ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]

11 - all good things (come to an end)

Depois de termos desbloqueado um novo nível de intimidade naquela conversa com altíssimas doses de sinceridade do outro dia, eu passei a me sentir ainda mais próxima de Charles, o que tornou os nossos dias na charmosa villa cercada pela incrível paisagem da Costa Amalfitana ainda mais especiais e agradáveis. Sem dúvida aquela viagem ficara muito mais divertida com o costume que tínhamos adquirido de mantermos contato físico de forma indireta, como ficar com os joelhos colados um ao outro sempre que sentávamos lado a lado, ou entrelaçar os dedinhos da mão sob a mesa do jantar, ou ainda a naturalidade com que Charles voltava de um mergulho no mar e simplesmente deitava com a cabeça sobre a minha barriga enquanto eu estava estirada sobre a areia tomando sol com as outras garotas, me fazendo dar risada e me contrair por causa da água gelada que escorria dos seus cabelos na minha pele quente.

Porém os meus momentos preferidos ainda eram aqueles em que nós dois nos refugiávamos no quarto e permitíamos que as nossas mãos passeassem livremente pelo corpo um do outro, em meio a beijos ofegantes e ansiosos. Eu descobrira um novo vício, além de ter a boca macia de Charles sobre a minha, que era passar os lábios pelo pescoço dele. Era como se a pele suave entre o seu maxilar e o ombro implorasse por ter a minha boca ali, e o suspiro pesado que ele dava no meu ouvido toda vez que eu fazia aquilo disparava uma corrente elétrica por toda a minha espinha. Por mais que a nossa vontade de explorar toda a superfície de pele possível um do outro fosse clara, sempre acabávamos parando antes que as coisas avançassem demais, e eu me sentia aliviada sabendo que não estava sendo pressionada, me encantando ainda mais por Charles estar disposto a caminhar no meu ritmo.

– Você tem certeza que está tudo bem com isso? – eu já perdera a conta de quantas vezes tinha repetido aquela pergunta nos últimos dias, mas sentia a necessidade de me certificar o tempo todo.

– Certeza absoluta – Charles sussurrou, abaixando o rosto para dar um beijo no canto da minha boca e me arrancando um sorriso.

Nós estávamos deitados na cama depois de encerrarmos mais uma sessão de pegação desenfreada, conforme vinha acontecendo em todas as noites desde a nossa conversa desnuda, como eu me acostumara a chamar dentro da minha cabeça. Eu estava aconchegada com a cabeça sobre o seu ombro, inspirando o perfume já quase familiar para mim que misturava o cheiro do sabonete com uma colônia amadeirada suave, que eu apelidara mentalmente de Charles-depois-do-banho, e ele acariciava meu braço com as pontas dos dedos, com a bochecha apoiada na minha cabeça.

– Charles? – eu o chamei com a voz baixa, e ele murmurou para que eu continuasse. – Os seus amigos sabem que nós... Que estamos... Sabe... Assim? – eu perguntei hesitante, gesticulando com as mãos de forma desajeitada para indicar nós dois ali na cama.

– Juntos? – ele completou por mim, virando a cabeça para me encarar com um sorrisinho, e eu balancei a cabeça rapidamente para confirmar. – Eu nunca falei nada com todas as letras – Charles respondeu, e nós dois nos ajeitamos para deitarmos virados um para o outro. – Mas eles me conhecem, então devem suspeitar de alguma coisa.

Eu mordi o lábio, mas a expressão tranquila no rosto de Charles indicava que ele não se importava que seus amigos pensassem que estávamos juntos, e então eu também não deveria ligar. Certo? Afinal, eu não podia negar que, pelo menos durante aquela viagem, nós estávamos, de fato, juntos.

– Eu acho que nem saberia como... – eu comecei, desviando os olhos enquanto procurava as palavras certas. – O que nós... Quer dizer... – me remexi na cama, sem saber direito como dizer aquilo. – O que é isso que nós... Sabe? – eu engoli em seco, com as mãos pairando no meio de nós dois.

Os lábios de Charles se curvaram para cima em um meio sorriso quando a compreensão do que eu tentava perguntar atingiu os seus olhos. Ele deslizou na cama para chegar mais perto de mim e apoiou a testa na minha antes de responder.