09 - coastline

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Por mais difícil que fosse para eu admitir, se os acontecimentos dos últimos dias tinham me provado uma coisa, era que de fato algo estava acontecendo entre mim e Charles. A troca de mensagens muito mais constante do que eu estava acostumada com qualquer outra pessoa, a clara vontade que ele tinha de compartilhar as coisas comigo, a forma como o meu corpo reagia, elétrico e sensível, fazendo o meu coração errar as batidas, somente de estar no mesmo ambiente que ele, além do episódio mais recente, é claro: a ida de Charles até Lisboa com o único propósito de encontrar comigo, e o beijo roubado ao nos despedirmos naquela tarde. Eu remoía todas essas lembranças, tentando entender de uma vez por todas o que aquilo tudo significava para mim e como eu lidaria com todos aqueles sentimentos, enquanto meus polegares orbitavam a tela do celular e eu escolhia as palavras para digitar na mensagem que ia enviar a Charles.

𝙲𝚑𝚎𝚐𝚘𝚞 𝚋𝚎𝚖 𝚎𝚖 𝚌𝚊𝚜𝚊?

Acabei me decidindo por aquela simples pergunta, sabendo o quanto ele detestava voar de avião, e cliquei em enviar. Fazia pouco mais de seis horas que tínhamos nos despedido na porta do hotel, a noite já tomando conta do céu de Lisboa há algum tempo, mas eu me sentia completamente acordada. A conversa que eu tivera com Luísa durante todo aquele dia repercutia sem parar dentro da minha cabeça e eu tentava absorver as palavras da minha amiga.

– Ele gosta de você, Helena – Luísa dissera, com a maior certeza do mundo em sua voz. – O que mais você precisa saber?

– Eu não... Eu não sei – eu gaguejei, dando um suspiro profundo. – Foi tudo tão rápido, eu não estou dando conta de processar.

– Você nunca ouviu dizer que as melhores coisas da vida acontecem em um piscar de olhos? – ela rebateu, e eu ergui os olhos para encontrá-la com um sorriso sutil nos lábios.

– Eu sei, mas... – eu mordi os lábios, tirando os cabelos da nuca para refrescar a minha pele quente. – As nossas vidas são tão diferentes, eu... – repeti o que já dissera à ela um milhão de vezes, e Luísa revirou os olhos. – Eu tenho medo de as coisas darem errado.

Luísa suspirou. Estávamos sentadas nos bancos altos junto da bancada da cozinha, depois de terminarmos a comida chinesa que pedimos para o jantar, e ela se virou de frente para mim, puxando minhas duas mãos para segurá-las firmes sobre o seu colo.

– Mas e se as coisas derem muito certo? – ela falou, assumindo a sua postura super racional e me encarando fixamente. – Essa possibilidade também é real, Helena. Mas você só vai saber se tentar.

– Eu sei – eu murmurei, sentindo os ombros pesarem e sabendo que minha amiga tinha razão.

– Você não acha que vale a pena se arriscar pelo Charles? – Luísa perguntou, com um sorriso maroto se formando nos lábios e os olhos emitindo um brilho lascivo apenas por um instante.

Eu a encarei de volta, não conseguindo impedir que um sorriso nascesse no meu rosto também, e senti as bochechas esquentarem quando a resposta óbvia para aquela pergunta saiu da minha boca:

– Acho que sim.

– Então pronto, é só isso que você precisa agora – Luísa declarou, entrelaçando nossos dedos. – Deixe as coisas acontecerem no tempo delas – ela continuou, e eu revirei os olhos. Como se fosse simples assim, pensei, mas logo Luísa completou: – Ele também está interessado em você, Helena, isso já está mais do que claro. Confie em mim, não vai ser tão difícil quanto parece nessa sua cabecinha.

Luísa bagunçou os meus cabelos como se eu fosse uma criança e eu dei risada, lançando um olhar de sincero agradecimento para a minha melhor amiga. Eu realmente não sabia o que seria de mim sem ela.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora