Desejos

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Marinette pensava que aquele seria seu fim. Haviam perdido a guerra, Ladybug e Chat Noir caíram e agora toda Paris estava desprotegida.
Por isso quando ouviu a frase dita por Hawk Moth agarrou as mãos de Adrien com força. Sentia um nervosismo enorme, Hawk Moth tinha os dois miraculous mais poderosos e poderia fazer qualquer coisa. E ela sabia que tudo tinha um preço e isso era apavorante.
As sombras começaram a fazer um círculo em volta deles e dos vilões, elas rugiam e grasnavam, porém não atacavam, apenas esperavam as ordens de seu mestre.
O homem pôs sua mão sobre seu miraculous e o arrancou o entregando para sua parceira.
Um brilho roxo emanou por todos os lados, fazendo todos os presentes ali desviarem os olhares. Quando o brilho cessou, Marinette sentiu mais uma vez a garganta seca, sufocou um grito ao ver a figura que se revelou diante deles. Era Gabriel Agreste.
Seu sogro era o maior terror de Paris, virou seu rosto rapidamente em direção ao seu namorado.
Sua face estava transtornada e abatida. Enquanto seus olhos verdes se escureciam preenchidos com um misto de sentimentos, tristeza, mágoa, decepção, raiva e ódio. Principalmente ódio. Sua expressão se endureceu e seu maxilar travou em fúria. O loiro apertou mais ainda sua mão com a da mestiça.
O olhar do jovem se encontrou com o de Gabriel, que deu um sorriso de desdém e colocou o anel que antes pertencia ao filho em seu dedo.
Outra luz forte surgiu desta vez verde revelando o kwami da destruição. Seu rosto estava apavorado. Olhou preocupado para Adrien que ainda possuía a mesma expressão de raiva.
– Plagg mostrar as garras! – O homem gritou e se transformou. As roupas de Chat Noir apareceram quase que instantâneamente, e a cena seria cômica se antes não fosse assustadora. Em suas orelhas colocou os brincos da criação e logo em seguida revelou Tikki com a mesma faceta de Plagg.
– Tikki, Plagg unificar!
Uma luz cegante se espalhou por cada canto de Paris, começando com o negro e passando por todas as cores até se tornar totalmente branca. Aos poucos o clarão diminuiu, os heróis olharam novamente espantados para Gabriel Agreste, ele usava um terno roxo, uma lista dourada zig zag ava envolta de seu terno por todos os lados, não usava nenhuma máscara deixando seu rosto a mostra - o mesmo parecia ter envelhecido em torno de 20 anos estava cansado e rugas apareceriam em sua face - provavelmente consequência de usar dois miraculous tão poderosos ao mesmo tempo, seus olhos estavam fechados, os pés não tocavam o chão o homem flutuava alguns centímetros acima envolvido em um brilho dourado.
O brilho diminuiu, até se extinguir completamente e os pés do Agreste finalmente tocaram o chão. Ele abriu os olhos lentamente, suas orbes cintilavam constantemente alternando a cor entre vermelho e preto.
Em sua frente havia um ser místico de cor acinzentada, sua expressão era séria e seus olhos eram brancos leitosos e julgadores.
– Eu sou Null, kwami do equilíbrio. – Sua voz retumbou por todos os cantos, ela era forte e parecia ser uma junção das vozes de Tikki e Plagg, sua voz causava ecos, como sussurros que repetiam a mesma coisa dita pela criatura. – Tu Gabriel Agreste, mestre de Nooroo e portador de seu miraculous e detentor de magia negra. O que desejas?
O designer olhou estupefato para o kwami, e respirou fundo. – Quero que minha esposa volte! 
Marinette se horrorizou, fitou novamente Adrien ao seu lado. A expressão zangada dele se desmanchou, passando para conflitiva.
O kwami manteve-se em silêncio o observando, parecia avaliar a alma de Gabriel. – Tens certeza de que és o que queres?
– Tenho.
Null levantou uma sobrancelha e seus olhos leitosos pareciam desacreditados. 
– Pois bem. Seu desejo és de fato peculiar, entretanto é o que o coração de vós clama. Considerei teu desejo, porém sabes que tudo tens um preço a se pagar.
O Agreste assentiu, seu semblante era calculista. Parecia aceitar as falas de Null abertamente.
– Para trazer quem tu amas de volta outro amor teu terás de assumir o lugar deste e como consequência, o véu da realidade terá de ser remodelado. Estás disposto a pagar tal preço?
Mayura se desconcertou, olhou abismada para o Agreste, estava perplexa. 
– Gabriel... – ela murmurou. – Não faça isso! Não vê o que terá de dar em troca.
– Fique quieta, Nathalie! – Ele rugiu e voltou a encarar Null. – Eu aceito sua proposta.
Null assentiu, juntou suas pequenas patinhas, começou a girar em seu próprio eixo e uma luz branca irradiou dele.
– Pare! 
Nathalie correu até Gabriel, porém o brilho se intensificou o que a forçou a olhar em outra direção.
Marinette olhou perplexa para Adrien que se mantinha calado. O pobre rapaz parecia viver uma batalha interna, o garoto olhou para a namorada. Os olhos deles tinham um verde escuro e opaco.
– Mari... – Ele sussurrou em um sopro.
A azulada sentiu algo se embrulhar no seu estômago. "Para trazer quem tu amas de volta outro amor teu terás de assumir o lugar deste."
Seus olhos começaram a lacrimejar, implorava para Deus e outras divindades para ela estar enganada.
– Não... Por favor não...
O menino deu um sorriso fraco e levou sua mão até o peito. Um calor desenfreado se apossou de seu corpo, era como ser queimado vivo, sua cabeça doía, sua visão estava turva e embaçada, qualquer barulho irritava seus sensíveis tímpanos e seu coração parecia levar pontadas constantemente. Apoiou suas mãos no chão para não tombar a frente. Deu um gemido de dor, respirar se tornava cada vez mais difícil, começou a suar ao ponto de seus fios de ouro grudarem em sua testa, seus braços fraquejaram e ele cairia no chão se Marinette não tivesse o segurado, a garota apoiou a cabeça dele em suas coxas, ela tirou delicadamente as madeixas loiras dele de seu rosto e passou seus dígitos por sua face. Se assustou ao notar que ele estava frio, tão gelado quanto um ser sem vida. Os lábios dele estavam roxos e tremiam pelo frio.
Marinette não suportou mais e deixou as lágrimas caírem desenfreadas, umedecendo sua face e embaçando sua visão. Deu um soluço, seu pesadelo estava a se tornar real. A Dupain - Cheng deveria saber, uma das primeiras coisas a aprender como guardiã era que não se podia fugir do destino. Ele ocorreria de uma forma ou de outra. Mas ainda assim, não podia se contentar, sentia uma parte de si mesma ser arrancada sem piedade, Adrien a levaria com ele, deixando somente traços do que um dia a jovem fora.
Soltou um churumingo antes de sussurrar o nome do garoto o chamando. O louro abriu seus olhos que até então estavam fechados em sua busca por ar, e encarou o céu nublado dos olhos da mestiça. Deu um sorriso verdadeiro, era gratificante e irônico, ter a presença dela ali como sua última visão. Mesmo com os olhos azuis molhados em lágrimas como um céu em tormenta, a face delicada e suja de fuligem e as roupas rasgadas e imundas de terra, Marinette jamais estivera tão linda quanto estava agora.
– Por que  está sorrindo seu gato estúpido? – Ela falou entre soluços e com a voz embargada.
– Apenas me perdi em sua beleza. – O loiro murmurou com dificuldade. Sua respiração se descontrolou com o esforço, seu peito subia e descia rapidamente.
– Não se esforce. 
A mestiça pegou sua bolsinha aos farrapos pendurada em seu ombro. Suas mãos tremiam pelo desespero. Mas estava decidida, não deixaria aquele ser o fim deles. Lidaria com as consequências mais tarde, afinal amar não era um crime. 
– Vou dar um jeito em tudo isso.
Retirou o objeto de dentro da bolsa, o colocou na palma da mão e o fitou. A coloração avermelhada se destacou perante os olhos de ambos. Adrien soltou um gemido de dor. 
– Mari não... – Ele sussurrou usando um de seus últimos esforços, atrás dos dois, Null parava de girar aos poucos concluindo o desejo demoníaco do Agreste pai. Estava surpreendido com a audácia da mestiça, mas deveria saber que ela tramava algo a aquela altura. Era arriscado, provavelmente um erro. Somente aquele pequeno objeto não bastaria para resolver tudo, iriam precisar de mais magia.
– Vou resolver tudo, Adrien. – A garota sorriu  esperançosa e limpou algumas pérolas que insistiam em derramar com a costa da mão. – Apenas me de sua posse.
O esmeraldino tentou protestar, era um plano suicida, mas observou novamente as íris dela, e mais uma vez se viu de mãos atadas e rendido. Ele também não queria que isso fosse um adeus, não queria que aquele fosse o fim. Maneou a cabeça afirmativamente, mesmo com a consciência pesada.
– Eu Adrien Agreste, passo a minha posse a ti Marinette Dupain-Cheng.  – Falou entre bufos de dor, trincou os dentes com força, seu corpo passou a tremer de frio e o calor pareceu aumentar e o sangue rugiu em suas veias como lava fervente.
Marinette soltou outro soluço enquanto acariciava os cabelos loiros e soltava murmúrios de que tudo ficaria bem. 
A dor aumentou. Foram 2, 3, 5, 10 segundos naquela tortura. E então veio a paz.
De repente, a dor parou, os barulhos não pareciam incomodar mais, pelo contrário estavam distantes como ecos. Seus olhos verdes perdiam o foco enquanto fitavam as safiras molhadas da garota logo acima, fazendo súplicas e jurando coisas já incompreensíveis. Sua respiração não era pesada, estava leve e fraca. Suas pálpebras pesaram, já não se sentia capaz de mantê-las abertas - tentou resistir, mas não conseguiu e lentamente foi cerrando seus olhos um dia tão vividos à medida que a escuridão o acolhia de braços abertos, para finalmente, descansar.

Remember meOnde histórias criam vida. Descubra agora