Quarenta e um

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Marília

Faltava menos de uma semana para o dia de ação de graças. Maraísa, e as meninas estavam muito animadas. Desde a morte de Tony, nunca tinha visto Milena tão animada assim para essa data, e isso me deixou mais do que feliz.

À três semanas atrás, em meu aniversário, fizemos a noite do pijama como as meninas queriam, e até que foi legal, passamos a noite em volta da lareira em família, enquanto contávamos histórias assustadoras. E depois em quatro paredes, quando estávamos apenas eu e minha namorada, comemoramos do nosso jeitinho.

Na manhã de segunda-feira, depois que Máh chegou de um plantão de 24 horas, resolvemos sair as compras. Quando chegamos ao shopping, trocamos de filhas. Milly e Máh saíram para um lado e eu e Theo para o outro. Seria legal termos esses momentos separados com as meninas.

Theodora e eu jogamos em quase todos os jogos do shopping, e comemos até não aguentarmos mais. Compramos moletons novos, e alguns presentes de natal. E quando chegamos ao estacionamento, nosso ponto de encontro com as outras duas, descobrimos que elas passaram a maior parte do tempo comprando roupas, e no salão de beleza do shopping.

Durante o resto da semana foi tudo corrido. Demos os últimos retoques da decoração de natal, e aproveitamos para comprar os presentes que faltavam.

A ação de graças seria em casa, apenas os amigos mais próximos, Maiara e a família, Simone, Murilo, Yalla e Marcela. Infelizmente a italiana não tinha família aqui, e não estava em seus planos viajar. Noemy que está responsável pelo banquete, mas Maraísa e eu, daremos toda a ajuda necessária a mais velha.

Era estranho ter a casa tão silenciosa. Depois de meses morando aqui, essa era a primeira vez que eu ficava sozinha. Milena estava na aula de balé, estavam ensaiando para uma apresentação de final de ano, e para o meu orgulho, ela apresentaria um solo. Maraísa e Theo, estavam em uma consulta na psicóloga. Recentemente a moreninha passou a sofrer bullying na escola por suas queimaduras no abdômen, e mão esquerda. Uma garota mais velha passou a se implicar com ela, e desde então Theodora tem se sentido mal.

- Boa tarde, menina Marília - Diz Noemy ao atravessar a porta principal

- Boa tarde, Noemy - Caminho até a mais velha a ajudando com as compras

Caminhamos até a cozinha, e Noemy me pergunta sobre o que eu acho em preparar o prato preferido de Theodora, para ver se a menina se anima um pouco.

- Eu acho uma boa idéia. Com certeza ela irá adorar - Digo sorrindo

- Sim, então hoje teremos burritos para o jantar. E para a sobremesa, torta de maça. Não queremos ver apenas uma adolescente feliz

Acabo sorrindo ao ouvir a mais velha. Era tão bom ver como ela, e Máh tratavam Theo e Milly igualmente. Não tinham favoritismo, e confesso que esse era o meu medo quando comecei a me relacionar com Máh, e quando a mesma me convidou para morar aqui, isso voltou com tudo. Mas tudo estava dando tão certo em minha vida, que as vezes me assustava.

Às seis e meia, Máh me mandou uma mensagem avisando que tinha saído do escritório da Mc Gowan, e estava passando para pegar Milly.

O jantar estava quase pronto, então aproveitei para subir e tomar um banho.

Depois de um banho rápido me enrolei no roupão pendurado atrás da porta, e levei um pequeno susto ao dar de cara com Maraísa parada no meio do quarto.

- Hey! - Me aproximo ao perceber sua carinha triste - Aconteceu alguma coisa?

Maraísa abaixa a cabeça. Então seguro o seu rosto entre as minhas mãos, fazendo a mesma me olhar

- Máh. Fale comigo amor

- A Theo está sofrendo. E eu não posso fazer nada - Sua voz chorosa me corta o coração

Faço um carinho na maça do seu rosto, e beijo a ponta do seu nariz

- Hey! Você está fazendo sim, e muito. Você é uma ótima mãe para ela. É amorosa, gentil, protetora e cuidadosa, é tudo que ela precisa

- Mas eu não posso arrancar essa tristeza que ela está sentindo - Seus olhos estão úmidos

- Máh, e é por isso que nós. Eu, você, Milly e Noemy faremos dos dias dela o melhor. As pessoas são cruéis, mas nós fazemos parte do pequeno número de boas pessoas da humanidade

E pela primeira vez, desde a hora que a vi parada ali no quarto ela sorriu.

- Eu amo você, babe - Ela deixa um beijo suave em meus lábios

- Também te amo - Sorrio - Agora preciso me vestir, para podermos jantar

- Faça isso, não quero irritar duas adolescentes esfomeadas. Elas estão surtando por terem feito os seus pratos preferidos - Disse a morena prendendo o cabelo

Enquanto eu me trocava Máh me observava. A morena me contava sobre a idéia das meninas em sairmos para esquiar no próximo final de semana. Pensei em comentar com minha namorada sobre as trocas de olhares estranhos das duas menores. Mas fui interrompida com Milena batendo na porta avisando que o jantar estava na mesa.

Esse assunto ficaria para uma outra hora.

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