Dezenove

523 76 4
                                    

Maraísa

Alunos e funcionários estavam sendo atendidos no hospital. Graças a Deus poucos haviam se machucado na correria, ou se queimado. Na televisão só se falava do acidente da escola.

Bom, eu não pensei duas vezes em ir até a escola. Pois os feridos estavam no hospital, e Theo e nem Milly estavam ali. Ou elas estariam próximo ao prédio, ou entre os quatro alunos presos no meio daquela chama. Eu torcia pela primeira opção.

O meu coração batia mais rápido que o normal. E Marília que estava sentada no banco carona ao meu lado não estava diferente. Não damos nem tempo do táxi estacionar e já descemos correndo de encontro a muvuca em frente ao prédio.

Pedimos por informações aos bombeiros que trabalham ali. Mas ninguém nos dá atenção, graças a Deus Benjamim, padrasto de um dos melhores amigos da minha filha está ali.

- Ben, eu preciso saber se a Theo ainda está lá dentro

A maneira que ele me olha me assusta. Seus olhos estão cheios de lágrimas. Suas mãos se repousam no quadril, a cabeça baixa e logo a levanta me olhando

- Infelizmente sim, Máh. Ela, Tucker e mais uma garota, a Maya e o funcionário acabaram de serem resgatados

Marília se agarrou a mim. Eu só sabia chorar pensando no pior. Theo não aguentaria ficar aquele tempo todo inalando aquela fumaça toda

- Eles não me deixam entrar por ser da família - Explicou passando a mão na cabeça raspada - Uma equipe acabou de subir. Apenas tenha fé Maraísa

Fé. Era a única coisa que me restava agora. Orar. Rezar. Clamar. Chorar. Pedir para que alguém ajudasse a minha menina e seus amigos.

- Mamãe!

O corpo de Marília que estava agarrado ao meu se soltou ao ouvir a voz de sua filha. Olhamos para trás e ali estava Milly enrolada em uma manta correndo em nossa direção.

- Filha. Aí meu Deus - Dizia minha namorada correndo ao encontro da loirinha

Eu estava feliz, de verdade, Milly estava bem, a salvo. Com vida. As duas choravam abraçadas.

- Meu amor, eu estava com tanto medo - Mendonça beijava todo o rosto da garota

- Eu também mãe - Os verdes úmidos de Milly me olharam perdida - Maraísa, a T-Theo...

Antes que ela pudesse terminar, seus braços finos rodearam a minha cintura. Me desabei completamente ali, nos braços de uma criança de doze anos.

- A culpa é minha - Milena soluçava tentando completar as suas frases - Era pra mim estar lá dentro.

- Não diga isso filha - Pediu Lila

- Não, mãe. A Theo disse para corrermos e eu não conseguia sair do lugar, ela voltou para me ajudar, mas na hora de sairmos da sala a porta estava em chamas, eu só sabia gritar então ela me empurrou e o fogo tomou conta de tudo. A culpa é minha, eu deveria estar lá dentro e não ela. Eu sou uma burra

Naquele momento eu não tinha palavras para descrever o que eu estava sentindo. Era um misto de sensação. Fiz o que deveria ser feito.

- Olhe para mim, Milly - Segurei em seu rosto enquanto secava suas lágrimas - A culpa não é sua meu amor. A Theo tem um instinto protetor, e ela tem essa mania de achar que é a supergirl - A menor sorriu - Ela vai ficar bem, hum? Ela vai sair dessa

- Obrigada - Sussurrou Mendonça que nos observava

Os segundos sem notícias de minha filha eram assustadores. Bombeiros entravam e saiam, mais nada de voltarem com algum aluno. Pais estavam desesperados assim como eu. Pais e amigos de Theodora vinham o tempo todo nos dar apoio. Um paramédico acabou achando melhor levar Milena para o hospital por ter inalado fumaça por muito tempo, e Lila acabou indo junto para cuidar de sua menina. Ela estava triste em me deixar ali sozinha, mas eu disse que ficaria bem.

- Pessoal sai da frente - Um dos bombeiros gritou com Tucker agarrado ao seu pescoço

Apesar de parecer fraco, o garoto estava bem. Benjamim e os pais do garoto logo entraram na ambulância. Mais um bombeiro saiu, eu tinha esperança de estarem com a minha filha, mas não era ela. Eu estava me sentindo agoniada.

- Encontramos a última - Quando ouvi aquilo caminhei as presas até a área de isolamento - Paramédicos com urgência. Ela está desacordada. Queimaduras de terceiro e quarto grau. E está com bradicardia

Seu corpo desacordado foi posto na maca. Máscara de oxigênio foi colocado em seu rosto. Tudo estava sem som para mim. Apenas entramos na ambulância. Eu não escutava. Não via nada em minha frente além de Theo. Vê-la ali tão frágil e não poder fazer nada me matava por dentro. Ali eu era a sua mãe Maraísa. E não a Doutora Pereira.

[...]

- Te trouxe um café - Disse Mendonça me chamando a atenção

- Obrigada - Peguei o copo de sua mão tomando o líquido preto

Marília puxou uma cadeira se sentando ao lado da poltrona que eu estava. Seus dedos se entrelaçaram aos meus, enquanto sua cabeça descansou em meu ombro

- Não quer ir pra casa tomar um banho e dormir um pouco? - Perguntou roçando o nariz em meu ombro

- Não, eu estou bem. Eu quero estar aqui para quando ela acordar

Uma semana, e dois dias que Theo está ligada nos aparelhos. As queimaduras em seu abdômen foram graves, duas paradas cardíacas na ambulância, causaram lesão em seu coração, e muita fumaça foi inalada por ela. Seu rosto estava mais pálido que o normal, e seus lábios esbranquiçados.

- Maiara vai ficar aqui. Você está dias sem dormir, você precisa cuidar de sua saúde, pois quando ela acordar ela vai precisar de você meu amor

Por fim aceitei aquilo. Lila tinha razão, eu tinha que estar bem pela Theo. Mais só sai do quarto quando Maiara chegou sem seu uniforme de trabalho.

Marília me ajudou no banho. Eu parecia uma criança sendo cuidada, mas eu não tinha forças para mais nada. Depois de me vestir, Noemy me obrigou a comer um pouco da sopa que ela tinha feito.

- Tente descansar um pouco - Abraçadas de conchinha, Lila passava a mão em meu cabelo

Os meus olhos pesavam enquanto eu lutava contra o sono.

- Eu amo você, meu amor - Foi a última coisa que escutei antes de minhas pálpebras se fecharem.

RecomeçoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt