Tempo

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Dias depois

Anna e Mary estavam em uma cafeteria próxima ao Palácio de Buckingham. Haviam duas xícaras de um autêntico café cremoso e dois pedaços generosos de torta de banana sobre a mesa — o sabor preferido delas.

— Eu realmente gosto dele, mas não consigo confiar o suficiente. Tenho medo.

— Medo de amar? — Mary olhou para a melhor amiga e esperava somente a verdade dela.

— Medo de ser feliz — Anna olhou para o lado de fora e observou a chuva fina cair. Respirou fundo e soltou todo o ar dos pulmões. — Porque eu já senti essa felicidade antes e ela se transformou em dor com o tempo. Ainda dói aqui dentro — ela colocou a mão sobre o tórax e balançou a cabeça.

— Você sabe que não há nada de errado em ser feliz, não é?

— Eu sei... é tão difícil explicar.

— O que aconteceu para você ficar tão assim... indefinida?

— Ele roubou a minha identidade. Em partes me culpo por isso, porque aceitei muitas coisas no início e deixei tudo acontecer. Não sei mais quem eu sou — Anna começou a chorar. — Como posso amar alguém e querer que isso dê certo se não me sinto bem comigo mesma?

— Nunca passei por isso para dar uma resposta adequada, mas você começou sua vida do zero quando veio para cá. Veio uma mulher triste, que tentava recuperar o presente e o futuro que foram roubados... veio uma mulher corajosa e forte que não perdeu a sensibilidade mesmo diante dos dias mais escuros. Talvez nós nunca saibamos o que de fato aconteceu com você, porque deve ser realmente difícil se abrir assim... mas quero que entenda uma coisa: só você pode definir o que é o melhor para a sua vida. Só não viva cheia de arrependimentos. Isso corrói qualquer pessoa por dentro.

— Antes de parar tudo e vir para cá, eu me olhava no espelho e não conseguia me enxergar. Parte de mim se perdeu no caminho. Vou te dizer como decidi vir.

— Vá em frente. Seja corajosa — Mary a incentivou. — Sabe que estou aqui por você...

— Teve um dia em que tudo deu errado. Absolutamente tudo. Uma árvore precisa das raízes para que continue onde está, mas percebi que os meus vínculos foram cortados... um a um, até não restar praticamente nada. Então reconheci que os meus amigos se divertiam e viviam a vida... amando, realizando o que sonhavam... e era como se eu tivesse ficado para trás. Me senti completamente fracassada por estar tão sozinha e perdida. Cheguei a um ponto no qual só tinha a minha mãe. Então naquele dia eu só procurei uma passagem para Londres e vim dias depois. Não tinha nada... nenhuma novidade, nenhuma boa notícia, nenhum motivo para ficar além dela. Aquilo me machucava tanto... não me sentia mais em casa. Tudo me fazia lembrar o que causava dor. E você sabe... a dor emocional é sempre mais difícil de suportar...

— Então você já veio cogitando ficar?

— Não. Eu precisava dar um tempo de tudo... sequer imaginava como tudo aconteceria aqui e como eu viveria em uma cidade completamente diferente. Então eu me envolvi com o Mason, fiquei grávida e parece que estou criando mais raízes aqui. Fiz novas amizades, já até roubei doces da casa do Jorginho — ela riu. — Só sei que estou mais feliz agora. Parece que consegui colocar algumas peças do meu quebra-cabeças no lugar. Ainda faltam algumas coisas, mas me sinto cada vez mais capaz de lidar com tudo de um jeito bem melhor.

— Você tem um longo caminho pela frente. Encontrar-se é muito difícil, mas dá para ver a sua determinação. E roubar doces do Jorgi é a melhor coisa do mundo. Ele sempre reclama com todo mundo depois. Falando nisso... nosso amigo brasileiro disse que precisa conversar com você.

More Than One Night | Mason MountOnde as histórias ganham vida. Descobre agora