CAPÍTULO XII ㅡ Ensejo do Acaso

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Kim Seokjin

Minha garganta estava ardendo.

Meus olhos estavam inchados e pesados de tantas lágrimas reprimidas.

Minhas mãos tremiam. Uma enrolando uma mecha de cabelo específica, sistematicamente. A outra dedilhando numericamente meu joelho, acompanhando a contagem de sempre até cem.

Eu nunca conseguia chegar até cem.

A gritaria comum da quadra poliesportiva atingia meus ouvidos, distante. Estava longe, mas ainda podia ouvir.

Escutei passos e vozes entrando no banheiro e silenciei a contagem, que já fazia em voz baixa. Passei a contar mentalmente, mas assim não ajudava muito.

Era mais fácil me perder se ficasse só na minha mente.

O que parecia ser um grupo de amigos, se demorou um pouco dentro do banheiro. Não sei quanto, mas o suficiente para minha cabeça ensaiar explodir por ter que engolir minha própria voz enquanto contava.

Eu precisava contar escutando minha própria voz.

Eles saíram e consegui respirar fundo antes de voltar a enumerar em voz alta. Mas me perdi e precisei recomeçar do zero.

ㅡ Um, dois, três, quatro ㅡ recomecei dedilhando os dedos uns nos outros.

Era horrível fugir para respirar e só ter um cubículo claustrofóbico disponível para fazer isso. Acabava passando mais tempo do que gostaria na tentativa.

Meu celular vibrou no bolso da calça verde de alfaiataria. Me levantei da posição de cócoras que estava sobre a tampa do vaso sanitário para pegá-lo, mas minhas mãos estavam ocupadas. Se eu interrompesse o fluxo mais uma vez teria que contar do zero de novo.

Mas eu nunca chegava mesmo até o cem.

Kim?

ㅡ Quarenta e dois, quarenta e três, quarenta e quatro...

Kim, amigo, onde você está? Me deixa ir até você!

ㅡ Diz o que você quer, por favor. Quarenta e oito, quarenta e nove...

Só liguei porque fiquei preocupada. Você sumiu.

ㅡ Está tudo bem. Quarenta e... quarenta...

Cinquenta.

ㅡ Obrigado. Cinquenta e um, cinquenta e dois...

Judy não entendia nem sabia muito bem o que fazer para lidar com minhas crises de sobrecarga. Mas ela tentava. E depois de quatro anos, acabou aprendendo do jeito dela.

Aprendeu que não precisava entender tudo para me dar suporte quando eu precisava.

Não consegui concluir a contagem, mais uma vez. Ela acabou me distraindo pela ligação até conseguir me convencer a dizer em qual banheiro eu estava e ir até mim. O intervalo estava acabando. Logo começaria a próxima aula e ela sabia que eu não me perdoaria se a perdesse.

Estava faminto. O horário corrido não me permitiu tempo para comer sozinho antes das primeiras aulas e eu não gostava muito de comer no horário convencional do intervalo, em meio a todos os outros alunos.

Ainda me tremia um pouco quando voltamos para a sala depois de eu ter lavado o rosto quatro vezes e passado colírio nos olhos para tentar disfarçar os resquícios da crise, mas de qualquer forma, não consegui evitar os olhares afiados dos colegas de turma e até mesmo do professor.

Mais um dia normal.

Fomos liberados mais cedo para assistir uma palestra no auditório principal sobre alguma campanha que os alunos de psicologia estavam organizando. Todas as turmas do nosso setor foram liberadas para isso, mas a maioria dos alunos foi embora e nem passou perto do auditório.

Demasiado Humano • OT7Where stories live. Discover now