CAPÍTULO XXXIII ㅡ Descontrole

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Aviso de gatilho: Descrição de crise de meltdown.

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Kim Seokjin




ㅡ Urgente?

Sim, ele está machucado! Não posso deixar a portaria sozinha, você pode descer para ajudá-lo? Ele quer subir. Disse que não quer ir até um hospital.

ㅡ Hospital?! E-eu já tô indo!

Desliguei o interfone e contemplei alguns segundos de pane no meu sistema. Sem reação alguma. A voz do porteiro estava trêmula e ele gaguejava nervoso, não soube me explicar direito o que estava acontecendo. Assim que acordei do transe, corri até o meu quarto em busca de um casaco para vestir ㅡ o dia estava frio e o aquecedor do apartamento não funcionava da porta para fora ㅡ depois calcei minhas sandálias, de meia mesmo, e corri para o elevador, que estava no décimo terceiro andar. Demorou nem trinta segundos para que eu perdesse a paciência e corresse em direção às escadas. Afinal, como me foi dito, era urgente. Eu precisava ser rápido.

Quase esbaforido de cansaço pelo leve sedentarismo que me consumia, cheguei até o térreo do prédio e olhei imediatamente para a cabine do porteiro à procura dele. O senhor calvo de uniforme azul apontou para a pequena fileira de assentos do outro lado do hall de entrada, apressado.

E lá estava, com a cabeça baixa. De longe pude ver, sua camisa estava imunda e cheia de pequenos rasgos. Seus cabelos esgrouvinhados. Ele estava sem os óculos. Conforme fui me aproximando, notei que suas pernas continham ferimentos frescos, ainda manchados de sangue. Ele estava encolhido no banco, os pés cruzados no chão e as mãos não paravam de roer a ponta dos dedos uma da outra com as unhas, em um movimento inquieto, ansioso. Ao mesmo tempo, ele parecia desligado.

Dei algumas passadas lentas em choque até cair em mim e correr em sua direção sem medir meus passos. Eu já não era capaz de pensar direito.

ㅡ Ei… ei! O que… houve?! Joonie… ㅡ O olhei dos pés a cabeça conferindo os machucados visíveis, sem saber o que fazer com minhas mãos ㅡ O que foi que aconteceu? Meu deus, o que houve com você?

Quis muito chorar quando o vi, mas me contive. Não fazia ideia do que estava acontecendo, precisava manter o controle.

Mas aí ele levantou a cabeça, letárgico e fraco, e encarou os meus olhos aflitos. Havia um brilho opaco nos seus. Denso, pesado demais. Estavam molhados com uma poça quase sólida, cristalizada. Um olhar sanguinário, ao mesmo tempo tão dolorosamente machucado. Uma mancha arroxeada cercava suas pálpebras e a maçã direita do rosto.

Nessa hora, no exato segundo em que esses olhos tão poluídos e ilegivelmente carregados se bateram contra os meus, eu não pude mais conter minhas lágrimas.

Ele também não.

ㅡ Me leva daqui? Por favor.

Sua voz rouca saiu com certa dificuldade, arranhando a garganta.

Assenti sem hesitar e o ajudei a levantar para irmos até o elevador, que por um milagre já estava com a porta aberta e vazio dessa vez. Ele gemeu baixinho de dor periodicamente durante todo o caminho até o meu apartamento.

Apesar de parecer tão machucado e um tanto aéreo, sua postura era dura, impenetrável. Não havia serenidade alguma em seu silêncio, mas ele parecia inabalável. Aquilo me assustou um pouco.

Soava tão resistente.

Entramos no apartamento e ele quis ir direto para o banheiro, contrariando minha sugestão de sentá-lo no sofá, que ficava mais perto.

Demasiado Humano • OT7Where stories live. Discover now