19|Quais suas flores preferidas?

5.8K 300 158
                                    

Melissa.

Lembram quando eu disse "Na dúvida, culpe o pombo"? Acho que já está na hora de mudar essa frase para "Na dúvida, culpe a Melissa." Porque a culpa é sempre minha!

Como agora, que fui eu quem estragou tudo com o Peter. Afinal, que tipo de garota beija o amigo, depois vai embora sem dar nenhuma explicação?! E depois ignora todas as mensagens dele?

Boa, Melissa. Continue assim e você provavelmente vai acabar sozinha, velha, vivendo com 58 gatos e gorda por comer um pote de sorvete por dia para afogar as mágoas da vida.

E muito provavelmente, vou acabar sem amigos também, por que acho que vou matar todos. A começar pelo topetudo Malik, que passou a noite passada inteira fazendo insinuações sobre... ah, bem, vocês sabem.

Os outros meninos até tentaram me fazer falar, o que incluiu algumas sessões de tortura. Quando eu digo "sessões de tortura", leia "esconderam meu celular" "fizeram cócegas em mim até eu ficar completamente sem ar" e também a clássica chantagem, mas essa última não deu muito certo pois eles não tinham muito o que usar para fazer chantagem (só uma foto daquela noite que eu tentei cuidar do Harry bêbado, mas a foto estava horrível e nem dava para ver que era eu nela).

Nesse momento, eu estava sentada em minha cama, pensando se ainda havia tempo de fazer cara de cachorrinho sem dono para o Harry e pedir para ele ligar no meu colégio fingindo ser meu tio, dizendo que eu não poderia ir a escola hoje. E pelo resto da semana. Por alguma doença terrível e contagiosa, talvez. A última coisa que eu queria hoje era encontrar Peter depois do que eu fiz ontem.

Dramática, eu? Talvez.

Eu estava quase batendo na porta do quarto do Harry e preparando minha melhor cara de cachorrinho que caiu da mudança quando recebi uma mensagem. Olhei para a tela, pensando que era Peter. Quase aliviada, vi que era da Julia. Quer dizer, até ver o texto da mensagem.

"Melissa, nem pense em faltar hoje! Tenho uma coisa muito importante para te dizer!".

Ah, maldita. Ela me conhece tão bem que sabe que se dizendo isso, com certeza eu vou na escola. Ou eu vou, ou fico na curiosidade até amanhã. Sem muita escolha, fui me trocar logo.

Você, querida pessoa que está lendo isso, deve estar se perguntando se eu fugi do Peter o dia todo, e provavelmente está pensando em uma cena bem colegial americano de filmes, onde a menina esconde o rosto com o caderno, sai correndo, esbarra em todo mundo, cria um efeito dominó, e no fim o menino a encontra.

Na real, não foi bem assim que aconteceu.

O que aconteceu de verdade, foi que eu só vi o Peter duas vezes durante os intervalos de aula. Em uma vez, ele nem notou minha presença no ambiente. Na outra, ele me viu, mas logo depois virou o rosto e saiu andando, como se eu nunca tivesse existido.

E então, chegou a hora do intervalo. Eu não queria ir de jeito nenhum. Não depois que eu percebera o quão bravo/magoado/triste/seja lá o que for/ eu deixei Peter. Mas Julia (que ainda não me contou o que tinha de tão importante para dizer) e Duda praticamente me carregaram escada abaixo para chegarmos no pátio.

Quando chegamos no pátio, eu descobri o que estava acontecendo. Quer dizer, mais ou menos, porque dos criadores de ''Tudo é culpa da Melissa" vem aí o "Ninguém conta nada para a Melissa"!

E eu realmente espero que falar em si mesma na terceira pessoa não seja um sinal de que estou enlouquecendo, ou algo assim.

Peter estava sentado em um dos bancos com um violão, olhando ao redor, como se procurasse alguém.

Ele olhou na minha direção, mas eu preferi acreditar que estivesse olhando para alguma pessoa atrás de mim. Logo depois, começou a tocar.

Olhei para Julia e Duda, que estavam paradas logo ao meu lado. As duas sorriam, parecendo ansiosas. E era óbvio que elas sabiam de algo que eu não sabia.

One More Day (H.S)Where stories live. Discover now