CAPÍTULO V ㅡ Demônio que eu conheço

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Kim Seokjin

Cheguei tarde em casa naquele dia. 

Peguei o último ônibus. Fazer parte da organização do colóquio estava me sugando as energias.

E até mesmo o dinheiro, considerando que eu estava passando mais tempo na faculdade do que em qualquer outro lugar ㅡ e consequentemente tendo que comprar fora todas as refeições.

Passar o dia na faculdade não era exatamente o problema. O problema era passar todo esse tempo obrigatoriamente socializando com inúmeras pessoas. E eram pouquíssimas as com quem eu tinha algum resquício de intimidade ou me sentia minimamente confortável.

Eu até conseguia fingir bem, afinal trabalhava lidando com pessoas, então precisava demonstrar uma certa sociabilidade.

Mas passar quase todas as horas do meu dia sendo solícito, respondendo chamados e toques insistentes no ombro, rindo de piadas que eu não achava graça, escutando fofocas íntimas sobre a vida de quem eu mal sabia o nome e não tinha o menor interesse em saber, ainda por cima sendo solicitado a opinar a respeito… chegava a ser agonizante às vezes.

Quase sempre.

No fim do dia eu só queria fugir para minha casa e mergulhar no meu silêncio. 

Cumprir todos os meus rituais diários, no meu tempo. Respirando de acordo com o meu ritmo e não ofegando em ansiedade por não saber qual dos cinco voluntários da minha equipe eu responderia primeiro, enquanto todos falavam comigo ao mesmo tempo.

Quando finalmente cheguei em casa, tirei meus sapatos e os alinhei ao lado esquerdo do tapete interno, em seguida, as meias. Dobradas, cada uma dentro do seu respectivo par do calçado. Como sempre fazia.

Liguei as luzes que iluminavam a sala de estar e a cozinha. Pendurei o chaveiro no porta-chaves. E, pisando no chão gelado apenas com as laterais externas dos pés descalços, segui até a área de serviço ㅡ onde estavam estendidas algumas roupas e minhas pantufas lavadas. 

Calcei as pantufas cor de doce de leite, já secas o suficiente, e finalmente pude pisar direito no chão.

Dei continuidade a tudo que precisava fazer antes de poder enfim deitar sobre a cama e me cobrir com as colchas quentes e macias que me abraçavam e me protegiam do mundo durante o sono.

Eu costumava ler alguma coisa antes de dormir. Mas estava tão cansado de trabalhar o cérebro que acabei pegando o celular e não saberia nem dizer para quê. 

Apenas me deixando levar pela alienação momentânea, abri o aplicativo de mensagens e cliquei na conversa de uma colega de turma. Uma das poucas com quem eu me sentia minimamente confortável para além da conveniência.

Ela havia me mandado um áudio. Já sabia que, com pessoas mais próximas e conversas mais íntimas, eu preferia receber mensagens de áudio. As de texto já me confundiram muito a respeito dos tons em que a pessoa estava falando e já houveram muitas interpretações erradas, então passei a preferir desse jeito.

Amigo, eu sei que você já deu sua resposta mais cedo, mas queria te pedir mais uma vez. Vamos ao encontro amanhã? Não vão todos da turma, só vão os legais, eu juro! Já falei quem vai. Eu prometo que vai ser legal. É só para distrair a cabeça um pouco. Esse é o nosso último ano, você nunca sai com a gente. Vamo, vai… por favorzinho. É importante ter você lá!

Já devia ser a quinta vez que ela me convidava. Àquela altura já era mais uma súplica do que um convite.

Eu nunca saía com eles porque eu não gostava de lugares com muita gente ou muito barulho. Bares, boates, festas, normalmente eram ambientes desconfortáveis para mim. 

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora