20 - dandelions

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Era mesmo muito estranha a forma que a montagem da minha primeira exposição como assistente de curadoria no Museu Cívico de Sanremo estava caminhando com toda a tranquilidade possível, até que, faltando menos de uma semana para a abertura, uma bomba explodiu nas minhas mãos. Bom, não nas minhas de fato, mas nas de Francesca, no entanto, como eu era sua ajudante direta naquela função, parte do problema acabava respingando em mim também. A minha orientadora, porém, parecia estar perfeitamente calma ao receber a notícia de que uma das obras que seria exibida na mostra não iria chegar a tempo, em total contraste com o meu desespero que me fazia balançar a perna sem parar ao me sentar na cadeira em frente à professora.

– Fique calma, Helena – a italiana esticou a mão para alcançar o meu braço por cima de sua mesa, apertando-o carinhosamente. – Nós só precisamos substituir essa peça, vai ficar tudo bem.

– Eu estava encarregada de organizar as obras – eu choraminguei. – Será que eu fiz alguma coisa errada? Será que não enviei o documento certo para que eles nos mandassem...

Helena! – ela me interrompeu, agora com mais firmeza na voz, porém sem deixar de ser gentil. – Não foi culpa sua, essas coisas sempre acontecem – Francesca abanou a mão, e eu consegui relaxar um pouco. – E eu jamais deixaria você ser responsabilizada por isso sozinha, imagine... Você é minha assistente – ela ficou em pé e contornou a mesa, chegando mais perto de mim. – Eu vou explicar ao Diretor Verena o que aconteceu e ele vai entender, não se preocupe. Vai dar tudo certo.

Francesca segurou minhas mãos entre as suas ao terminar de falar, e a certeza em sua voz, somada à serenidade que tomava conta do rosto da professora, foram suficientes para que as batidas do meu coração voltassem ao ritmo normal, e eu acenei positivamente com a cabeça, conseguindo esboçar um sorriso. Apesar de muito enérgica, a italiana exalava uma tranquilidade e confiança praticamente imperturbáveis e, quanto mais tempo eu passava junto dela, mais eu tentava aprender com aquele comportamento e guardar as minhas forças para lidar com um problema somente quando ele realmente aparecesse. Não era nada fácil, mas se tinha algo que a professora me ensinara naquelas poucas semanas em que convivemos era que essa forma de encarar as coisas era muito mais eficaz.

A simples tarefa de destrancar a porta do meu apartamento ao final de mais um longo dia passado entre a universidade e o museu se tornara incrivelmente trabalhosa por conta das várias pastas com documentos e anotações sobre a exposição que eu carregava nos braços, e não me importei em largá-las sobre a mesinha de centro da sala de estar assim que consegui entrar, antes de me arrastar até o quarto e dar aquele dia por encerrado. Eu mal tinha despertado na manhã seguinte quando o meu celular vibrou na mesinha de cabeceira ao lado da minha cama, me fazendo abrir um sorriso ao ver o aparelho exibir o nome de Charles, e, pela primeira vez naquela semana, eu me senti realmente contente e aliviada.

Bella! – ele exclamou assim que seu rosto surgiu na minha tela, e o meu sorriso se alargou. – Como você está?

Com um suspiro pesado, eu narrei a ele os últimos acontecimentos da semana, resmungando as minhas preocupações com a exposição e o meu medo de que não saísse tudo perfeito. Eu não costumava despejar os meus problemas em cima de outras pessoas daquela forma, mas Charles tinha um jeito de fazer com que fosse impossível mentir ou esconder qualquer coisa dele, escutando pacientemente cada um dos meus aborrecimentos, e ainda me oferecendo um sorriso doce quando eu terminei de falar, conseguindo me tranquilizar mesmo a quilômetros de distância.

– Você se preocupa demais – ele murmurou, me encarando fixamente através do telefone. – Eu tenho certeza que está tudo impecável com a exposição.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora