20: um natal mágico

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Sentado ao lado de Louis, com uma mesa farta a sua frente e cercado por pessoas que o acolheram sem pensar duas vezes, Harry estava - pela primeira vez desde que conseguia se lembrar - conhecendo o verdadeiro significado do natal. Eles tinham ceias no orfanato, mas nada tão especial quanto o que ele vinha experimentando ao lado da família Tomlinson nas últimas semanas.

O clima alegre que apenas as festas de fim de ano eram capazes de proporcionar começou a se espalhar ainda no início de dezembro, quando o cacheado foi convidado para ajudar com a decoração da grande árvore que era instalada anualmente na sala daquela mesma mansão.

Ele negou a oferta num primeiro momento, querendo a todo custo evitar a presença da caçula do clã, mas acabou aceitando quando descobriu que ela passaria os próximos dois meses em uma série de viagens de trabalho. Com isso em mente, se permitiu ficar animado para participar de uma atividade tão tradicional pela primeira vez em sua vida - tirando, é claro, o curto período que passou ao lado dos pais biológicos, do que não se lembrava muito bem.

Nos dias seguintes, e com o namorado o fazendo companhia, foi apresentado a todos os costumes natalinos nos quais se podia pensar. Decorou biscoitos, pendurou meias, fez compras em um shopping lotado e até patinou no gelo. Louis não tinha dito isso em voz alta, mas Harry sabia que o mais velho estava se esforçando para que criasse memórias especiais e era grato por isso.

Quando a véspera de natal finalmente chegou, trouxe com ela outra ocasião muito especial. Para o cacheado, o nascimento de Tomlinson era muito mais importante do que qualquer feriado e foi sua vez de fazer surpresas. Ele não tinha o mesmo orçamento que seu companheiro, mas certamente compensou com dedicação e carinho.

A pedido do chef, haviam passado a noite na casa da família Tomlinson e, ao nascer do sol, Styles se juntou a Jay na cozinha para preparar um café de amanhã especial para o aniversariante - que foi servido na cama. Pelo resto do dia, se colocou à disposição para realizar os desejos do mais velho, que, em sua maioria, envolviam chamegos embaixo das cobertas e filmes chatos passando na televisão. Ele não entendia o apelo de histórias que se resumiam a explosões e lutas coreografadas, mas, em homenagem à ocasião, os assistiu como se estivesse adorando.

Perto das 18:00, expulsaram a névoa de preguiça que os tinha cercado nas últimas horas e começaram a se aprontar para a ceia, também preparada por Johannah. Na maioria das casas, a comemoração aconteceria apenas no dia seguinte, mas não na dos Tomlinson. Eles teriam, sim, uma festa para cerca de trinta pessoas na data apropriada e, exatamente por isso, costumavam fazer algo um pouco menor na véspera do feriado de fato, uma celebração apenas para a família da qual, felizmente, Harry agora fazia parte.

– Certo, eu quero dizer algumas palavras - Mark se levantou com uma taça na mão, dando de ombros para a esposa quando ela negou com a cabeça enquanto ria baixinho - Eu faço isso todo ano, querida, você já deveria ter se acostumado.

– Eu faço isso todo ano, querido, você já deveria ter se acostumado - ela repetiu em tom de brincadeira.

– Cachinhos, eles fazem isso todo ano, acostume-se - Louis provocou usando o namorado, que sorriu grande e deixou um beijo em sua bochecha.

– Como eu dizia - o homem mais velho retomou a atenção do pequeno grupo - Eu espero que vocês saibam o quanto meu coração se enche de gratidão por mais doze meses passados ao lado de uma família tão incrível e, agora, um pouco maior - olhou com carinho para Harry, que sentiu seus olhos se encherem com lágrimas ao ser incluído - Nada na vida é tão importante quanto isso que nós temos e eu espero ser sortudo o suficiente para repetir essas mesmas palavras no próximo natal. Louis, meu filho, tenho orgulho da forma com que você continua escolhendo viver a sua vida e te ver feliz ao lado de uma pessoa tão incrível, que eu amo como amo você, é tudo que um pai poderia querer. Um brinde a isso, ao amor que nos cerca e continuará nos cercando se formos merecedores dele.

Batendo suas taças umas nas outras, todos ecoaram os desejos de Mark e voltaram ao jantar, que estava absolutamente delicioso. Após a sobremesa, se reuniram ao redor da árvore para uma troca de presentes e Harry não pôde evitar chorar quando se deu conta de que seu nome estava escrito em tantos pacotes quanto o de Louis e o de Charlotte, que não estava no local, mas ainda era considerada. O cacheado ainda estava emocionado com o cuidado que recebia quando entregou seus próprios embrulhos.

– Eu não tenho lembranças de viver uma noite como essa - disse antes que os outros pudessem abrir os pacotes que haviam recebido - Não sei como eram os natais com os meus pais biológicos, não sei se tínhamos tradições e nem se eu ansiava por coisas fantasiosas como o papai noel. No orfanato, os adultos faziam o possível para que nos sentíssemos especiais, mas nós éramos muitas crianças e não havia um orçamento extra para coisas como presentes ou uma ceia. Na rua - riu baixinho - Bom, na rua, eu costumava descobrir que era natal quando notava as refeições especiais sendo servidas em restaurantes ou, se fosse sortudo, quando era beneficiado por pessoas boas o bastante para ajudar quem precisa.

"Nem nos meus maiores sonhos, os que eu escondia no fundo do meu coração, algo como o que eu vivi nas últimas semanas seria possível e isso é tudo graças a vocês. Mark, que me deu uma chance que poucas pessoas dariam, Jay, que aceitou receber um completo estranho dentro de casa e o tratou como um membro da família, e Louis, que me ensinou o que é amar verdadeiramente. Um dia eu espero ser capaz de retribuir tudo isso, mas, por enquanto, eu espero que vocês gostem dessas lembranças e saibam o quão importantes são para mim."

– Obrigada, querido - Johannah se levantou para que pudesse abraçá-lo - Eu tenho três filhos agora, espero que você saiba disso.

– Eu ganhei muito mais que o meu dinheiro de volta no dia em que nos conhecemos - o mais velho disse após seguir o exemplo da esposa - Tudo aconteceu como deveria, estava escrito nas estrelas.

Harry não tinha muita fé, mas acreditava naquelas palavras. Enquanto assistia seus sogros abrirem os presentes que escolheu com tanto cuidado e genuinamente o agradecerem por eles, pensou que seu destino era estar ali, entre aquelas pessoas, experimentando a alegria pura que só preenche os seres humanos que acharam o seu lugar no mundo.

Poucos minutos depois, com o aval de Jay e Mark, o cacheado tomou a mão do namorado e o levou para o andar de cima, onde tinha guardado o pacote destinado ao chef. Não era nada demais - entre as contas de casa e as mensalidades da faculdade, não tinha condições de esbanjar - mas havia dedicado seu tempo para pensar e fazer algo legal para o mais velho e esperava que isso fosse apreciado.

– Certo, é uma bobagem - comentou um pouco tímido por já ter recebido um par de tênis, um anel lindo e alguns itens de papelaria que vinha namorando há meses - E é um pouco para nós dois, mas eu acho que você vai gostar.

Com a animação de uma criança, Louis tomou a embalagem que o mais novo tinha em mãos e rasgou o seu papel de presente, arregalando os olhos brilhantes quando se deu conta do que havia recebido. Eram dois aventais brancos, simples se não fosse pela personalização que tinha sido feita em ambos.

Em um deles, o maior, se lia a frase "estou com o chef". No outro, um pouco menor, as palavras "eu sou o chef" estavam escritas. Harry havia cuidado disso pessoalmente, usando uma tinta especial para a parte escrita e também para desenhar alguns corações aqui e ali. Era clichê e um pouco brega, mas esses eram eles.

– Eu pensei que poderíamos usar nas aulas de culinária - explicou com um sorriso nervoso, se referindo ao tempo que tiravam para cozinhar juntos pelo menos uma vez na semana - É meio ridículo, mas...

– Eu amei - Louis foi sincero - Obrigado, cachinhos, foi o melhor presente que eu recebi esse ano.

– Lou, seu pai acabou de te dar um rolex - o cacheado retrucou enquanto revirava os olhos.

– Não importa, eu amei isso - insistiu - Vamos usar amanhã mesmo, eu posso te ensinar a fazer rabanadas para o café da manhã.

– Parece bom - concordou satisfeito ao perceber que havia verdadeiramente agradado - E Lou, o que eu disse lá embaixo é a verdade, obrigado por ter entrado na minha e ter me escolhido para estar ao seu lado.

– Eu não escolhi, meu amor - se aproximou o bastante para acariciar uma das suas bochechas - Estava perdido quando coloquei os olhos em você pela primeira vez, foi impossível não te amar.

E era verdade. Mais do que uma decisão racional tomada por duas pessoas, o sentimento compartilhado por Louis e Harry beirava a predestinação. Eles haviam nascido para caminhar juntos e fariam isso pelo resto das suas vidas.

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