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21. HISTÓRIAS
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A raposa levantou a cabeça quando o príncipe entrou correndo.

— Professor! — disse respirando pesado.

Com a cauda, a raposa jogou um enorme punhado de neve em Shoyo.

"Me chame de pai."

— Uma vez na vida outra na morte — disse Shoyo depois de cuspir um punhado de neve. Outro punhado o atingiu. — Quer parar com isso?

"Não", a raposa bateu a cauda na neve, ameaçando jogar mais um pouco.

— Professor, será que tem como me deixar falar?

"Não estou te impedindo."

Shoyo revirou os olhos.

— Tá, é o seguinte. O Tsumu aceitou ser meu namorado!

Céus, seu menino estava radiante. Praticamente brilhando de felicidade. E estava sorrindo. Sorrindo tanto e tão largo que as covinhas nas bochechas estavam aparecendo. A raposa sentiu seu coração tropeçar. Há quantos séculos não via o sorriso reluzente e cheio de dentes de seu filho? Há quantos séculos não via aquelas covinhas?

"Como isso aconteceu?", perguntou gentilmente, abandonando a personalidade bruta da guerreira que amava e assumindo a sua própria.

Seu Shoyo sorriu ainda mais e se jogou em cima de si. A raposa virou de barriga para cima e derrubou o príncipe na neve, ouvindo aquela gargalhada gostosa. Um segundo depois Shoyo tinha subido de novo, exatamente como fazia quando era apenas um filhotinho.

Para a raposa, ele sempre seria seu filhote. Só que mais velho, maior. Mais responsável. E mais machucado. Mais cansado. Mas sempre seu filho.

Ali, pela primeira vez em muitos séculos, a raposa teve um vislumbre do seu filho, do seu garoto. O garoto que não tinha ido a guerra; que não tinha conhecido a dor; a morte e a fome; que não sofreu de traição e perda; que se apaixonou e não foi correspondido. O garoto que não perdeu tudo, e depois se perdeu em vingança.

Shoyo nesse momento era só um garoto apaixonado.

O príncipe começou a contar, falando alto e gesticulando como quando era criança, sobre todo o tempo que passou junto com Atsumu. Sobre as coisas que disse, as coisas que fez e... Céus. A raposa achou que ele iria explodir quando contou sobre o primeiro beijo deles.

Seu garoto estava tão alegre e, pelos Céus, ele merecia aquela felicidade mais do que qualquer um.

— E ele me abraçou a noite toda. Eu acordei de madrugada pra tirar Nox e Nix de cima de nós, e ele nem acordou.

"Isso mostra como ele confia em você", a raposa se esticou e lambeu a testa de Shoyo, levantando a franja.

— Pare com isso, você não é um gato.

Mas apesar da reclamação, Shoyo não fez um movimento para impedir as lambidas. Era a mãe dele quem tinha essa mania.

— Já deu, professor.

"Me chame de pai."

— Uma vez na vida...

"Outra na morte, já sei. Ei Shoyo, quando você vai contar a ele?"

Shoyo ficou tenso.

— Contar o quê?

"Você sabe do que eu estou falando."

Seu garoto suspirou.

— Eu não sei, ele precisa se curar.

A raposa sabia o que seu filho estava fazendo. Estava dando aquela raposinha o tempo que ele próprio não tinha.

O Reinado da Raposa (AtsuHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora