5⁰ ATO · O Eterno Retorno

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Talvez o ser humano esteja fadado a este mundo.
Onde os ciclos parecem começar do zero, mas não passam de eternas reciclagens do que já aconteceu.
Em algum momento, algo nos chama de volta para o lugar de onde viemos.
Esse lugar pode ser um ou vários.
Pode ser alguém ou nós mesmos.
Mas sempre somos chamados de volta.

A força dinâmica conduz os instantes.
Precisamos andar para existir um passado.
Precisamos andar para existir um presente.
E é se movendo entre os instantes que se constrói um futuro.

Movimento e repetição.

Eterno retorno.




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CAPÍTULO XXXIX ㅡ Meu Amigo da Gaita

Kim Taehyung






Minha vida parecia estar de cabeça para baixo. Eu sentia como se todas as certezas e zonas confortáveis que me asseguraram nos anos anteriores estivessem se diluindo e me fazendo enxergar que não passavam de uma ilusão.

Talvez Jimin estivesse certo, eu havia construído uma muralha ao redor de mim mesmo na intenção de me proteger dos perigos do mundo, mas ao invés de proteção eu recebia ainda mais ausência. E se tinha algo do qual eu conhecia bem, era a ausência. Ela foi o meu principal algoz. Sempre um vazio do meu lado. Sempre um vazio no meu peito. Sempre um vazio.

Mas, como se tornou difícil admitir.

Na intenção de legitimar meus motivos, meus tão dolorosos motivos, eu não quis aceitar que minha tentativa de autoproteção poderia ser falha. Poderia me trazer ainda mais vazio, me afundar ainda mais na minha falta.

Era tão difícil admitir. Mas eu tinha me perdido ao invés de me encontrado como tanto tentei me convencer a acreditar.

Tudo se tornou tão rarefeito, tão frágil e sem solidez quando comecei a me questionar o que era a vida que eu levava, para onde estava indo e quem eu era.

O ponto de partida disso tudo tinha um nome e um sobrenome. E até uma data.

Kim Namjoon, 5 de setembro de 2018.

Lidar com a possibilidade de perder Namjoon me virou do avesso. Eu não era capaz de nomear tudo que senti.

Depois que todo aquele tormento passou, vieram as sequelas. Familiares sequelas que me arrebataram profundamente, mas não de um jeito novo. De um jeito que eu já conhecia bem. Me senti uma criança completamente desprovida de amparo, sem teto, sem comida. E o quanto isso me assustou eu jamais conseguirei mensurar. Mas algo me assustou ainda mais.

Tê-lo de volta.

Eu nunca tinha chegado nessa parte. Eu só sabia perder. Não sabia ganhar de volta.

Perceber o quão frágil eu era no meio de tudo isso me fez entender que talvez aquela criança rejeitada que fui ainda não tivesse crescido.

De repente eu não sabia mais lidar com nada. Não sabia se queria frequentar os lugares que costumava frequentar, nem ver os amigos que costumava ver, fazer as coisas que costumavam preencher os meus dias. Eu não sabia mais responder mensagens, atender ligações. Eu não sabia mais atravessar a rua, contar o troco do pão.

E para piorar, no olho desse furacão ㅡ bem no meio do peito ㅡ eu me apaixonei.

ㅡ Você vai encontrar com o pessoal hoje?

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora