38. NINO.

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Quando o caixão baixou, quando a terra foi posta sobre ele, quando o adeus se tornou definitivo, eu não consegui mais respirar. Estávamos juntos num momento, noutro, ele havia levado uma bala na cabeça. Aquele era o risco da nossa vida, mas eu nunca pensei que enterraria meu irmão. Também nunca pensei que viveria a perda de uma mãe duas vezes na vida, mas ao contrário da primeira vez, eu não estava lá para enterra-la. O tiro que Carisma levara fora de baixo calibre, não explodiu sua cabeça como fizera com Luca. As flores recobriam sua testa, impedindo-nos da visão ferrenha de sua morte. Carisma parecia quase serena, em paz, mas ela era a única. Alessa gritou quando parou perto do caixão e meus braços foram tudo que a impediram de cair no chão quando suas pernas cederam. Seus gritos estariam comigo até o fim dos meus dias. Minha noiva se inclinou para frente, caindo sobre o caixão e eu não tive coragem de puxa-la para longe. Era seu luto. Nas últimas trinta e seis horas eu havia experimentado muito de dor e sofrimento, mas naquele momento, eu senti que nunca mais conseguiria sorrir novamente. Como coisas tão catastróficas e trágicas poderia acontecer no mesmo dia? Como uma pessoa podia estar viva num instante e sem nenhum aviso… Morrer? 

— Em memória de Carisma Andrea Vacchiano. — O padre começou, mas eu já havia parado de prestar atenção. Eu não precisava ouvir o sermão fúnebre, não quando minha noiva estava chorando de soluçar em meus braços.

Eu faria qualquer coisa para tirar dela aquela dor. Eu passaria pelo cativeiro novamente só para que ela não precisasse chorar daquela forma.



Alessa voltou para Las Vegas comigo, Alessia e Nico, alegando que não conseguiria ficar em sua casa. Santiago me abraçou quando partimos e pediu para eu cuidar da sua filha. Eu não sabia se ele confiava em mim ou se estava abalado demais pela morte da esposa, mas fiquei feliz por ter Alessa comigo ao entrar em casa. Quando Luca morreu, pensei que a pior parte seria abaixar o caixão, enterrar seu corpo na terra, mas não era. O pior mesmo era o dia seguinte, era entrar em casa, reviver todos os momentos que passamos juntos sabendo que não o veria mais. Ele não me ensinaria a jogar os games da atualidade, não me zoaria por ler livros enormes de medicina, não me arrastaria para comprar roupas. A pior parte de perder alguém era quando a ficha caía. 

Havia um buraco no meu peito, algo estranho e doloroso demais. A dor chegava a ser física de tão potente. Cada cômodo daquela casa me lembrava de seus cabelos loiros, olhos cinzentos e sorriso sarcástico. Somente quando ele não estava mais lá, eu percebi que ele era a luz que iluminava a escuridão opressiva daquele lugar. Sem ele, a mansão era um lugar escuro e frio, o lugar cheio de dor e desesperança que nosso pai criou para nós. 

— Eu sinto muito. — Alessia disse se aproximando de mim. Olhei para o lado, só agora percebendo que estava parado frente a porta do loft de Luca. Minha tristeza me guiou até ali, mas eu não tive coragem para entrar. Os olhos de minha cunhada estavam inchados, seu rosto vermelho. Ela sempre estava impecável em suas roupas sofisticadas, mas naquele dia o moletom cinza e a camisa de Nico eram sua vestimenta, ressaltando o quão mal ela estava. 

— Eu também. — Acabei dizendo. Eu não tinha palavras. Não naquele momento. Ela havia perdido a mãe e o cunhado, e ela gostava dele. Se fosse eu no lugar de Luca, talvez ela não estivesse tão triste. Porra, eu queria que fosse eu no lugar de Luca. 

— Nico precisa de você. — Alessa continuou num sussurro embargado. — Ele precisa… 

— Porque você acha que sabe do que Nico precisa? — Eu sibilei. A raiva era muito melhor do que aquela tristeza fodida. Eu apreciava a raiva e Alessia era ótima em provoca-la. — Nosso irmão morreu, isso não é da sua conta, isso não é sobre você, não é a sua dor! 

INQUEBRÁVEL - Saga Inevitável: Livro 4.Onde histórias criam vida. Descubra agora