14|Minha mãe vira um alien

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Melissa.

- Pronto, essa foi a última. - eu digo, terminando de transferir o conteúdo do meu armário para as minhas malas.

- Perfeito. - Dê um jeito em todas essas… tralhas que você tem aí. - Ela olhou para meu mural de fotografias e do meu material espalhado na minha escrivaninha com certo desprezo, depois voltou a falar com uma animação irritante. - Preciso resolver uns detalhes da sua transferência e da matrícula na escola lá do Brasil. Qualquer coisa me chame.

 - Não te chamaria nem se tivesse um zumbi comendo meu cérebro e você tivesse a última arma capaz de matá-lo. Ou se você fosse a última barra de chocolate na Via Láctea inteira. - eu murmurei, enquanto ela juntava alguns papéis e se preparava pra sair do meu quarto.

- O que você disse?

- Nada. - respondi imediatamente.

Ela me lançou um olhar que era uma mistura de compaixão e pena. Isso significava que um discurso de “você não quer fazer algo mas tem que fazer porque eu estou mandando e sei o que é melhor para você” estava por vir.

- Olhe, filha. Eu sei que você não quer voltar pro Brasil, que é seu sonho estudar em Londres, mas no momento isso não é o melhor para você. Talvez agora você não perceba isso, mas terá que fazer o que eu digo. Sei que está chateada, mas vai passar.

- Isso não é justo. - reclamei, parecendo uma criança mimada. Eu não quero voltar pro Brasil, de jeito nenhum. Eu já havia feito de tudo para não precisar ir embora, desde chorar, pedir ajuda aos meus tios e até mandei um e-mail para o meu pai. Nessas situações, onde minha mãe surtava e queria mandar em mim, meu pai me ajudava. Mas ele não respondeu meu e-mail, o que significava que ele estava ocupado naquela semana e fazer contato com ele seria praticamente impossível.

- Se te anima, quando voltarmos eu deixo você decorar seu quarto do jeito que quiser. Lembra, você sempre quis pintar as paredes de azul.

- Não me anima.

Ela suspirou.

- Estou fazendo o possível, Melissa. Você podia colaborar um pouco.

- Claro, colaborar para estragar a minha vida.

- Pare de ser dramática. Termine de arrumar suas coisas. - e saiu, sem me dar a oportunidade de dizer mais nada.

Reprimi a vontade de chutar ou bater em alguma coisa, não ia diminuir a raiva e eu acabaria com alguma parte do corpo quebrada. 

Hoje fazia exatamente uma semana da discussão que acabou com a minha vida. Por incrível que pareça, minha mãe conseguira organizar tudo para que eu voltasse para o Brasil com ela, o único detalhe que faltava era minha transferência e histórico escolar.

Nosso voo seria amanhã à noite, e até agora minha mãe tem me mantido bem ocupada, acabei ficando sem chance de me despedir de todo mundo. Eu odeio despedidas, então não fiz questão disso. Duda reagiu bem mal a notícia, assim como a Julia. Os meninos também não gostaram, e até minha tia estava do meu lado, tentando convencer minha mãe a me deixar ficar.

Mas ninguém reagira tão mal quanto Harry.

De início, ele ficou chocado. Depois achou que fosse uma piadinha de mau gosto. Quando ele percebeu que eu estava falando sério… Bem, digamos que a visão de Harry irritado não é lá muito legal.

Eu já tinha feito de tudo, mas minha mãe parecia muito determinada em me levar de volta para aquele fim de mundo que ela chama de Brasil. (Sem ofensas porque também sou brasileira ) A essa altura, eu já tinha desistido de tentar falar com ela.

One More Day (H.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora