Um

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- Ei! Está na hora de acordar. - Maraísa virou para o outro lado, tentando se esconder da claridade que entrava pela porta - Mãe, vamos eu estou com fome, e não quero comer sem você

Sentindo um corpo pular encima do seu, Pereira grunhiu de dor. Era sempre assim, toda manhã sua filha entrava no quarto, abria as janelas, e reclamava de fome, e quando não tinha sua resposta pulava encima da mais velha.

- Theodora, por que você é assim? - A morena fez um bico, recebendo uma bitoca da filha

- Porque eu sou a melhor filha desse mundo, e você me ama. - A moreninha disse convencida fazendo a mãe rir.

Maraísa puxou a filha para debaixo das cobertas, pedindo para ficarem ali só mais um pouquinho. Theodora era tudo para Maraísa, a menina tinha sido fruto de uma inseminação, sempre sonhou ser mãe, e quando fez vinte e cinco anos começou o tratamento, e agora doze anos depois tinha a sua menina que era uma figura, com personalidade própria, e com o estilo totalmente diferente do seu. Theodora roupas largas, boné e tênis. Vestidos e roupas "feminina" demais a menina detestava.

- Agora podemos levantar. A senhorita vai para o banho, e eu vou para o meu

- Tá bom. Nos encontramos lá embaixo. - A menina saiu do quarto enrolada em uma das cobertas da mãe.

[...]

Maraísa sorriu ao ser pega no flagra. A Doutora Mendonça tinha chamado a sua atenção, era linda, e seu sorriso fofo combinava perfeitamente com o seu jeitinho. Seus olhos verdes, faziam lembrar duas esmeraldas brilhantes.

- Você tem que ser mais discreta, Maraísa - Disse para si mesma. Nicole sempre dizia isso para a mãe, que a mesma tinha que ser mais discreta quando tivesse interessada em outra mulher.

Sua sexualidade nunca foi uma novidade para a filha, sempre conversou abertamente com a menina. As duas sempre foram muito amigas, e entre elas não haviam segredos. Para Maraísa, ser mãe foi a sua melhor escolha.

A morena voltou para a sala, depois daquele "encontro" com a loira não a viu mais. Passou a tarde toda na sala de cirurgia.

- Eu preciso comer alguma coisa, vamos para a cantina? - Luíza disse enquanto lavavam as suas mãos

- Vamos. E como está o pequeno Max? Maiara disse que ele estava doentinho

Maxwell era o único filho de Maiara e Luíza, amigas de anos de Maraísa. As duas adotaram Max em uma viagem que fizeram à trabalho no Moçambique, ambas se apaixonaram pelo menino, e acabaram entrando com um pedido de adoção.

- Ele está bem, a febre é por causa dos dentinhos que estão nascendo - Explicou a loira.

Assim que chegaram a cantina, Maraísa encontrou aqueles pares de esmeralda à observando de longe. Desviou o olhar tentando prestar atenção no que Luiza falava sobre um procedimento cirúrgico que faria em um paciente.

Pegando apenas um sanduíche, e uma caixinha de suco, a morena acompanhou a amiga até a mesa que alguns colegas, e por coincidência Marília Mendonça também estava.

- Luíza, Maraísa essa é a Marília ela é a mais nova contratada - Disse Simone apresentando a loira

- Olá, Marília seja bem vinda - A loira de covinhas sorriu.

- Olá mais uma vez - Maraísa se sentou de frente para Mendonça, ficando ao lado do amigo Henrique.

Os amigos estranharam, mas as duas logo explicaram que tinham se esbarrado de manhã. Assunto que não faltava na mesa, e Maraísa e Marília sempre trocavam olhares, ato que não passou despercebido por Luíza e Henrique.

[...]

- Sério mãe, aquela garota é insuportável. Ela ficou se achando só porque a professora barra puxa-saco, ficou dizendo que ela era muito inteligente

Theo resmungou pela terceira vez, enquanto a mãe estacionava o carro. Maraísa não aguentava mais ouvir a filha dizer a mesma coisa.

- Theo, não seja tão dura meu amor - A morena pegou a sacola do restaurante. Já passava das sete da noite, depois de pegar a filha na casa de Maiara, passaram para comprar comida.

- Não estou sendo dura, mamãe, estou sendo realista - A menina revirou os olhos

- Tá, então não seja tão realista.

A casa escura foi iluminada pelas luzes, a sala estava uma bagunça, Noemy que trabalhava para a família estava de férias visitando a família do outro lado da cidade, então a morena tinha que se virar como podia.

- Vou tentar, mas não prometo nada

Maraísa sorriu, era a mãe mais babona do mundo, Theodora poderia crescer, namorar, casar que nunca deixaria de ser essa mãe babona.

As duas foram para a cozinha, pegaram os pratos e os talheres, colocaram a comida italiana no prato e passaram a conversar sobre como foi os seus dias. Theodora adorava ouvir a mãe contar sobre as cirurgias, e as vezes passavam horas na frente da tevê assistindo procedimentos cirúrgicos.

RecomeçoWhere stories live. Discover now