01: um achado

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A vida de Harry Styles não era fácil, mas até sua miséria apresentava dias melhores e piores. Aquele era um dos piores.

O rapaz tinha perdido a noção do tempo no dia anterior e acabou chegando muito tarde no abrigo em que dormia às vezes, o que significa que passou a noite na calçada de uma rua qualquer.

Isso já era ruim o bastante por si só, adormecer ao relento era desconfortável e perigoso, mas pior ainda era ser acordado com vassouradas pelo dono da loja em que ficava a marquise que ele usou para se abrigar, mesmo que apenas um pouco.

Ele já estava acostumado, vivia daquele jeito há pelo menos dois anos se suas contas estivessem certas, mas não deixava de ser degradante.

As expulsões agressivas, os olhares tortos, as mudanças de calçada quando ele se aproximava, tudo aquilo tirava aos pouquinhos pedacinhos da sua alma.

Era comum que escutasse pessoas o julgando, falando sobre como ele estava naquela situação porque não tinha se esforçado o suficiente, mas a meritocracia é uma mentira e ele simplesmente não teve oportunidade de viver de qualquer outra forma.

Harry perdeu seus pais quando ainda era uma criança. Estavam todos indo comemorar seu aniversário de seis anos quando um motorista de caminhão dormiu ao volante e destruiu o carro da família Styles.

Anne e Desmond não tiveram chance, morreram na hora. Gemma, sua irmã mais velha, resistiu um pouco mais, mas se foi dois dias depois, deixando o pequeno menino sozinho no mundo.

Na falta de parentes próximos para o acolherem, ele foi transferido para um orfanato humilde de Londres. Nunca foi maltratado, mas também não conhecia a sensação de ser amado.

As funcionárias faziam o possível para proporcionar uma vida digna para as crianças que ali moravam com o pouco incentivo financeiro que recebiam do governo, mas isso não supria a necessidade por afeto.

Desse jeito, os anos se passaram. No seu aniversário de dezoito anos, Harry foi informado de que não poderia mais continuar ali. Não era maldade, era apenas uma das muitas injustiças do sistema desigual que governa o mundo.

E foi assim, com três mudas de roupa e cem libras no bolso, que ele conheceu o mundo por si mesmo pela primeira vez.

Tentou arrumar um trabalho, mas sua educação tinha sido escassa e o país enfrentava uma crise. Os empregadores sempre davam preferência para os candidatos mais estudados e com experiência, o que o deixou para trás.

Não demorou para o dinheiro acabar e o desespero crescer. Um mês depois, ele passou sua primeira noite na rua.

Com medo e tristeza enchendo seu coração, um jovem Harry juntou as roupas que tinha e as enrolou para formar um travesseiro e se deitou em uma calçada movimentada da cidade. Imaginou que, com tantas pessoas passando, o risco que corria era menor.

Desde então, isso virou sua rotina. Se as oportunidades não surgiam quando ele ainda tinha alguma dignidade, depois de se ver sem um teto elas sumiram completamente.

Nesse meio tempo, conheceu o abrigo em que passava suas noites de vez em quando. O lugar era quentinho e distribuía comida, mas também era muito disputado.

Todo dia, eles abriam as portas às 18:00 e apenas as primeiras duzentas pessoas podiam passar a noite lá. É de se imaginar que os números não batiam e muitas ficavam do lado de fora, entregues à sua própria sorte.

Para conseguir uns trocados, Harry fazia literalmente qualquer coisa. Carregava compras, lavava carros, vendia doces em coletivos. A única coisa que se recusava a fazer era vender seu corpo, mesmo que conhecesse muitas pessoas que não tiveram escolha.

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