12|Surpresa errada

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Melissa. 

Eu sou muito chata. Pode perguntar isso pra qualquer pessoa que me conheça há uma quantidade de tempo razoável.

Quando eu fico ansiosa, eu fico aproximadamente dez vezes mais chata que o normal. Eu não consigo dormir, fico andando pela casa sem parar, falo demais, incomodo todo mundo.

Na véspera do primeiro dia de aula, eu fiquei exatamente assim. Já havia acontecido a mesma coisa na semana anterior ao meu voo para Londres, meses atrás. Não que um primeiro dia de aula seja um acontecimento gigantesco, mas por algum motivo eu sempre fico ansiosa, mesmo quando eu ainda estudava no mesmo colégio de dez anos atrás.

Acabou que eu passei a noite inteira acordada lendo fanfictions, e vez ou outra indo até a cozinha pegar água, logo depois voltando correndo para o meu quarto e me abrigando na segurança do meu cobertor, que eu esperava que me protegesse de qualquer alma penada ou espírito maligno que estivesse atrás de mim. Se eu ainda estivesse no Brasil, minha mãe teria colocado a culpa de tudo isso no meu celular (segundo ela é tudo culpa dessas histórias de terror e suspense que eu leio), ameaçado jogá-lo na parede ou doá-lo para o mendigo da esquina.

Depois de tudo isso, eu ainda tive que organizar uma expedição paleontóloga para encontrar meu material escolar e meu uniforme, que haviam sido largados em algum lugar entre as várias camadas de coisas inúteis do meu quarto.

- Bom dia! – exclamou Duda, que estava me esperando em frente ao prédio da secretaria, ao lado de Julia.

- Eu não estou na minha cama dormindo, logo, não é um bom dia. – respondi.

- E daí? Eu também não estou com o Louis e nem por isso estou reclamando. – retrucou Julia. – Tenta fingir que não é chata, só por hoje.

- É verdade. – Duda concordou. - Agora vamos, temos que pegar nossos horários na secretaria.

Pegamos nossos horários e descobrimos que teríamos praticamente todas as aulas juntas, com três exceções.

- Qual a primeira aula de vocês? – perguntei. – A minha é Francês.

- Biologia.

- Matemática. – disse Duda.

Ótimo. Primeiro dia do ano letivo e eu já ia começar sozinha.

Fui até o meu armário (que era o mesmo de antes) e despachei lá todo o material que eu não ia usar agora. A última coisa que eu queria era ferrar ainda mais minha coluna andando por aí com quase três quilos de livros.

Esse era meu último ano de colégio, o que significa o dobro de livros, o dobro de provas e o dobro de trabalhos. E o triplo de matéria para aprender.

Nossa professora de Francês seria a mesma do ano passado. A sra. Lewis era uma velha cuja chatice provavelmente originava do fato dela estar solteira desde o acidente de Chernobyl. Ou da extinção dos dinossauros, vai saber. Ela usava uma sombra azul brilhante que eu acho que tinha o objetivo de realçar os olhos dela, e um coque preso tão forte que até deixava o rosto dela meio esticado.

- Bonjour les étudiants. – ela cumprimentou. Na nossa aula de francês, era proibido falar qualquer outro idioma, o que dificultava um pouco as coisas já que eu era péssima nessa disciplina.

Cadê o Harry quando eu preciso dele?

- Je suis Madame Lewis, et he serai le professeur de vous de tout au long de l'année scolaire.

Ela começou passando várias frases no quadro com palavras faltando para que nós completássemos. Segundo ela, era para relembrar a matéria que provavelmente todos nós com nossos “cérebros de ovelha” já esquecemos.

One More Day (H.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora