07 - complicated

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Acho que deixei a janela aberta, está ventando muito. Não lembrava de estar tão perto do mar. Por que a minha cama está balançando? Meu Deus, eu ainda estou no barco!

Acordei num sobressalto e me sentei rapidamente, me arrependendo daquela decisão no mesmo instante ao sentir a cabeça latejar. Eu estava no sofá acinzentado da réplica de sala de estar na parte interna do barco, rodeada por várias almofadas fofas e com uma manta caramelo sobre as pernas. Meus pensamentos estavam confusos e embaçados, e eu não conseguia entender como tinha chegado até ali, já que a última lembrança que eu tinha era de estar com a cabeça recostada no ombro de Charles com as pálpebras pesadas ainda no andar de cima. Apertei a ponte do nariz entre o polegar e o indicador, sentindo uma dor aguda que ia da testa até a nuca, e desisti de me esforçar para entender qualquer coisa, pelo menos por aquele momento.

Notei uma movimentação na parte da frente do barco, engolindo um suspiro ao ver Charles entrar pela passagem lateral junto ao painel de controle. Ele tinha trocado de roupa, e agora vestia uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca, e eu ofeguei ao reconhecer as peças que ele me emprestara quando nos conhecemos no hotel em Barcelona. As recordações do que acontecera naquela manhã poucas horas atrás tomavam forma na minha cabeça quando Charles ergueu a cabeça na minha direção, abrindo um sorriso que exibiu as suas covinhas e franziu o canto dos seus olhos.

– Bom dia – ele murmurou ao se aproximar, sentando-se sobre uma mesinha de centro que agora ocupava o espaço que tinha sido usado para dançarmos na noite anterior. – Ou melhor, boa tarde.

Tarde? Minha cabeça girou com a última frase de Charles, e eu logo corri os olhos rapidamente ao redor, notando que estávamos sozinhos no barco. Espiando de relance pela enorme janela ao meu lado, notei que uma quantidade maior de nuvens encobria o céu, tornando mais difícil de identificar o momento exato do dia em que estávamos.

– Meu Deus, por quanto tempo eu dormi? – eu perguntei, esfregando os olhos. – Que horas são? Quando todo mundo foi embora? O que eu...

– Calma, Helena! – Charles me interrompeu com uma risada. – Camille e Mateo saíram agora pouco, os outros devem ter ido mais cedo. Eu não vi, estava dormindo um pouco – ele explicou com calma. – São pouco mais de duas horas, e você nem dormiu tanto assim – ele deu de ombros, me fazendo rir, e quando eu fiz menção de abrir a boca, ele ainda continuou: – Eu não sabia o que você gostaria de comer, mas pedi na marina para entregarem um café da manhã para nós.

Só então eu me dei conta de que tínhamos voltado para junto da orla, reparando no longo deque de madeira do píer e nos outros barcos atracados ao nosso lado.

– Você pediu... – eu comecei, sentindo meu raciocínio ainda lento. – Meu Deus, Charles, não precisava...

– É claro que precisava – ele se apressou a dizer. – Você é minha hóspede.

– Sua hósp... Esse barco é seu? - exclamei, sentindo o choque da compreensão me atingir.

– Hm, sim – Charles respondeu, desviando os olhos apenas por um instante da forma como ele sempre fazia quando ficava encabulado. – Eu arrumei a mesa lá fora para nós. Você já quer comer ou prefere tomar um banho...

– Sim! – eu o interrompi, só então me dando conta do quanto estava desesperada por um banho quente.

– Ok – Charles riu da minha reação. – Eu posso te emprestar uma roupa de novo, se você quiser.

– Ah, não precisa – eu logo respondi, por mais que me agradasse a ideia de vestir uma roupa com o perfume dele novamente. – Eu tenho roupas na minha mala, eu só vou lá buscar...

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Where stories live. Discover now