4 | Cloud Jet

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- Ehh... isso é realmente necessário? - questiono passando entre um peregrino e outro, de uma grande feira a céu aberto.

- Claro que sim. - Wukong afirma e puxa o capuz de seu moletom amarelo, a fim de se esconder atrás dele ainda mais. Ele fica bem nesse moletom, espero que use mais vezes.

- Tenho que aprender a lutar alguma hora, certo? - tento não perdê-lo de vista.

- Com certeza! - ele segura minha mão para eu não me perder dele pela milésima vez hoje.

- E como fazer compras vai me ajudar com isso? - quase derrubo uma cesta cheia de frutas.

- Não é uma ida a feira qualquer. Estamos atrás da Ruyi Jingu Bang perfeita para você.

- Ruyi Jingu Bang? O que é isso?

- Espere um pouco e verá.

Espero muito que ele saiba o que está fazendo. Me sinto um Harry Potter escolhendo uma varinha. Entramos em uma caverna bem iluminada. Do outro lado de um balcão, um macaco forja uma espada enquanto um Wukong sorridente se esparrama sobre a madeira que nos divide.

- Faaala, Kongo. Pode me ajudar? Essa mocinha precisa de uma arma a altura.

- Wukong, Wukong. Não acha arriscado demais trazer tal beldade para a minha vala?

- Nada. Então. Pode fazer?

- Poder, poder eu até posso. Porém há um problema.

- Pode falar, quem sabe a gente não te ajuda.

- Pela estatura da guria, com certeza um bastão parecido com o seu dá para o gasto. Mas o molde dele está preso naquela montanha onde você nasceu e, até hoje, ninguém conseguiu trazer ele para cá. Acha que consegue ir até lá e trazer para mim?

- Eu vou lá! - digo já saindo no mesmo instante.

Ao ver o cadarço do meu tênis desamarrado, me agacho para laçar ainda perto da entrada da caverna, com isso, ouço o que o mestre está conversando, ele não pode me ver aqui pois as cortinas tapam tudo, nem raio solar adentra.

- Nada disso, você ainda não está pronta para esse tipo de missão, que tipo de mestre seria eu se te deixasse ir... Valente? VALENTE?! Caramba! Ela foi atrás...?!

- Foi sim, haha - o ferreiro ri zombeteiro. - Pelo visto a menina faz jus ao próprio nome.

- Entende de português brasileiro?

- Um pouco.

- Vou já atrás, ela não está pronta para isso.

- Nada disso, deixa a menina, ela me lembra você crescendo sozinho, sabendo se virar. Quem aprende só, não só poupa como dispensa professores.

Sorrio e saio correndo em direção a montanha. Em dez minutos a encontro e já começo a subir.

Urg. Argh! Essa montanha me é íngreme demais! Quem em sã consciência colocaria uma porcaria de molde de arma no topo dessa bagaça? Calma, Valente, toda missão difícil vem para fortalecer, vou ficar mais forte depois dessa experiência incrível!

Cinco minutos depois, estou rolando no chão de tanta dor, por sorte, é só um joelho ralado, acho.

- Tsc, tsc, tsc. - Wukong balança a cabeça em negação.

- Mestre! - me ponho de pé no mesmo instante.

- Pelo visto vou ter que te adiantar aulas de nuvem voadora para isso.

A quanto tempo ele está aí e me viu passando essa vergonha? Ah... melhor fingir que nada tosco aconteceu aqui.

- Nuvem voadora? Toda nuvem avoa até onde sei, ai - tiro a terra do meu joelho ralado, deveria ter vindo de calça não de short.

- Não como a minha!

- Beleza, então mostra.

- CLOUD JEEET!!

- Ai meus ouvidos!

Logo uma nuvenzinha bem fofa surge diante dos meus olhos.

- Essa é Cloud Jet, Cloud Jet essa é Valente. Pode levar essa sagui para o topo da montanha? Ótimo, aham. Você também é demais - ele a acaricia. - Sobe.

- Como?

- Pode subir, como se estivesse montando um cavalo ou sentando em um tapete...

- Ok.

Tento subir mas parece escorregadio de mais. Fico com medo de transpassar e ganhar o chão. Wukong coloca a mão em meu ombro.

- Eh. Tente não sentir medo, ok? Sentir medo te impede de ir além. Não te faz flutuar.

- Medo? Pff. Vou provar que não deixo essa coisa chamada medo mandar em mim - consigo subir, na maior dificuldade, é o desafio que mais me custou cumprir até hoje. - Quem. Disse. Que. Estou. Com. Medo!?

- Boa garota.

- Nos vemos em breve!

- Eeei!

- UHUUULLL! - voo sem medo algum, resolvo descer um pouco a nuvem para poder espionar o mestre com o macaco ferreiro, por outro lado, entre as plantas, quero saber se estão me elogiando em segredo.

- Dei asas a cobra? - Wukong pergunta ao macaco ferreiro que lhe responde.

- Talvez.

- Que belo mestre... eu sou.

Reviro os olhos e dou de ombros, subo a montanha e passo a procurar pelo bendito molde mas, agora que estou no topo, faço isso a pé mesmo, dispensando a Cloud Jet. Devia ter perguntado como é o molde assim facilitava e agilizava o trabalho. Depois de uns vinte minutos, vejo algo reluzindo, ao me aproximar, encaro uma espécie de mala negra bem comprida. A abro e só há um espaço vago em forma de bastão, concluo: só pode ser isso. Tento levantar a coisa do chão mas não consigo e agora? Hummm... ah! Já sei!

- Cloud Jet! - a chamo e ela vem na mesma hora.

- Me ajuda a carregar? - aponto para a mala.

A nuvem desce até ficar rente ao chão. Consigo arrastar a mala até em cima dela. Por fim, a monto e peço para ela voltar ao início desta aventura. Ao voltar, só encontro o mestre me esperando de braços cruzados. Ele sorri assim que me vê.

- Prontinho! Agora pode fazer a minha Power Rod! - aponto para a mala.

- Desce da nuvem devagar... - Wukong pede, com olhos arregalados. O que deu nele? Está assustado com o que será...?

- O que foi...? - olho na mesma direção que ele e vejo uma cobrinha enrolada na minha canela. A chuto no susto. - Ah!

- Calma, não é venenosa. Acho - o mestre segura o molde como se estivesse segurando isopor - parece que não te picou, sortuda.

- Que bom.

Cinco minutos depois, sinto uma ardência na perna onde a cobra estava, tudo parece girar, escurecer e...

Acordo em uma cama bem macia. Ué? Desmaiei?

- Finalmente acordou, bela adormecida. Sua arma está sendo preparada agora mesmo.

Wukong estava escorado no batente da porta do quarto em que estou, sai de lá para ficar do meu lado.

- Aquela cobra me picou? Que lugar é esse?

- Quarto do ferreiro, segundo andar, a cobra não era venenosa mas como aquelas comem sapos venenosos e não escovam os dentes, passou o veneno deles para você.

- Caramba...

- Fica tranquila, já foi medicada.

- Mereço os parabéns, não?

- Parabéns por ter sido picada?

- Claro que não, né? - dou risada junto dele, é muito palhaço mesmo esse macaco.

A Discípula de Sun WukongWhere stories live. Discover now