23: um final feliz

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Muita coisa pode acontecer em dois anos.

Durante os dois anos que passou na rua, Harry testemunhou coisas que lhe deixaram cicatrizes e se colocou em um constante modo de sobrevivência. Aos vinte, não tinha esperança de viver de qualquer outra forma e havia enterrado todos os seus sonhos. Isso, é claro, até o dia do seu milagre.

Agora, dois anos depois do momento que mudou sua vida, não existiam traços em si mesmo do menino abandonado que um dia foi - exteriormente, pelo menos. Seus cachos brilhavam graças ao tratamento constante, suas bochechas estavam sempre coradas provando sua boa saúde e o seu sorriso era praticamente fixo, um recibo da sua felicidade.

As coisas na faculdade melhoraram gradativamente. Ele ainda precisava se esforçar um pouco mais, às vezes gastar um pouco mais de tempo em pesquisas sobre assuntos que seus colegas já conheciam, mas nada que o atrapalhasse de fato. O garoto havia se provado uma esponja, impressionando os companheiros de sala e também os professores, que apreciavam sua dedicação.

Foi assim, graças ao seu desempenho estelar, que conseguiu seu primeiro estágio. Recebeu uma indicação direta de um dos principais nomes da universidade e, junto a uma excelente entrevista, isso foi o suficiente para que ficasse com a vaga e passasse a trabalhar em uma pequena escola infantil. Os alunos da turminha em que era auxiliar tinham uma média de cinco anos e ele era apaixonado por todos eles.

No dia em que recebeu a notícia de que realmente trabalharia ali, cercado de cores e crianças, pegou um pouco do dinheiro que tinha guardado e comprou três das camisetas mais ridículas e fofas do mundo - suas primeiras "roupas de trabalho". Louis, é claro, esteve ao seu lado e, como uma surpresa, lhe presenteou com outras cinco peças, ainda mais ridículas e fofas do que as anteriores.

Seu relacionamento com o chef seguia de forma calma, exatamente o tipo de amor do qual ele precisava depois de uma vida tão complicada. Tudo parecia conspirar para que eles tivessem um romance pacífico, inclusive Charlotte, que eventualmente se desculpou com o cunhado pelo seu comportamento e passou a tratá-lo com cordialidade, mesmo que ainda não fossem amigos propriamente ditos. Muitas coisas haviam acontecido entre eles, afinal.

Pela primeira vez em sua vida, Harry se sentia seguro para fazer planos. Com a ajuda da sua psicóloga, começou com coisas pequenas como viagens de fim de semana e agora já arquitetava visitas a destinos mais distantes e até uma mudança de casas. Para a alegria de Louis, tinha concordado com a ideia de morarem juntos, mas apenas quando seus estudos estivessem concluídos e seu salário fosse bom o bastante para que dividissem as contas de maneira justa. O mais velho, é claro, concordou com sua decisão e continuou a passar a maior parte das suas noites no apartamento do cacheado enquanto não tinham um espaço que fosse deles.

Suas manhãs se tornaram valiosas já que não trabalhavam mais juntos e aquela não foi uma exceção. Com suas recém-adquiridas habilidades culinárias - conquistadas graças às aulas particulares do namorado - Styles ficou responsável pelo café da manhã e aproveitou deliciosas panquecas ao lado do chef antes que precisassem seguir para seus respectivos compromissos. Como todos os dias, o mais novo se despediu de Tomlinson antes das suas aulas e, ao fim delas, seguiu para o seu local de trabalho.

Chegando lá, descobriu que a professora principal da sala da qual cuidava havia tido um imprevisto e não conseguiria estar presente, o que significava que ficaria sozinho com os pequenos por toda a tarde. Aquilo não era comum, mas já tinha acontecido antes e ele se sentia confiante o suficiente para lidar com a situação.

– E é por isso que hoje quero que desenhem suas casas - ele explicou para o grupo de aproximadamente vinte pares de olhinhos atentos - Podem ser criativos, o mais importante é que coloquem no papel o lugar que enxergam como seu lar.

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