21: um aniversário memorável

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Para Harry, aniversários sempre foram como bombas-relógio. Cada vez mais velho, cada vez menos interessante para os casais que visitavam o orfanato que foi sua casa durante a maior parte da sua vida, cada vez mais perto de ver a pouca estrutura que tinha explodir do dia para a noite. Completar uma nova idade se assemelhava a observar a areia escorrer dentro de uma ampulheta, era um lembrete alto e claro de que seu tempo estava acabando.

Nas ruas, ele passou a ignorar a data. Em parte por acidente, já que passava semanas sem chegar perto de um calendário, e em parte propositalmente, ciente de que não haviam realmente motivos para comemorar sua existência. Estava respirando, sim, mas não chegava nem perto de estar vivo.

Teria continuado longe de celebrações se tivesse uma escolha, mas nenhum dos seus amigos estava disposto a lhe fazer companhia no trem da indiferença. Ao invés disso, quando - graças a uma ficha universitária esquecida em cima da mesa na época das matrículas - Niall descobriu o dia exato em que o cacheado havia nascido, ele transformou em seu desafio pessoal garantir que primeiro de fevereiro passasse a ser memorável por todos os motivos certos.

Louis, é claro, embarcou na aventura. Depois de semanas de chantagem com beijos e expressões tristonhas, conseguiu permissão para dar uma pequena festa em homenagem ao namorado. Ainda era o dia de Harry e por isso manteria as coisas simples - como sabia que ele iria preferir - mas isso não as faria menos especiais.

Lembrando de como o mais novo estava feliz nos dias que passaram na praia, decidiu que uma viagem de fim de semana seria a ideia perfeita. Para que todos que amavam Styles pudessem comparecer, fechou o restaurante como se o nascimento do seu garoto fosse um feriado nacional - para ele, realmente era - e convenceu sua mãe a deixar o comando de sua própria cozinha por alguns dias. Com isso, no fim da tarde de sexta-feira, três carros repletos de risadas e decorações de festa estacionaram em frente a casa de verão dos Tomlinson.

As temperaturas ainda não estavam propícias para banhos de mar, mas apenas a proximidade com o oceano foi capaz de fazer o cacheado se iluminar. O grupo fez uma fogueira no quintal naquela noite e, entre s'mores e cantorias desafinadas, ele já tinha certeza de que jamais veria seu aniversário com a mesma lupa de melancolia que costumava usar durante o seu crescimento.

No sábado, dia em que completou vinte e um anos de idade, foi acordado com muito carinho e o cheiro típico do chocolate quente que só seu namorado era capaz de fazer. Tomaram café da manhã juntos antes que o mais novo pudesse ser parabenizado por todos os outros e então expulso da casa por algumas horas - motivos decorativos, eles alegaram.

Louis o acompanhou até a cidadezinha mais próxima e o distraiu com compras de quinquilharias por algumas horas, o levando de volta um pouco depois de pararem para almoçar em um restaurante à beira-mar. Quando retornou, Styles foi surpreendido com balões por todos os lados, além de duas grandes faixas e uma mesa repleta de doces e salgados. Ele sabia que aquilo estava sendo preparado, não havia segredo sobre isso, mas nunca deixaria de se assombrar com as demonstrações de afeto - grandes ou pequenas - que recebia daquele grupo de pessoas.

Pelo resto da tarde, se divertiu como nunca antes. Abriu um por um os presentes que havia ganhado e riu quando Taylor reclamou da vida de solteira ser mais cara, já que todos os outros eram casais e tinham escolhido o que comprar juntos. Dançou com Selena e Zayn, tirou milhares de fotos ao lado de Mark e Jay - que estavam procurando a certa para colocar em um porta-retrato na estante de casa - e, ao lado do namorado, derrotou Liam e Niall em uma sangrenta disputa de baralho.

O céu já estava escuro e a música tocava baixa na sala de estar quando foi arrastado por Tomlinson para o andar de cima, os olhos azuis deixando clara a empolgação que o mais velho sentia para o que quer que viesse em seguida. Ansioso, o chef deixou Harry sentado na cama do quarto que dividiam quando estavam ali e foi até a sua mala, de onde tirou um embrulho quadrado e aparentemente pesado.

– Eu pensei muito no que te dar hoje - começou quando se juntou ao cacheado, um de frente para o outro - Queria que fosse incrível, que tornasse o seu primeiro aniversário ao meu lado tão especial quanto você merece.

– Ele foi - Styles confirmou - A ideia de envelhecer nunca me fez feliz, Lou. Não até hoje, até ver tudo pelo que eu ainda tenho que viver.

– E isso me faz feliz também - deixou um beijo em sua testa - Eu quero te dar o mundo, cachinhos. Quero que você tenha tudo o que merece, e isso inclui boas memórias.

Com um sorriso empolgado, passou o pacote que segurava para os braços do mais novo e esperou pacientemente que ele o desembrulhasse, mesmo que sua excitação o fizesse querer rasgar tudo como uma criança na manhã de natal. Sua alegria só aumentou assim que viu os olhos verdes se iluminando quando o conteúdo do presente foi revelado, sabia que faria de tudo para que aquele brilho durasse para sempre.

– Que bonito - Harry sussurrou, hipnotizado enquanto passava os dedos pelo álbum de fotos que segurava.

– Eu vi o seu rosto quando estávamos olhando alguns desses na minha casa - Louis explicou - Sei que você gostaria de ter lembranças da sua infância e que te machuca que isso não seja possível. Eu não posso te dar fotografias e vídeos antigos, mas vou garantir que tenhamos muitos destes para ver no futuro, começando agora.

Encantado, Styles folheou as páginas do livro grosso e sentiu seu sorriso aumentar ao ver cada uma das imagens. Ele estava em todas elas, ora sozinho, ora rodeado por amigos ou ao lado do namorado. Ali, em ordem cronológica, acompanhou os últimos meses da sua vida e sentiu seu coração se encher de gratidão ao analisar a representação física do milagre que vinha experimentando desde que encontrou a mala de um estranho e decidiu devolvê-la ao seu dono.

Suas sobrancelhas se franziram, no entanto, quando, na última sessão do álbum, encontrou um espaço em branco. Harry, então, desviou seu olhar para Tomlinson, e o encarou com curiosidade enquanto o mais velho tirou das costas um pequeno envelope branco.

– Eu disse que não posso te dar memórias do passado, mas isso não significa que não tentei - comentou antes de lhe entregar o que o mais novo logo descobriu ser um retrato.

O cacheado demorou para se reconhecer na imagem, mas lá estava ele, um corte tigelinha na cabeça, um sorriso banguela no rosto e os braços em volta do pescoço de uma mulher que reconheceu como sendo sua mãe. Seu pai estava bem ao lado, com Gemma entre as pernas e uma das mãos na cintura da esposa.

– Como? - perguntou confuso, uma lágrima fujona já escorrendo pela sua bochecha corada.

Ele recebeu algumas fotos da família quando foi para o orfanato, mas elas se perderam ao longo do tempo. A que ainda tinha quando acabou nas ruas, por exemplo, foi estragada em uma noite chuvosa, levando consigo o último traço de uma família em sua vida - bom, até aquele momento.

– Eu consegui o endereço da sua casa antiga e conversei com alguns vizinhos. A maioria deles se mudou para lá depois e não chegou a te conhecer, mas uma senhora tinha essa foto com ela. Foi em uma festa da vizinhança, alguns meses antes do acidente que...

– Entendi - assentiu, também não queria que a frase fosse terminada em voz alta.

– O espaço vago é para ela - Louis apontou para a página - Sinto muito por só ter conseguido uma.

– É perfeito - o interrompeu, deixando seu presente de lado para que pudesse abraçá-lo - Seu esforço, essa fotografia, o dia de hoje, foi tudo perfeito. Obrigado, eu te amo.

– Eu te amo mais - respondeu suavemente e o beijou em seguida.

Naquela madrugada, enquanto todos dormiam e com o álbum que havia ganhado em mãos, Harry apreciou a junção de duas fases felizes da sua vida e sentiu uma paz avassaladora tomar conta de todo o seu corpo. Esperava que, de onde estivesse, sua família compartilhasse essa emoção.

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