22 - through my eyes

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Eu até tentava prestar atenção no filme que passava na tv, que contava a história dramática de um jovem casal que apenas desejava poder viver um romance, porém um deles sofria de uma doença terminal e não podia arriscar sair de casa por conta da imunidade baixa. No entanto, eu era constantemente distraída pelo perfume suave que emanava dos cabelos de Charles logo abaixo do meu nariz, já que ele tinha se acomodado no meio das minhas pernas com a cabeça apoiada no meu peito quando nos deitamos no sofá logo depois do jantar naquela noite de domingo. Quando eu me dava conta, meus olhos tinham desviado das cenas que aconteciam na tela para observar os fios macios e castanhos por onde meus dedos deslizavam lentamente, e aquela vista me parecia muito mais interessante.

– É tão estranho pensar que a gente se conhece só há cinco meses – eu percebi que dissera aquelas palavras em voz alta apenas quando Charles ergueu a cabeça e eu me deparei com as suas íris verde-esmeralda me encarando com ar de surpresa.

Só cinco???? – ele exclamou, apoiando as mãos no sofá ao lado do meu corpo para levantar o tronco o suficiente para que ficasse com os olhos na altura dos meus. – Parece que você já está na minha vida há anos.

Charles deu um sorriso fraco antes de esticar o pescoço para unir os nossos lábios num beijo tênue, e eu suspirei ao sentir o já conhecido – porém sempre especial – formigamento no estômago.

– Pois é! – eu respondi, envolvendo a cintura dele com as mãos. – E isso foi quando nos conhecemos em Barcelona – continuei, esboçando um sorriso quando as lembranças daquela noite no Monument Hotel na metrópole espanhola passaram pela minha mente. – Eu nem estou falando do dia em que eu apareci totalmente do nada em Mônaco e você teve que me abrigar, e nós... bom, você sabe.

Nós nos beijamos pela primeira vez, eu completei mentalmente, sentindo as bochechas esquentarem quando um sorriso travesso surgiu no rosto de Charles a centímetros do meu, indicando que ele também se lembrava do que ocorrera naquele dia de julho, e a minha pele se arrepiou quando uma das mãos dele subiu suavemente pela lateral do meu corpo.

– Eu sei que aquele dia não foi fácil para você, com tudo que tinha acontecido em Nice... – ele murmurou, continuando a falar antes mesmo que eu pudesse sentir o estômago dar uma cambalhota com aquela lembrança. – Mas eu tenho que confessar que, pra mim, você ter ido sozinha para Mônaco foi perfeito!

O sorriso travesso no rosto dele se alargou ainda mais, exibindo as covinhas em suas bochechas, e eu não pude impedir que os meus próprios lábios se curvassem para cima. Apesar de tudo que acontecera na Riviera Francesa, a minha ida caótica para o principado e tudo que eu vivi com Charles naquelas poucas horas que passamos juntos lá foram determinantes para que nos aproximássemos de vez. Talvez um dia eu agradecesse Adrian por tudo aquilo, nem que fosse de pirraça, já que a canalhice dele foi o que colocou Charles no meu caminho e na minha vida de forma definitiva. Aquele pensamento me fez precisar conter uma risada antes de aceitar a mão que Charles me oferecia para levantar do sofá, sorrindo ao senti-lo pousá-la no meu quadril logo em seguida para caminharmos até o quarto.

Depois de tudo que acontecera no último final de semana, a tarefa de ir embora de Mônaco na manhã de segunda-feira se tornou ainda mais pesarosa, me fazendo quase sentir uma dor física ao me despedir de Charles quando ele me deixou na estação de trêm. Ele não poderia me levar até Sanremo naquele dia, já que teria uma reunião com o seu empresário em poucas horas para discutirem o planejamento para as próximas corridas, e eu apertei os braços ao redor do corpo dele o máximo que consegui antes de embarcar, sentindo o peito pesado com a falta que ele me fazia assim que o trem deixou o principado.

Em meio às belas paisagens que compunham o trajeto do trem que me levava à comuna italiana, a minha cabeça distraída repassava os últimos dias como um filme, e uma sensação de satisfação e alegria preencheu o meu peito, fazendo o meu coração acelerar enquanto eu encarava as montanhas verdes pela janela, porém meus olhos viam apenas o sorriso de Charles que iluminava cada um dos lugares em que estivemos, até mesmo o seu quarto escuro. Foi naquele momento que uma percepção me atingiu com um solavanco mais forte do que o balanço do trem sobre os trilhos, e eu ofeguei ao me dar conta de que estava completamente apaixonada por Charles, e que aquilo me assustava na mesma medida que me fascinava. As minhas (péssimas) experiências passadas faziam o meu corpo estremecer com aquela perspectiva, porém o que eu tinha com Charles era completamente diferente de tudo que eu vivera antes, e a confiança que eu sentia por ele se igualava apenas a que eu sentia pela minha mãe e por Luísa. Eu me sentia segura com ele como nunca antes me sentira com ninguém, e aquele sentimento fez o meu corpo todo formigar.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Where stories live. Discover now