1 | Boas-vindas!

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Valente

Saltei da cama disposta a tapear o primeiro idiota que me aparecer.

Me mudei para Aolai com o objetivo de mudar de vida. Mas não para pior! Queria sair da pobreza e recebi uma proposta irrecusável de trabalhar nesse país ganhando muito mesmo sendo novata. Me enganaram! Me iludi achando que ia melhorar de vida... Mas até que fui sortuda pois, no meio do passeio fluvial, entre o continente americano do sul e a ilha apelidada de Montanha das Flores e Frutas, mas na verdade é o nome de uma montanha da ilha, descobri que ia ser vendida como escrava assim que chegasse lá! Isso me deu tempo de fugir em um bote... Estava sendo vítima de tráfico humano, viram que eu era um alvo excelente e investiram com tudo! Mas, um dia, hei de me vingar desses aolaianos malditos!

Por conseguir chegar em Aolai sozinha e antes dos traficantes de humanos chegar, consegui me livrar deles me mantendo em partes da ilha em que eles nunca ousariam pisar por ser lar de um rei muito famoso que ainda não conheço e nem quero, talvez até tenha morrido já e eu não fiquei sabendo.

Saio de casa depois de verificar que está tudo devidamente trancado, me dirijo a um restaurante recém inaugurado bem longe de minha residência. Hoje estou muito animada, vou comer e dar prejuízo ao trouxa que tiver o azar de me atender.

- Bom dia! O que tem para hoje, meu bom senhor? - me acomodo na primeira mesa que vi e próxima a saída. Um velhinho se aproxima de mim. Que nojo, é um aolaiano, talvez eu seja a única daqui que não faz parte dessa raça repugnante!

- Bom dia, minha jovem. Temos pêssegos celestiais, flores de lótus glacê vermelho, deliciosos cogumelos da região sul da ilha e...

Que velho tolo e insuportável! Por que o infeliz não escreve logo um cardápio? Seria mil vezes melhor ler do que ouvir ele falando cuspindo em cima da minha mesa! Urg!

Por outro lado, ele desperta uma boa sensação em mim, logo, meu ser está dividido. O odeio por ser morador dessa ilha, provavelmente desde que nasceu. E ele me faz lembrar do meu vovô, quem mais gostava de mim de toda a minha família. Infelizmente ele faleceu bem antes de minha pessoa aceitar a proposta de vir para Aolai. Menos mal pois ele não morreu de decepção por ver a neta ser uma baita trouxa.

- ... E então. O que vai desejar, mocinha?

- Os três primeiros pratos, por favor.

- Muito bem, volto logo.

Após três minutos por aí o raposa idoso trouxe tudo em uma bandeja. Mas me serviu somente uma sopa.

- Caro senhor, cometeu um erro, eu não pedi sopa.

- É um brinde por ser a primeira cliente do dia.

- Ah... então tudo bem.

Após comer todos os meus pedidos e estranhar porque está tão pouco movimentado, só eu de cliente, me levanto e saio tranquilamente.

- Ei mocinha! Você esqueceu de pagar!

Me surpreendi ao ver que ele conseguiu me alcançar tão rápido a ponto de agarrar minha manga longa bem na estrada que fica em frente ao restaurante.

- Eu não esqueci nada! Eu não vou pagar por aquele seu lixo que você chama de comida, seu velho decrépito e imbecil! Me solta!

Por mais louco que pareça, o velho consegue me arrastar de volta para dentro de seu estabelecimento. Fico cada vez mais apreensiva com o que este louco irá fazer. E se ele me espancar? Já vi acontecer isso várias vezes nessa ilha. Se eu não fugir a tempo, esse velho que julgava ser fraco vai me deixar em frangalhos!

Com a adrenalina em alta, me preparo para o pior, agarro a primeira tigela de sopa quente que vejo perto de mim e jogo bem na sua cara. Ele grita com a face ficando cada vez mais vermelha. Mas ele não me soltou em nenhum momento.

É nessas horas que desejo que algum super herói me salve.

Acho que me ferrei bonito agora.

Três meses fazendo os aolaianos de bobos e agora encontrei um que não posso fazer de idiota.

Os gritos do velho e seus espamos diminuem até se converter em uma risada gutural e seus músculos tremerem pelas gaitadas.

Oi? Para o mundo que eu quero descer. Como ser queimado deixa alguém feliz? Está ficando doido ou está imaginando as mil formas de me fazer pagar por toda a bagunça que fiz aqui? É. Deve ser isso. Faz mais sentido. Ele está rindo pois sabe como vai arrastar minha cara no asfalto por ser uma peste.

- Me solta, seu maluco!

- Te soltar? Eu que sou maluco? Você não tem coração por se aproveitar de um velhinho e, ainda por cima, tacar algo fervendo nele?

Seu corpo muda e, o que antes era um velho caquético, é agora um jovem macaco um pouco maior do que eu.

- Q-quem... quem-que diabos é você?!

- Muito prazer, Valente, sou Sun Wukong, o rei de Aolai ou, simplesmente, o rei macaco.

- P-pode me soltar? Está me machucando.

- Não estou não.

Ele arranca um tufo de pelos e os sopra no meu punho que ainda agarra com tanto afinco. Uma algema se forma e ele me prende em uma pilastra. Coloca uma cadeira perto de mim.

- Sente-se aí, mocinha, temos muito o que conversar - o tal rei macaco puxa uma cadeira para ele e se acomoda acenando para a cadeira que ele me entregou.

Ferrou! Ferrou de vez! Se ele sabe o meu nome com certeza sabe os crimes que cometi em seu reino e certamente vai me condenar a morte. Espera. Será que aqui existe essa pena ou vou ser apenas presa? Ah acho melhor tentar diminuir minha pena conversando com ele. Sendo condenada a morte ou não, talvez eu até me livre da pena se tentar seduzi-lo. Será que ele curte meninas com pouco peito? Porque a natureza não foi tão generosa comigo? Putz odeio minha genética. Será que ela é a culpada...?

- HEY!

Wukong me sacode. Viajei bonito.

- Sobre o que vamos conversar? Vou ser presa por comer sem pagar? Acho melhor lavar uns pratos e me liberar. O que fiz não foi tão grave assim.

- Você agrediu um velho. Como assim não foi tão grave?

- Que velho? Você? Me poupe! Um velho que na verdade é um neném. - Corei na mesma hora. Chamei ele de neném mesmo?!

- Neném? NENÉM? Tenho mais de 1.000 anos! E aparento ter uns 20 a 25 no máximo. E se eu fosse de fato um bebê teria feito algo cruel do mesmo jeito. Ah... enfim, vamos ao que realmente importa.

FERROU DE VEZ!

A Discípula de Sun WukongWhere stories live. Discover now