CAPÍTULO XLVII ㅡ Trívia: O Eremita no Espelho

61 7 54
                                    


Kim Seokjin





ㅡ Você poderia solicitar uma CIPTEA, já ouviu falar?

ㅡ Sim…

ㅡ Acredito que seria bom nesse momento, uma garantia de auxílio para você se sentir mais seguro e amparado nessa fase da sua vida. Já que o receio da falta de suporte lhe acompanha e causa certa ansiedade.

ㅡ É… ㅡ tentei não demonstrar a minha vontade de fugir daquele assunto ㅡ Eu me organizei uma vez pra solicitar, mas aí a rotina e os compromissos… acabei ficando sem tempo e adiando e tal. ㅡ Mentira, não solicitei porque não quis ㅡ Vou ver o que faço.

Prometi, sem muita disposição de realmente fazê-lo. Ela ainda insistiu mais um tanto na pauta, mas consegui desviar.

ㅡ E sobre o nosso foco das últimas sessões, o resgate dos seus pontos de conforto. Como tem sido o processo?

ㅡ Eu consegui pensar em algumas coisas, mas a primeira e mais forte lembrança é mesmo o Alabama. Minha mente sempre volta pra lá. Tenho percebido que visitar o abrigo não me fazia sentir apenas útil, me fazia sentir confortável também. Acolhido. Percebi que eu sinto… saudade. Das crianças, de algumas freiras, do jardim.

ㅡ Isso é bom, Kim. Isso é muito bom. Então, temos um ponto de conforto aqui?

ㅡ Parece que sim…

ㅡ O que você precisa fazer pra voltar a fazer as visitas?

ㅡ Precisaria entrar em contato com a administração de lá e… comprar passagem do ônibus, basicamente.

ㅡ São duas missões bem claras. Acha que é possível colocá-las como tarefas para essa próxima semana?

ㅡ Na verdade, eu estava pensando em ir neste domingo…

ㅡ Bom, isso é ótimo!

Ania parecia orgulhosa de mim, ela esboçava um sorriso terno e acolhedor ao me responder. Já estávamos em quase quatro meses de psicoterapia e sua forma de falar e colocações pontuais me faziam acreditar que havia algum avanço. Apesar de ainda sentir aquele buraco no meio do peito, havia algum avanço.

ㅡ E sobre sua vida social? Como está?

ㅡ Está bem.

ㅡ Mesmo?

ㅡ Você sempre faz essa cara descrente quando eu respondo essa pergunta. Não acredita em mim?

Ela riu pequeno, já tínhamos desenvolvido certa intimidade a ponto dela já conhecer bem minhas falas diretas e sem filtro.

ㅡ Eu acho que é um ponto que precisa de atenção. Mesmo que você goste de ficar sozinho, você também gosta de socializar. Então se faz necessário que equilibre os momentos.

ㅡ Mas eu dizer que está bem não é suficiente?

ㅡ Seokjin, você é o único paciente jovem que atendo nas sextas-feiras à noite.

ㅡ Eu não sou tão jovem assim…

ㅡ Você tem 26 anos, é claro que é jovem. Mas às vezes parece se esquecer disso.

Com 26 e toda a minha trajetória exaustiva de vida eu já sentia que estava chegando na terceira idade.

ㅡ Você está na flor da idade, tem muita vida nas mãos. E você merece viver essa vida de forma proveitosa e digna. Lembre-se disso.

Foi sua última colocação da sessão daquele dia.

Ania, querendo ou não, havia se tornado um dos meus pontos de conforto. Mas eu ainda não conseguia lhe expor isso diretamente, não queria que ela achasse que eu estava criando alguma espécie de dependência consigo ou com o nosso processo terapêutico. Eu não gostava da ideia de ter que depender de algo ou alguém para conseguir lidar com a vida. Queria poder lidar com tudo sozinho. Autossuficiente.

Demasiado Humano • OT7Where stories live. Discover now