33|Comida de pato

3.1K 124 46
                                    

Melissa.

- Isso é mesmo necessário? - perguntei ao entrar no carro.

- Segundo a sua mãe, sim. - minha tia disse, colocando o cinto. - Odeio ser a irmã mais nova. - completou, dando partida no carro.

Olhei para ela com cara de quem não entendeu.

- Sempre que sua mãe quer algo de mim, ela usa todas as variações possíveis do argumento "Eu sou a irmã mais velha". É muito irritante.

É bem a cara da minha mãe fazer uma coisa dessas. Ela, meu pai, meu irmão e meus primos chegariam hoje do Brasil para a minha formatura, e também para o lançamento do meu livro. Fora a minha avó que estava vindo de Brighton. Nunca agradeci tanto pelo fato da casa da minha tia não ter capacidade para hospedar mais de uma pessoa, ou aquilo ia ficar parecendo uma pensão do início do século XVIII.

- A que horas ela disse que desembarcaria mesmo?

- Daqui a meia hora, eu acho.

- Por que temos que ir encontrar com eles no aeroporto sendo que eles terão que pegar um táxi e ir para o hotel? Tipo, com ou sem a gente.

- Não pergunte para mim, isso é coisa da sua mãe. - ela respondeu, suspirando em seguida. - Eu cresci com a sua mãe, e até hoje não entendo as manias dela.

- Acho que ninguém entende. - comentei. - E a minha avó?

- Deve chegar hoje à noite, talvez amanhã de manhã.

Seguimos para o aeroporto. Meu tio ficou em casa com a Lux, alegando que ela parecia meio doente. Mas na real, acho que ele só queria se livrar dos abraços esmagadores e dos discursos da minha mãe.

Ficamos mais de uma hora sentadas naquelas malditas cadeirinhas de aeroporto. Sério, é tão difícil colocar cadeiras mais confortáveis?

- Então... - começou minha tia, depois de longos minutos de silêncio entre nós duas. - Como vai a escola? - perguntou.

A questão é: mesmo ela sendo minha tia e morarmos na mesma casa, nós não conversávamos muito. Ela trabalhava como cabeleireira dos meninos, logo ficava fora quase tanto quanto eles, salvo uma vez ou outra em que a estilista deles assumia o serviço para que minha tia tivesse uma folga. Essa era uma dessas vezes, e semana que vem ela já embarcaria com os outros meninos para a turnê norte-americana.

- As aulas já acabaram. - eu disse, tentando não soar muito grossa. Ela não tinha como saber, chegara de Portugal no domingo.

Os meninos também estavam de volta, mas ainda trabalhariam por mais alguns dias nas gravações do filme e do novo clipe. Do sábado em diante, teriam a semana de folga, para logo depois embarcarem para o México.

- Já? Bem, então em que faculdade pensa em entrar?

- Ainda não sei. - confessei. Ainda não havia recebido resposta de nenhuma das universidades para as quais me inscrevi, e isso aumentava cada vez mais o meu nervosismo. - Não recebi nenhuma resposta.

- Ah, costuma demorar mesmo. Provavelmente chegarão perto do fim do mês, não se preocupe. - fez uma pausa. - E Harry?

Estranhei a pergunta. Ela passara as últimas semanas viajando pelo continente com ele, porque estava me perguntando isso?

- Hm, falei com ele ontem. Disse que está finalizando o novo clipe.

- Eu sei como ele está. Perguntei como estão vocês dois.

Essa pergunta foi mais estranha ainda. Por mais que minha tia ficasse de olho em nós dois a pedido da minha mãe, ela não costumava fazer esse tipo de pergunta.

One More Day (H.S)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora