26 - sapphire and silhouette

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As horas pareciam se arrastar naquela sexta-feira do começo de dezembro, fazendo o horário do meu trem para Monte Carlo demorar a chegar. Decidida a ocupar o meu tempo, mais uma vez corri até o salão que ficava a duas ruas de casa e fiz a parte que me cabia para me arrumar para a festa de gala do dia seguinte, cuidando das unhas, cabelo e depilação, já que, pelo que Charles me explicara, a roupa, maquiagem e penteado ficaria à cargo da equipe que nos encontraria no hotel em Paris.

Um restaurante de comida italiana tradicionalmente caseira foi o escolhido para o meu almoço depois de algumas horas e, mesmo que o prato de pasta alla carbonara fosse incrivelmente bem servido, eu me sentia leve naquele ambiente tão aconchegante de paredes cor de creme decoradas com dezenas de portas-retratos e as toalhas verdes e brancas que cobriam as mesas. Uma das coisas que eu mais gostava no bairro onde eu morava em Sanremo era a possibilidade de fazer quase tudo a pé pelas redondezas e, enquanto eu caminhava de volta para o apartamento, apenas para terminar de organizar a minha bagagem antes de partir para a estação de trem, eu busquei o nome de Luísa na lista de contatos do meu celular e solicitei uma chamada de vídeo, mesmo ainda estando na rua.

– Quer ir para Paris amanhã? – eu perguntei, segundos depois de ouvir o "alô" da minha melhor amiga.

Como é que é??? – ela exclamou, arregalando os olhos para mim. – Você nunca mais me fez perguntas normais depois que conheceu o Charles.

Eu não pude conter uma gargalhada com aquela frase, reconhecendo que Luísa tinha mesmo um pouco de razão, e minha vida realmente tivesse mudado muito nos últimos meses. Para melhor, eu completei mentalmente, e logo expliquei para o rosto confuso da minha amiga na tela do celular sobre a festa de premiação do campeonato mundial de Fórmula 1 que aconteceria no dia seguinte em um dos mais sofisticados hotéis da capital francesa e, como eu previra, a expressão de Luísa se iluminava conforme me ouvia contar todos os detalhes daquele baile de gala para o qual eu a convidava.

– É sério isso, Ninha? – ela indagou, visivelmente surpresa, quando eu terminei de falar. – Eu posso mesmo ir nessa festa?

– Pode, Lui – eu dei risada, já passando pelo pequeno portão de ferro que levava às escadas do meu apartamento. – Se você conseguir ir para Paris até amanhã no final da tarde, tem um convite te esperando – declarei, vendo a animação óbvia no rosto da minha melhor amiga. – Ah, e antes que você pergunte: sim, o Lando vai estar lá.

– Eu não ia perguntar isso – Luísa murmurou e, mesmo através do aparelho, eu pude notar o rubor que subiu para as bochechas dela. – Mas ele vai mesmo?

Eu nem me esforcei para abafar uma risada fraca ao caminhar para dentro da minha pequena sala.

– Vai – eu acenei com a cabeça, prendendo o lábio entre os dentes numa tentativa de parar de rir. – Você está em Lisboa? Acha que consegue mesmo ir?

A minha voz subiu de volume ligeiramente ao fazer aquela pergunta, começando a sentir a empolgação da possibilidade de ter a minha melhor amiga comigo naquele evento.

– Baby, eu já estou comprando a passagem – Luísa estreitou os olhos para mim, e eu gargalhei novamente. – Depois me passa o endereço e eu te encontro lá.

Mesmo sabendo que um certo garoto inglês de olhos azuis possivelmente iria roubar a atenção dela, o meu coração se tranquilizou um pouco ao saber que eu teria a presença tão familiar dela enquanto eu assistia Charles ser premiado pelo campeonato mundial.

Depois de tantas horas ansiando por aquele momento, eu senti o coração errar uma batida assim que eu coloquei os pés no trem, pouco antes das quatro da tarde, enviando uma mensagem a Charles avisando que estava a caminho assim que senti o vagão começar a se mexer sobre os trilhos. Já mais do que acostumada com a vista montanhosa e repleta de verde que rodeava o trajeto percorrido pelo trenitalia, isso fazia com que os meus pensamentos se perdessem no meu encontro com Charles dali a alguns minutos e, principalmente, no evento do dia seguinte e em toda a grandeza e importância que o envolvia, me deixando animada e nervosa na mesma medida. Toda e qualquer preocupação que eu tivesse, porém, foi deixada de lado no instante em que eu coloquei os olhos no moreno alto e dono dos olhos mais verdes que eu já vira, com a mão no bolso da calça jeans enquanto mexia distraído no celular, me esperando na Gare de Monaco assim que eu desci do trem. Eu me aproveitei da sua desatenção para me aproximar lentamente sem que ele percebesse.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Where stories live. Discover now