ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]

16 - craving for more

– Até amanhã, Helena – Charles murmurou, com os olhos verdes e doces fixos em mim.

"Até amanhã". Duas palavras tão simples e corriqueiras, mas que, naquela noite, provocaram um formigamento gostoso na boca do meu estômago.

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Depois das várias viagens que eu fizera nos últimos meses, eu tinha me acostumado a carregar pouca bagagem, e a minha pequena mala de mão seria mais do que suficiente para aquela ida à Monza. Porém, ao encontrar Luísa na estação de trem em Sanremo, eu descobri que minha melhor amiga não tinha a mesma habilidade que eu ao avistá-la caminhar quase saltitante na minha direção enquanto puxava uma mala de rodinhas tão grande que ela mesma podia viajar dentro dela com tranquilidade.

– Pelo amor de Deus, Luísa – eu falei, dando uma risada nervosa quando ela se aproximou. – Nós vamos ficar dois dias em Monza, e não dois meses!

– Eu sei – ela resmungou, encolhendo os ombros. – Mas eu não fazia ideia de que tipo de roupa se usa em uma corrida de fórmula 1, então eu trouxe algumas opções...

– Algumas... – eu repeti, erguendo as sobrancelhas para o que deveria ser o guarda-roupa inteiro dela naquela mala.

Luísa deu uma risada tímida e mordeu o lábio, e então eu puxei a minha melhor amiga para um abraço apertado, apenas naquele momento me dando conta do tamanho da saudade que eu estava dela.

– Eu tenho tanta coisa pra te contar – falei, enquanto enganchava meu braço no dela para caminharmos até a plataforma de embarque.

– Ainda bem que a gente tem bastante tempo de viagem então, porque eu quero saber todos os detalhes – Luísa respondeu, enfatizando a palavra ao me encarar e dar uma piscadela.

⭒

Luísa ouviu empolgada e pacientemente os meus relatos das últimas semanas, onde eu contei tudo sobre a minha mudança para Sanremo, e também sobre o decorrer do meu relacionamento com Charles que, pelas suas constantes exclamações ofegantes, era a parte em que ela estava mais interessada.

– Eu mal posso esperar para segurar vela pra vocês dois – ela comentou, com um sorriso sonhador no rosto.

– Ah Luísa, cala a boca – eu dei um empurrão no ombro dela com o meu, e ela caiu na risada.

Mal fazia uma hora que estávamos acomodadas nos bancos estofados do trem quando uma notificação acendeu a tela do meu celular. Era uma notícia qualquer do aplicativo da Fórmula 1 sobre o treino do dia que eu abri para ler e, depois de dar uma rápida passada pelas outras matérias que já tinham saído naquela semana, uma constatação me deixou um tanto aflita: nove entre dez notícias relacionadas àquela etapa do campeonato eram sobre Charles ou sobre a sua equipe.

Eu já imaginava que a principal equipe italiana do grid estaria sob os holofotes durante aquele grande prêmio, mas perceber que eu estava me dirigindo para aqueles mesmos holofotes provocou um arrepio não tão agradável na minha coluna. Será que Charles tinha se dado conta de que a primeira vez em que estaríamos realmente juntos na frente do público da fórmula 1 seria justamente quando a gigantesca maioria dos olhos estavam voltados para ele? Será que ele não se importava com isso? Ou será que, assim como eu, esse detalhe passara batido até agora?

O meu silêncio repentino e que durou vários minutos foi algo que não passou despercebido por Luísa, no entanto.

– Está tudo bem, Ninha? – ela perguntou com a voz baixa.

"Ninha" era um apelido que só ela usava, que vinha de "Heleninha", da época em que nós éramos crianças. E, por mais que eu sentisse a apreensão crescer no meu peito, ouvi-la me chamar daquela forma acalmou pelo menos um pouco dos batimentos desesperados do meu coração.