05 - counting losses

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"Amigos. Sei."

Aquelas duas pequenas palavras na voz da minha melhor amiga ressoavam na minha cabeça enquanto eu tentava dormir, tentando não me apegar demais no tom irônico da voz dela para não bagunçar ainda mais os meus pensamentos e me deixar mais ansiosa.

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Depois de rodarmos Nice de cima a baixo, decidimos tirar um dia para ficarmos preguiçosos na praia. No entanto, ainda que eu amasse o verão, conseguir ficar de biquíni na frente dos meus amigos sem me sentir desconfortável era algo recente para mim. Eu sempre procurava não pensar muito sobre aquilo, mas parecia inevitável me comparar com Nádia e Gabrielle ao ver as duas ali com as suas cinturas finíssimas, os biquínis minúsculos e sem nenhuma gordurinha sobrando. O meu primeiro impulso era o de cruzar os braços sobre a barriga, ou então esconder meus tornozelos que eu sempre achara grossos demais, mas me contive. Eu sabia que tinha um corpo magro, só não tanto quanto as minhas amigas com suas silhuetas esbeltas de modelo, então tentei parar de prestar atenção naquilo. A expressão no rosto de Adrian quando eu tirei a camiseta pela manhã, ou então a forma como ele se aproximou de mim e alisou a pele nua da minha cintura com as mãos quando eu fiquei em pé para beber a água que ele trouxera para mim acabaram me ajudando a relaxar ainda mais em relação àquilo.

Adrian deu um beijo suave nos meus lábios frescos da água e, ainda que nós não fôssemos propensos a demonstrações públicas de afeto, aquilo foi recebido com protestos por Nádia e Gabrielle que, segundo elas, não aguentavam mais aturar os dois casais felizes naquela viagem. Enquanto Adrian e eu éramos mais discretos, Pedro e Oliver não se desgrudavam um minuto, mas eu achava adorável ver o quanto eles eram apaixonados um pelo outro.

– Vão se amar pra lá – Nádia dizia constantemente, nos fazendo cair na gargalhada.

A minha mão pousada sobre o peito de Adrian sentiu a vibração da sua risada quando um rubor subiu para as suas bochechas, e eu dei um beijo no seu maxilar. A sensação do corpo quente e forte dele contra o meu era quase tão boa quanto a queimação do sol ou o frescor da água do mar que gelava a minha pele, e eu suspirei ao sentir a sua mão deslizar pelas minhas costas.

Mesmo com o fim da tarde se aproximando, a maioria dos turistas continuava a ocupar a larga extensão de areia, assim como nós. O sol quente e ardido da manhã se transformara em um calor ameno e agradável, que agora apenas nos mantinha aquecidos depois de tanto queimar a nossa pele, e fazia pequenas sardas começarem a aparecer nos meus ombros e nas maçãs do rosto. Estávamos todos sentados em um círculo sobre as nossas toalhas na areia enquanto Gabrielle e Nádia nos contavam sobre alguns caras que elas tinham conhecido em um bar que fomos na noite anterior, e eles tinham convidado todos nós para um passeio de barco no dia seguinte, que seria o nosso último em Nice.

– Pode falar que a gente topa – Pedro respondeu, em nome dele e de Oliver.

– Claro, parece ótimo – eu concordei, e Adrian também acenou com a cabeça ao meu lado.

Ah, c'est magnifique! – Gabrielle exclamou, e ela e Nádia sorriram satisfeitas.

Com o sol quase se pondo no horizonte, uma luz alaranjada se incidia sobre a praia e o mar muito azul, dando um ar quase mágico e cálido para aquela paisagem que nunca nenhum filtro artificial seria capaz de imitar. Saquei a minha câmera de dentro da bolsa pela milésima vez naquela viagem e, olhando pelo buraquinho, apontei a lente para vários ângulos diferentes, tentando capturar cada pedacinho daquele cenário paradisíaco que eu mal acreditava ser real, mesmo vendo com os meus próprios olhos.

—— ★ ——

Um estrondo me acordou, e eu precisei piscar algumas vezes para me situar no quarto do hotel fracamente iluminado. O dia mal tinha começado a clarear, e eu acreditava que não devia ser mais do que cinco da manhã enquanto tentava entender se realmente tinha escutado um estrondo ou se tinha sonhado com aquilo. E então o som se repetiu, agora mais baixo, e parecia alguma coisa caindo ou sendo jogada. O barulho vinha de algum lugar próximo, e eu senti o coração dar um solavanco dentro do peito quando imediatamente pensei nos meus amigos, que ocupavam os chalés ao lado do nosso, e a preocupação me despertou no mesmo instante.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt