29. NINO.

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Ver Alessa depois de tanto tempo me deixou extasiado. Havíamos passado muito mais do que dois meses afastados no passado, mas agora era diferente. Ela era minha; não oficialmente, não publicamente, mas ainda assim, minha. Eu via isso em cada traço dela, em seu sorriso feliz, seus gestos, sua pele corada quando me pegava encarando. Alessa era a única que poderia me colocar de joelhos, para o bem ou para o mal. Eu havia experimentado da dor, da desolação, da impotência e desesperança, eu já havia me blindado contra tudo, ela era a única que poderia me fazer feliz… Ou me destruir. Se eu a perdesse, eu perderia tudo. Porque no fim das contas, Alessa Vacchiano era tudo. 

— Nino, você não tocou na comida. — Carisma disse arqueando as sobrancelhas e eu abri um sorriso de desculpas. Eu realmente não tinha nenhum apetite. 

— O balanço constante me enjoa. — Eu disse encolhendo os ombros. — Amanhã estarei melhor. 

Eu podia sentir os olhos de todos sobre mim, mas não levantei a cabeça, fingindo estar muito interessado no meu prato intocado de comida. Felizmente Alessa perguntou a Cinzia como estava indo a gravidez e eu fui esquecido. 

Mais tarde, depois que todos haviam ido dormir, eu caminhei pelo deque superior em busca de ar fresco. O mar estava revolto e o vento forte parecia querer me derrubar, mas eu não liguei quando me sentei na borda do deque e encarei o oceano furioso. Seria fácil simplesmente cair. Eu não sabia nadar bem e as ondas batiam futiosamente contra a embarcação. Com certeza eu me afogaria. Aquele pensamento me surpreendeu. Desde que eu conheci Alessa, não pensava mais em suicídio, mas agora tudo voltara. Segurei meu dedo mindinho em busca do meu anel, mas ele já não estava mais lá. Eu tinha o hábito de segura-lo quando precisava de uma âncora, quando precisava me lembrar de que tudo era real, de que eu estava vivo. 

— Você quer que eu prepare um chá? — Uma voz atrás de mim me fez pular e eu rapidamente me coloquei de pé. Carisma estava parada no deque, vestindo um longo roupão grosso. Seus cabelos escuros como os de Alessa balançavam no vento forte, mas ela não parecia incomodada. Sua expressão, como sempre, era gentil e amável. Uma verdadeira mãe. 

— Estou bem. — Tentei abrir um sorriso simpático, mas meus lábios tremeram e eu tinha certeza de que parecia mais uma careta. — Pensei que todos já estivessem dormindo. 

— É tarde, provavelmente estão. — Carisma sorriu preocupada. — Você pode me dizer se estiver passando por algo, sabe? 

Eu me surpreendi com sua sinceridade. Não sabia se Carisma era muito perceptiva ou se eu não estava escondendo bem meus sentimentos conflituosos, mas por um momento me perguntei como seria simplesmente desabafar. O que eu diria? Meu irmão gêmeo me magoou tanto que eu fiquei mal ao ponto de não conseguir comer por dias e quando voltei a comer simplesmente não conseguia me forçar a não vomitar depois? Eu estou tão fodidamente destruído que não consigo entender o que estou sentindo, que não consigo saber o que é real ou fruto da minha imaginação? Ou melhor: eu penso o tempo todo que não sou bom o suficiente para sua filha, que ela merece mais, que ela merece melhor? 

— Obrigado por… Eu não sei. — Eu ri amargamente. — Por se importar? 

Soou como uma pergunta, afinal, eu não tinha ideia do porque aquela mulher estava tentando me ajudar. 

— Vocês, meninos Parisi… Tão machucados. O mundo foi tão cruel com vocês. — Carisma murmurou com um suspiro, o rosto triste e os olhos brilhando em compaixão. Tive que engolir o bolo que se formou na minha garganta. Ela não tinha ideia do quão fodidamente cruel a vida havia sido conosco. Principalmente com Nico e eu. — Eu amo todos os meus genros como filhos. Eu só queria poder cuidar de todos vocês ao mesmo tempo, mas é difícil, vocês são teimosos. 

INQUEBRÁVEL - Saga Inevitável: Livro 4.Where stories live. Discover now