CAPÍTULO VI ㅡ Há Sempre Um Raio De Sol Em Meu Coração

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Min Yoongi

Ainda estava tentando entender o que havia acontecido mais cedo.

ㅡ R$19,90 meio quilo de manteiga?! ㅡ pensei em voz alta com um pote do produto em uma mão enquanto a outra segurava o cabo de manuseio do carrinho de compras.

Estava tudo ficando mais caro e comecei a sentir uma leve preocupação. Se eu não fosse selecionado naquela entrevista, talvez precisasse ir embora da cidade de Lavínia. Não passei em nenhuma de todas as que tentei nos meses anteriores.

Estava sobrevivendo de freelances. Os quais não estavam faltando, pelo menos. Mas ainda assim, era cansativo demais não ter algo fixo.

Também já estava cansado de não ter uma rotina. Todo dia era uma jornada diferente. Aquilo não era para mim. Eu precisava de alguma constância.

Passei várias vezes no corredor dos doces, namorando uma barra de chocolate. Mas custava quase dez reais e tinha certeza que não duraria nem dois dias comigo.

Precisava economizar até conseguir um emprego de verdade e poder relaxar com as contas.

Eu me contentava com pouco. Sempre me contentei. Nunca tive sonhos mirabolantes e inalcançáveis. Meu sonho, nas últimas vezes que me lembrava de ter sonhado, era ter uma moradia pequena e confortável em uma localização tranquila. Pessoas e vivências que me fizessem bem. Conforto e amor. O mínimo para sobreviver.

Não seria tão difícil de realizar, pelo menos parte desse sonho, se não tivesse o maldito dinheiro no meio.

Ou melhor, a ausência dele.

Na fila dos quinze itens ㅡ que estava relativamente grande, mas ainda era a menor de todos os guichês ㅡ acabei viajando em meus pensamentos. Mais uma vez me lembrei do que houve mais cedo na parada de ônibus, quando saí da entrevista.

Eu não costumava ficar doente, apesar da pouca grana sempre busquei me cuidar, mesmo com os vícios. Então, sentir uma pontada brutal no peito e uma sensação de desmaio tão de repente enquanto esperava o ônibus me pegou de surpresa.

Aconteceu completamente do nada. Eu estava me sentindo normal até então. Foi realmente estranho. Tão estranho quanto a demora do meu ônibus, que sempre passava nos horários certos e dessa vez havia atrasado quase uma hora.

Tive que pegar outro, inclusive. De uma linha vizinha que parava mais distante. Precisei andar mais de dez quadras para chegar em casa.

ㅡ R$104,75.

ㅡ Puxa vida, cento e quatro? ㅡ Eu só tinha cem reais para aquela compra do mês. Precisaria abrir mão de alguma coisa. ㅡ Vou deixar essa bandeja de queijo, pode ser?

ㅡ Pode sim. Fica R$99,05.

ㅡ Agora está dentro do orçamento ㅡ comentei com um sorriso sem graça e vi a moça do caixa me responder com um sorriso um pouco mais consistente que o meu.

ㅡ Está ficando apertado, não é? Cada dia pior.

ㅡ Nossa, demais!

Uma vez, alguém que esteve comigo em um momento como esse me disse que eu parecia um senhor de idade conversando com funcionários de supermercado ou desconhecidos em filas.

Desde pequeno escutei meu pai dizer que eu tinha espírito de velho. E que isso poderia me levar ao declínio cedo demais porque as pessoas iriam me achar chato e a vida precisava de gente divertida.

Mas eu me divertia.

Geralmente sozinho.

Mas obviamente ele não tinha como saber disso, já que estava sempre ocupado demais se preocupando com a própria diversão. A qual nunca incluía minha presença.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora