorriso; frio e ao mesmo tempo carregado de rancor e cinismo. Odiava a forma que sua boca se contorcia em algo que deveria ser belo, mas era obscuro e cruel. Odiava quando ele sorria daquela forma distorcida para mim. 

— A segunda opção. — Nino disse tranquilamente, como se estivesse falado do céu ensolarado sobre nossas cabeças. 

— Você quer me contar sobre? 

— Não. — A resposta dele me aliviou. Eu não tinha certeza se queria saber, não tinha certeza se aguentaria saber. 

— Não muda nada. — Eu disse dando de ombros. — Se um dia quisermos ter crianças, podemos adota-las ou fazer inseminação artificial. Não muda nada. 

Nino permaneceu em silêncio. Eu sabia que ele estava muito longe dali, provavelmente preso em memórias dolorosas do seu passado. Eu já o conhecia há tempo suficiente para notar quando ele se distanciava, quando ele se perdia dentro de si. E aquilo me assustava. Naqueles momentos Nino não era o homem amável e incapaz de qualquer coisa ruim. Ele era o homem frio e inteligente, o mafioso. Meu doce Nino não era aquele parado frente a mim, não. Aquele homem era o homem que tinha matado o Monstro, Cassio e tantos outros que eu nunca saberia. Lentamente me aproximei de Nino, porque por mais que aquela versão me assustasse, eu o amava com toda minha vida e isso nunca mudaria. Coloquei minha palma sobre seu peito, me surpreendendo bom o quão acelerado seu coração estava. 

INQUEBRÁVEL - Saga Inevitável: Livro 4.Onde histórias criam vida. Descubra agora