ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]

25 - don't you wanna stay

Assim que pisamos no píer de madeira, o som de dezenas de vozes que cantava uma música em coro vindo de um dos maiores barcos ancorados ali chamou a minha atenção, e nós nem precisamos chegar perto demais do barco para que eu percebesse que a música que eles cantavam era o hino da Itália. Charles diminuiu ligeiramente a velocidade dos passos conforme nos aproximamos do local daquela enorme comemoração, parecendo quase nervoso, e eu ergui os olhos para ele, apertando sua mão que estava entrelaçada à minha ao ficar em sua frente.

– Essa noite é sua, campeão mundial – eu declarei, sabendo do efeito que aquelas palavras causavam nele, e Charles me encarou de volta com um sorriso travesso. – Você merece celebrar cada minuto do seu esforço que levou a esse resultado incrível.

– Por mim, a nossa celebração já teria sido suficiente – ele murmurou, deslizando a mão livre pela minha cintura e fazendo um arrepio percorrer a minha pele. – Mas você tem razão, todas aquelas pessoas trabalharam duro junto comigo esse ano – ele indicou brevemente o barco atrás de nós com a cabeça antes de continuar: – eles merecem mesmo essa festa.

– E você também – eu insisti, dando meio passo para frente para colar meu corpo ao dele. – Acho que o Andrea não vai ficar bravo se você beber um pouquinho a mais hoje, né?

Ele deu uma risada rouca.

– Eu tenho certeza que não – Charles balançou a cabeça. – Até porque, uma hora dessas, ele mesmo já deve estar na terceira ou quarta taça.

Eu não pude conter uma gargalhada ao ouvir aquelas palavras, me aproveitando dela para esconder um suspiro ao ver o sorriso de Charles aumentar ainda mais, exibindo suas covinhas nas duas bochechas, e ele abaixou o rosto para estalar um beijo rápido na minha boca antes de me puxar para subirmos os três degraus que davam acesso ao barco.

Algumas poucas pessoas ocupavam os andares de baixo, mas todas puxavam Charles para um abraço assim que o viam, o parabenizando com emocionadas palavras em italiano que aqueciam o meu coração ao vê-lo agradecer cada uma delas. Isso fez com que demorássemos algum tempo para alcançarmos o terceiro e último andar do enorme iate e, assim que chegamos ao extenso deque descoberto, a multidão de mecânicos e funcionários da scuderia italiana presentes no ambiente, que agora cantava uma outra música, interrompeu o coro para receber Charles aos gritos de "il campione", rapidamente cercando-o em um abraço em grupo com muitos tapinhas nas costas e afagos na cabeça. Eu mal percebi que tinha soltado a mão dele e, quando me dei conta, estava observando-o à distância em meio aos seus colegas, além de sua mãe e os dois irmãos que também tinham se aproximado dele, com um sorriso bobo no rosto e sentindo lágrimas queimarem os meus olhos, hipnotizada por aquela cena, e somente despertei daquele transe quando alguém me ofereceu uma taça de champanhe.

– Al campione – uma voz enunciou e, mesmo em meio à multidão, eu pude identificar o chefe da equipe que erguia a taça na direção de Charles, e rapidamente todos em volta repetiram aquele gesto. – Siamo molto orgogliosi di te, Charles!

Depois de morar por alguns meses na Itália, a minha compreensão do idioma era o suficiente para que eu compreendesse aquelas palavras, que levaram novas lágrimas aos meus olhos quando eu também ergui a minha taça e exclamei, juntamente com todos ao redor: "Ao campeão!". Eu sentia o coração disparado dentro do peito ao ver e ouvir todas aquelas pessoas enaltecendo Charles com tanto carinho e comoção, a família dele visivelmente orgulhosa e emocionada ao parabenizá-lo várias vezes com sorrisos que rasgavam seus rostos, e ainda passei algum tempo observando-o ser abraçado e celebrado por mais alguns de seus colegas antes que ele percorresse os olhos à sua volta até me encontrar.

– Não pense que você vai se esconder de mim hoje – ele anunciou ao se aproximar, também com uma taça de champanhe na mão. – Eu quero você do meu lado nessa comemoração.