Recomeço

Trinta e sete

                           Maraísa

Assim que Marília saiu eu me levantei, e fui tomar um banho. Sentia o meu corpo doer pelas horas em pé, por mais que eu fosse acostumada a ficar horas, e hora em cirurgia, o meu corpo sempre doía. E para ajudar Marília tinha saído. Eu sei que não poderia impedir de fazer nada, e nem queria, ela é bem grandinha e sabe o que faz. Não é porque moramos juntas, que uma manda na outra. Mas não posso negar que fiquei chateado.

Acabei me juntando as meninas na maratona de uma série bem adolescente. Acabei cochilando no sofá, e quando acordei as meninas também dormiam ao meu lado.

- Já amanheceu? - Pergunta Theo com os olhos ainda fechados

- Não, meu amor. - Sorrio e percebo que a mesma voltou a dormir

Alcanço meu celular no braço do sofá.

- 02:57 - Murmuro. Me pergunto se Marília já chegou. Pelo horário ela já deveria estar em casa, já que ela saiu de casa nem eram 21 horas ainda.

Calço meu chinelo, e subo as escadas devagar. Para a minha tristeza, a cama estava do jeito que eu tinha deixado.

- Droga! Marília - Xingo passando a mão no rosto.

Começo a pensar no pior. Ela estava voltando pra casa e sofreu um acidente.  Algum assaltante a parou na rua. Nada bom passa por minha cabeça. Disco o seu número e só da na caixa postal.

Os segundos, e minutos passam e nada de Marília. Começo a sentir minha cabeça doer. Sentada no banco alto em volta da bancada, eu tomo uma boa quantia de café preto. O cômodo mal iluminado faz minha cabeça doer menos, enquanto aguardo notícias de Mendonça. Infelizmente não tenho o número de nenhuma de suas amigas, além das em comum que temos, mas sem chances de algum deles estarem com ela hoje.

Aperto o botão power de meu celular e a luz se acende mostrando as horas. 03:46. A porta principal se abre, mas eu não me movo. Por mais que esteja aliviada por ela estar de volta, eu ainda estou com raiva.

- Ai que susto - A loira põe a mão no peito ao acender a luz - Não sabia que estava acordada

- Bom, eu estava preocupada, mas vejo que está bem - Falo rude me pondo em pé

Deixo a xícara dentro da pia, e sinto a mesma se aproximar. Seus dedos gelados tocam o meu braço. Me viro para ela, que me encara com as pupilas dilatadas. Sua mão sobe para o meu rosto, e quando nossos rostos estão a centímetros de distância, eu viro o rosto, fazendo os seus lábios tocarem em minha bochecha

O cheiro de bebida alcoólica forte misturado com cigarro faz o meu estômago revirar.

- Desde quando você fuma? - Me viro

- Vai me negar um beijo?

- Só me responda - Respiro fundo

Ela cruza os braços abaixo dos seios, os seus olhos verdes me observavam atentamente.

- Eu não fumei. As meninas que fumaram perto de mim

- Hum. Vejo que está bem, muito bem por sinal. Eu vou voltar a dormir - Tento passar por ela que segura fortemente o meu braço.

Meus olhos se revezam entre seus olhos, e sua mão em cima de mim

- Desculpa - Diz me soltando - Olha só, acabamos indo pra casa da Yalla. O barzinho estava chato. Ficamos ouvindo música e conversando, quando dei por mim já era tarde.

- Celular serve para ligar. Informar que está tudo bem

- O meu ficou sem bateria. Eu ia te avisar quando chegasse na Yalla, mas acabei me esquecendo

Eu não digo nada. Apenas nego com a cabeça dando um sorriso falso e me retiro da cozinha.

- Não vai dormir comigo? - Pergunta quando me deito ao lado de Theo no sofá cama

- Não. O quarto é todo seu essa noite

A mesma me encara. Ficamos nos olhando até ela desistir e subir as escadas bufando. Eu não queria dormir longe dela, mas se ficássemos no mesmo quarto íamos acabar brigando. E eu prefiro ter um diálogo e não uma discussão.

- Vocês estão bem? - Theo chama minha atenção. Eu nem tinha percebido que estava acordada

- Sim, meu amor - Murmuro passando a mão em seus fios pretos

A moreninha beija o meu rosto. Seu braço rodeia minha cintura, e seu rosto se acomoda no vão do meu pescoço.

Fico perdida em pensamentos, até que acabo me entregando ao sono. Amanhã será um novo dia.