18 | Ataque

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Dias passam e ainda estou foragida, o medo de que me levem para atrás das grades é grande. Não tem tanta coisa para fazer aqui além de treinar com os leques e a Power Rod, ainda bem que Red Son os fundiu para mim, ficou fácil de transportar. Ah também tem o Six Eared, de longe a melhor companhia nesse exílio forçado além de faisões. Suas conversas, em grande parte das vezes, são breves e profundas, impossível eu não sentir pelo menos um arrepio, de vez em quando, quando ouço a sua voz.

Ele e eu nos encontramos no topo de uma colina verdejante para observar o nascer do Sol.

- Tem namorado? - Macaque pergunta. Espera. Que pergunta é essa? E feita assim, do nada? Ai, ai.

- Uh? Namorado? Tenho. Claro que tenho, mas eu e o MK demos um tempo e, por causa disso, ele virou aquele monstrão lá. Que pergunta! Como pensar em namoro em tempos como esse?

- Bom saber que está focada.

- Continua me testando?

- Porque não? É até divertido, sabe.

Uma nuvem de preocupação paira em suas feições, subtendo que a causa seja a Angel, ele me contou direito como anda a situação crítica da garotinha. Um suspiro de cansaço tão cedo no dia sai de meus lábios, tomei a dianteira de deixar ele partir logo, ela precisa dele mais do que eu preciso de companhia nesse lugar.

- Precisar ir, não é mesmo?

- Sim e vê se não arranja mais problemas, até. - Macaque se levanta, também faço a mesma coisa, mas fico dando tapinhas no traseiro para tirar a terra da calça.

- Macaque! Espera - lhe encaro bem. - Diz para a Angel que eu mandei abraço e estou torcendo por ela.

Não sei se foi impressão minha mas acho que vi lágrimas não derramadas se formando nos cantos de seus olhos tons de mel, o abraço e ele retribui.

- Se chorar, não tem problema, não precisa fazer cosplay de rocha, tenho certeza de que está sofrendo.

- Vou passar para ela o seu recado - ele se afasta. - Ah e se prepare, talvez Wukong apareça hoje.

Estou ferrada. Com a perda da companhia, imagino o que fazer. Entediada, vou explorar a gruta pela primeira vez de uma forma que eu nunca tinha feito antes. Para a minha surpresa, encontro estátuas de... parece terracota, até me lembro da professora falando sobre...

"A terracota é um material constituído por argila cozida no forno, sem ser vitrificada (camada ou revestimento numa substância vítrea, aquecida de modo a fundir-se com um objeto cerâmico com finalidade decorativa, de melhoria das propriedades mecânicas ou impermeabilização) e é utilizada em cerâmica e construção. O termo também se refere a objetos feitos deste material e à sua cor natural, laranja acastanhado. A terracota caracteriza-se pela queima em torno dos 900 °C, apresentando baixa resistência mecânica e alta porosidade, necessitando um acabamento com camada vítrea para torná-la impermeável. É rica em óxido de ferro, normalmente utilizada na confecção de tijolos, telhas, vasos, entre outros objetos."

Na base das estátuas, todas monkeys, suponho serem todas fêmeas, há uma plaquinha com nome diferente para cada uma. Lin Lin, Rin Rin, Fanya... Algumas estátuas estão quase quebrando, apresentando rachaduras. É estranho mas sinto que já estive aqui antes. Ia explorar mais mas ouvi a voz do mestre e resolvi deixar a exploração para outra hora.

Deu para notar que Wukong estava um pouco irritado com as minhas atitudes, expliquei que não sou criancinha para ficar quietinha o tempo todo, precisava sair, descansar mais, espairecer.

- Valente... você pode ir aonde quiser mas pelo menos tome mais cuidado, se tivesse se cortado com aquilo iria cair em sono profundo por mil anos!

- Oh...

- Com todos esses dias treinando, sei que agora está mais forte e... - minha mente viaja, dormir por mil anos... nossa! Sinto Wukong me sacudir de leve. - Hey! Tem alguém em casa?

- Foi mal, pode falar, vou ouvir dessa vez.

- Amanhã é o dia, vou estar do seu lado, todos vão estar lá.

- Amanhã é o dia de quê?

- Vamos enfrentar MK de uma vez por todas.

- E como fica a minha situação em Womanland? Até onde sei ainda sou uma criminosa.

- Não se preocupe com isso, falei com a minha namorada e ela lhe concedeu perdão por isso.

Uma dor intensa aperta o meu coração, porque estou sentindo isso? Cara... como ainda posso estar de pé depois dessa revelação? E eu achando que ele sempre foi sozinho! Se bem que já ouvi o Nezha falando que ele não é o lobo solitário que aparenta ser, estaria se referindo a isso? Namorada... namorada... namorada... eu ouvi bem? Desde quando ele tem uma namorada? E quem seria?

- N-namorada?

- Sim, a Candece é a minha namorada. Ok, palavra dada, recolha as suas coisas, hora de voltar!

Em tempos de tensão como esse? Como se atreve a namorar em tempos de guerra? E, pior, tinha que namorar justo com aquele poço de egoísmo?! Até os aolaianos, quem eu menos esperava, estão se preparando para o pior e entrar na luta caso os mais experientes em fins do mundo falhem. Mas Womanland? A população, principalmente sua rainha, só se preocupam com elas mesmas! Candece mal permitiu que eu ficasse. Espera... e se ela já sentiu ciúmes por eu estar tão próxima e ligada ao Monkey King? Isso explica porque ela foi tão antipática comigo até hoje.

Aquelas cartas que o mestre tanto escrevia... eram para ela? Em pouco tempo, minha mente repassa flashbacks de quando Monkey King estava escrevendo cartas com um sorrisinho bobo estampado na cara. A primeira vez que o vi escrevendo uma carta foi quando contei sua lenda para uns filhotinhos na pausa de treino de leques.

- Tudo bem? Está pálida.

- Estou bem, só um pouco ansiosa pelo amanhã.

- Calma, heim.

De volta a Megapolis, sinto uma energia sem igual. Eu deveria estar com medo, preocupada mesmo com o que irei enfrentar em breve mas não. Estou é contente porque tudo isso vai acabar logo! Finalmente vou conhecer MK como ele é de verdade, salvar ele desse mar de insanidade onde se afoga atualmente.

Estava bem distraída, experimentando uma nova armadura mais resistente, quando um terremoto estremece a metrópole.

- É ele! - algum pedestre grita.

Ao sair do segundo andar do Pigsy's Noodles e emergindo na rua em seguida, uma sombra se forma em cima de mim, levanto o olhar e encaro um punho gigante vindo em minha direção, alarmada consigo me esquivar antes do golpe fatal agora marcado no asfalto em frente ao restaurante. Ele vira um gorila ou um lagarto gigante, é como se King Kong e Godzilla estivessem disputando a posse de um corpo.

MK não quis esperar. Nossos planos de abordagem foram por água a baixo. Aliás, nem foram por água a baixo pois ainda iríamos discutir sobre eles, nem chegaram a existir para ser sincera. Six Eared aparece e trabalha duro na contenção, vejo Wukong e vou até ele.

- O que aconteceu? Ele está livre antes da hora!

- Não sei o que houve mas, com plano ou sem plano, é hora de enfrentá-lo!

A Discípula de Sun WukongOnde histórias criam vida. Descubra agora