36 | Amor

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- Hora de voltar, Monkie Girl! - Wukong me avisa com o sorriso radiante.

- Só um instante! - digo me transformando na loba Ruxue.

- Vai se despedir deles? - deduz Sun.

- É, vou sim.

- Vai lá, te espero.

- Obrigada.

Correndo para onde está o Team Tang, cutuco Wukong noviço no ombro. Ele está no meio de uma discussão acalorada sobre manfruits. De baixo de uma árvore sem frutos, ignora meu chamado e fica gritando para Pigsy e Sandy que não ia ser penalizado por algo que ele não tinha feito, obviamente uma mentira. Decido chamar a atenção dele de outra forma.

- Hey - disse ao cutucá-lo com o indicador mais uma fez, ele continua me ignorando. Encho meus pulmões de ar, tento fazer ele sair do assunto. - HEEEY!

- O que foi, Ruxue? - Sun se volta para mim com os dentes a ponto de trincar pelo tanto que faz ranger. - Estou ocupado.

- Eu vou embora e vim agradecer antes! - abraço Sandy e Pigsy. - Obrigada pela ajuda, gente! - Por último, dou um rápido abraço no rei. - Obrigada por me salvar, acima de tudo.

- Vem com a gente - Sun me convida com os olhos brilhando.

- Não posso.

- Deixa a nobre Ruxue ir, Wukong. - Tripitaka surge em seu cavalo branco ao longe. - Temos que conversar sobre uns certos frutos que você comeu e deu aos outros.

Após uma breve conversa, também agradeço a Tang, o abraço, faço carinho na sua montaria e volto para onde está escondido o Sun Wukong da minha era.

- Como foi? - Wukong indaga já com o círculo de penas de arqueoptérix pronto.

- Uma despedida bem leve, sem choro e tal. Afinal, os conheci a pouco tempo. Os fiz prometer não comentar nada do que aconteceu entre a gente para ninguém.

- Bom trabalho, garota, foi uma missão e tanto.

- Se lembra de mim no passado?

- É, lembro sim, não fazia ideia de que a Ruxue era você.

- Não acredito que te conheci quando era bem levado.

- Heheh, velhos tempos.

"Temos que ir mesmo?", pensei em lhe perguntar, afinal tudo já tinha sido resolvido e eu voltei a ser inútil. Dei vazão ao meu pensamento:

- Se o clone foi impedido de continuar seus crimes, MK nunca passou por aquele ritual, certo? Nunca se descontrolou?

- Bem, ainda não tenho certeza se conseguimos impedir ele antes de causar grandes estragos. Ainda não sei se MK passou por algum ritual maligno, se parte do mundo foi destruído. Vou ter que te apresentar para todos, caso você tenha derrotado a cópia antes dela causar mal ao MK, pois, nesse caso, eles não chegaram a te conhecer - Wukong faz sinal de "vem" com a mão. O portal será aberto em breve. Apenas fico parada. - Valente...? O que está esperando?

Quero ficar ao seu lado mas...

- E-eu tenho medo dos efeitos colaterais. E se eu esquecer de tudo que vivi até agora? Pode parecer besteira mas não quero perder minhas memórias, elas são uma parte tão preciosa de mim...

- Se esquecer, criamos novas. Ou podemos ir atrás de um feitiço de reversão de amnésia.

- Tenho que parar de ser tão medrosa. Mas tem certeza que eu não posso ficar? - estralo os dedos para tentar conter minha ansiedade. - Pense comigo! Minha missão acabou, todos estão bem. Não há motivos para voltar.

- Érr...

- Viu só? Nem tem o que falar. Você sabe disso.

- Melhor não, o fluxo de tempo é algo delicado e ninguém conhece os efeitos da viagem, no corpo, a longo prazo.

- Ok...

- Fique tranquila, se algum problema aparecer, faço questão de te ajudar.

- Certo, certo.

Depois de todo esse combate, conversas e despedidas, Wukong começa a criar um novo portal. Para retornar a nossa época, ele fincou o bastão no chão e me pediu para segurar. Fiz e ele fez o mesmo. Logo somos tomados por uma ventania, ela nos cerca com bastante vigor a ponto de me fazer imaginar se vai surgir um furacão a qualquer momento, o horizonte ao nosso redor às vezes fica alaranjado, às vezes arroxeado. "Onde vamos aparecer?", quis perguntar mas foquei minha consciência e força no momento, vai saber se não vou parar em algum lugar errado caso me desconcentre e solte o bastão.

Ainda estava transformada em um animal místico, porém me tornei monkey, está aí um efeito colateral que preciso lidar mais tarde. Não perguntei se seria um problema estar transformada durante a viagem, o mestre também não disse nada, se ele não disse, então está tudo bem. Eu acho. Contra a minha vontade, meu corpo mudou, nem sabia que isso poderia acontecer até sem eu querer, tudo por causa dessa viagem, decido não me importar muito com isso no momento.

De repente, sinto uma dor de cabeça, felizmente foi rápida em cessar. Lembranças correm por minha mente, lembranças de coisas que vivi antes mas não fazia ideia, lembranças preciosas que me fazem entender quem são aquelas macaquinhas místicas de terracota.

Rin Rin, Lin Lin, Fanya... todas são reencarnações minhas, estive nas ruínas de um museu dedicado a mim. Mas nada disso supera a maior e melhor recordação que tive em tanto tempo.

Pisamos em uma ilha, é a Aolai.

- Pronto! - Wukong diz animado - Chega-

O beijo. Sun não me repreende, suas feições assustadas se tornam calmas, relaxadas, um convite a prosseguir com carícias, o aperto em um abraço que ainda não sei se é capaz de matar toda a saudade que sinto.

Nascia, crescia, conhecia Monkey King, namorava, casava, até que a morte nos separava. Reencarnei tantas vezes. Certa vez ele até tentou me convencer a comer pêssegos da imortalidade. Neguei pois viver constantemente era algo que ele queria, não eu. Queria descansar, relutante, ele respeitou minha decisão. Mesmo me perdendo para o fim da vida em todas as vidas, todas às vezes ele estava lá por mim. Monkey King dava um jeito de me encontrar, de me conhecer de novo, de se apaixonar, de me amar. Recordação linda é dele me pedindo em casamento e eu aceitando. Em todas as vezes. Desde a primeira vida que tive.

Sou a esposa de Sun Wukong.

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Hoje é o 12º dia do 10º mês lunar, uma das celebrações religiosas do Rei Macaco. Às vezes é chamado de "aniversário".

5 | 11 | 2022

Feliz aniversário Monkey King Sun Wukong.

A Discípula de Sun WukongWhere stories live. Discover now