29 | Yaoguai

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Quando a bola de cristal de Womanland me respondeu que Sun Wukong foi o responsável por causar o caos que o mundo está sendo vítima, a princípio, me irritei. Não acreditei. O mestre ainda não passava de um sábio divertido que me guiava a vitória. Agora, porém, o que acontece não está tão longe da revelação. De qualquer forma, a esfera se mostrou imprecisa e estou tão irritada quanto no dia em que ouvi essa resposta. Uma cópia maligna está tirando a paz de todos da terra e o pior é estar longe de desfazer tal ser.

A mente vagueia, em poucos minutos, torço, espero que Tripitaka esteja bem e não venha atrás de seus discípulos travessos. Em qualquer outra época, seria muito bem-vindo qualquer distração vinda deles, é um verdadeiro e imenso prazer conhecer as primeiras reencarnações de Zhu Bajie e Sha Wujing, sem esquecer, é claro, do noviço, guarda-costas e rei em frente. Principalmente ele que está fazendo questão de dificultar a minha missão.

Nem preciso chamar uma nuvem voadora, a simples imaginação dessa belezinha, é suficiente para fazer ela se formar sob meus pés e me fazer alcançar o discípulo mais enérgico de Sanzang. Jamais irei submestimar o poder da dedicação.

- Ooopa - Monkey King arregala os olhos, quase engasga com a manfruit.

Estou diante de um ser que não quer fazer nada a não ser se divertir. Pior que eu também queria, mas não sou tão louca a ponto de fazer isso justamente agora. Segundo o que Tang me contou, quando Wukong fazia somente o que queria, bem antes de conhecer Tripitaka, esse rei andava de lar em lar, conseguindo conversar com muitos reis e consortes ao seu redor e no reino celestial, pouco se importava se era noite ou dia, a única coisa que imperava na sua vida era a diversão. Posso supor que ele quer ressuscitar esses dias animados sem grandes obrigações ou preocupações.

- Ainda está pensando em ficar aí? - coloco uma mão na cintura, minha raiva vai diminuindo ao ver sua cara empalidecer. Espero não ter nenhuma aranha caminhando em cima de mim, só isso para justificar sua reação, não sou tão assustadora assim, acho.

- Como sabe convocar nuvens a jato? - ele pergunta quase caindo do galho.

Ooops! Fico imaginando no que responder. Isso explica a sua reação ao me ver. Meu coração passa a bater forte, errei feio ao demonstrar um poder que só ele deveria ter por aqui, nesse momento. Me atenho ao seu passado, lembro de onde ele aprendeu a conjurar nuvens com a capacidade de transportar seus conjuradores. Tento não me distrair com o cheiro das frutas estranhas.

- Conheci Subodhi, um mestre excelente! - ufa! Meu cérebro não travou de vez, no final das contas.

- Ah... - Sun faz uma carinha engraçada, seu focinho Y remexe fofo, de uma forma estranha até. Espero que ele tenha acreditado na minha invenção. Por favor, acredite em mim, o que eu menos quero agora é ter mais problemas para resolver.

- Sai dae! - puxo a sua cauda com o máximo de força possível, ele se mexe alguns centímetros. Não posso dar a ele a chance de pensar muito na minha mentira.

- Espera! Vou descer, mas antes, me diz o seu nome, apareceu do nada e nem se apresentou, tsc, tsc.

- Ruxue - falei ao lembrar do nome de uma raposa albina que fez par com ele em um de seus vários filmes.

- Nunca te vi na escola, andava escondida?

- Ouvi falar de que foi expulso da escola pelo mestre. E, quando fui admitida, você não estudava mais lá.

- Isso explica porque não consigo me lembrar de você. - Ele fica me encarando com os olhos vivazes semicerrados, um odor mentolado sai de sua boca e vagueia entre nós, deduzi ser da fruta que lhe acrescentou 47.000 anos de vida. Sorrio por segundos. Rei sacana.

- Sem enrolar - aponto para baixo -, chão, agora. - Evito um rolar de olhos, vejo manfruits sendo sufocadas entre o pelo do rei e o tecido da sua roupa, esse Wukong realmente não se dá ao trabalho de conhecer limites.

- Esse caderno... - ele olha e aponta para o meu diário que sempre carrego comigo, pequeno, é fácil de transportar, dentro do bolso do casaco - tenho um igual. E eu achando que o Subodhi tinha entregado um desses só para mim.

Sério? Esse caderno foi dele? Então já teve dono mesmo. Isso explica as primeiras folhas estarem ausentes, foram rasgadas e já encontrei assim. Bem, não importa se é dele ou era, vou fazer questão de não deixar ele se aproximar, a fim de evitar uma catástrofe no tempo, não sei mas tenho a impressão de que isso pode influenciar na minha época.

- Ele ia jogar fora - decido esconder o mais rápido possível -, por estar velho demais, daí peguei.

- Hey - ele sorri e enrola a cauda no galho -, sabia que essa manfruiteira se chama Hyperion?

- Não, não sabia - subo no galho em que ele se encontra. - Legal essa curiosidade, ma-

- Pessoal! Tem um monstro se aproximando - Sandy grita lá de baixo.

- Monstro? - me viro para os lados, tentando localizar tal criatura.

- Um Yaoguai! - Wukong logo fica de pé. Yaoguai é um termo chinês que geralmente significa demônio. É uma classe de criaturas sobrenaturais principalmente espíritos de animais maléficos ou seres celestiais caídos que adquiriram poderes mágicos.

- Essa não... - fito a criatura monstruosa gigantesca se aproximar a passos lentos.

- Deve ser o guardião do pomar - Sun saca seu bastão.

- Hora de ir! - Pigsy levanta do chão e nos chama com acenos exagerados.

- Só assim para você sair daqui logo - falo ao ver Sun alcançar o solo em um pulo.

- Ruxue...! - Sun brada. - Cuidado!

Olho para um de meus pontos cegos, escolhi um que está bem atrás de mim e avisto um demônio na retaguarda.

Ele me acerta em cheio com o seu tacape.

Tudo escurece.

A Discípula de Sun WukongWhere stories live. Discover now