28 | Manfruit

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- E se eu te disser que tem algo ainda melhor do que pêssegos?

- Fala logo! O que é?! - Wukong senta na esteira boquiaberto.

- Manfruit! - declaro enquanto Sandy e Pigsy deitam em outras esteiras.

- Manfruit? - Wukong coça a nuca.

- Sim, sim. Agora deite aí - empurro seu tronco de volta para a esteira.

Isso está acontecendo mesmo? Sim, realmente! Estou conseguindo ninar o Wukong para fazer ele dormir e espelir a cópia maligna, sem me desesperar. Tenho certeza que já posso ser mestre e ter meus próprios discípulos!

Pouco antes de entrar de vez na história, peço a Sandy para avisar Tripitaka que seus escolhidos estão lutando contra demônios que estão obcecados em impedir a conclusão da sua viagem para oeste. Com mais tempo ganho, todos os discípulos da jornada podem ficar comigo até uma semana, segundo o que consegui ouvir a respeito dessas lendas, semanas poderiam ser gastas em combates, planos e descanso.

Sentada, encosto na parede gélida, sorrindo para o rei, encaro seus olhos cor mel, passo a falar sobre as frutas com formas de bebê. Elas dão 47 mil anos de vida a quem comer. Não falei dos pêssegos da imortalidade pois deixei como plano B, se essa história que eu contar agora não der certo, essa outra dará.

Horas mais tarde, quem acabou cochilando no final da história fui eu. Quando acordo, encontro a esteira do Wukong quase vazia, ele deixou um clone do tipo "paradão", mais semelhante a uma rocha do que a um ser vivo, no lugar. Só percebi que era falso através do olhar da verdade.

- Ah não acredito nisso! - levanto do chão de repente.

- Hã? - Sandy acorda também.

- O que houve?! - Pigsy desperta, boceja coçando a barriga. Pelo visto, a história fez quase todos dormirem menos quem deveria.

- Wukong! Ele sumiu! - digo quase arrancando minhas orelhas felpudas.

- Nada disso, olha ele aí. - Pigsy aponta para o fake de Wukong.

- É pelo. - chuto o clone que se desfaz em tufos ruivos.

- Para onde esse macaco foi dessa vez? - Pigsy pergunta com sombracelhas no alto.

- Temos que encontrar ele logo! - quase grito, o desespero está tomando conta.

- E a história? - Sandy pergunta se levantando.

- O que tem ela? Já terminei de contar.

- Ele pode ter ido atrás das manfruits! - Pigsy complementa o raciocínio do companheiro.

- Céus! É verdade! - levo uma pata a testa. Se aquele macaco foi atrás daquelas frutas, isso vai ser o cúmulo! - Então vamos logo atrás dele antes dele fazer alguma besteira!

Corremos para fora de casa, percebemos o dia amanhecer. Ambos discípulos de Tripitaka me encaram.

- Sabe para onde fica o jardim? - Pigsy pergunta a mim. - Não sabe?

- Bem... érr...

- Você disse que já esteve lá - Sandy complementa, para a minha vergonha.

- Eu... eu... nunca estive em nenhum pomar de manfruit! Está legal? Aí, droga!

- Essa não... - Sandy passa suas mãos pela barba - como vamos saber para onde ele foi agora?

- Tudi! - exclamo me lembrando de lendas sobre esse carinha.

- Ah não, você também? - Pigsy passa a mão no rosto visivelmente irritado.

- TUDI! TUUUDIII! TUDI-TUDI! - começo a saltitar enquanto chamo, esse carinha deve estar por aqui, estamos próximos a uma montanha, as chances dele aparecer são imensas.

- Parece o Monkey King. - Sandy comenta.

- Ia falar a mesma coisa. - Pigsy meneia a cabeça em negação.

- Tuuudiii! - continuo chamando, estou nem aí se vão me chamar de maluca.

- Tudi! Tudi! - um pequeno ser celestial de montanhas, que reside no subsolo, brota.

- Ah! - sorrio. - Ter aparecido é um colírio para meus olhos que você nem imagina, amiguinho!

- Tudigong - ele conversa.

- Aham - concordo.

- Tudishen? - ele prossegue em seu assunto.

- É... - penso no que responder.

- E lá se vai três dias e três noites conversando com esse Tudi. - Pigsy senta em uma pedra, encosta o ancinho e me fita com cara rabugenta.

- Ah Pigsy, não seja tão pessimista... - Sandy sorri.

- Estou sendo realista! - o porquinho esbraveja.

- Oh caro senhor Tudi! - uno minhas mãos e me curvo. - Preciso da sua ajuda para encontrar o Monkey King! Pode me dizer para onde ele foi?

- Tudituditudi - ele me diz. Se eu não prestasse atenção nas aulas do mestre, nunca ia saber o que ele estava falando.

- A informação que tenho agora vai te deixar otimista -, falo ao porquinho - consegui a localização de Wukong, hora de ir atrás dele!

- Ufa! - Pigsy se põe de pé.

- Muito obrigada, Tudi! - me despeço da pequena divindade e sigo caminho ao lado do porquinho e do ogro.

- Desce daí! Ou te faço descer - digo assim que vejo Wukong no alto de uma árvore, encostado nos galhos como se estivesse no paraíso.

- Demorou muito para chegar - Sun se espreguiça -, pensei que não vinha.

- Ela nunca pisou aqui - Pigsy revela.

- Está nos enganando mais uma vez - Sun balança a cabeça para os lados -, que vergonha...

- Isso não importa - rangi os dentes, ele sabe esgotar minha paciência -, só desce daí agora mesmo!

- Você não é o mestre! - o macaco berra lá de cima. - Não tenho motivos para te obedecer!

- Por favor, Wukong - Sandy intervém, lembrando mais seu eu da minha época, calmo, sereno -, desce já daí, o mestre pode precisar da gente a qualquer momento, não vai querer que ele recite o feitiço de apertar a faixa...

- Relaxa! - Sun se espreguiça outra vez. - Vou descer mas só depois de comer todas as manfruits!

- Seu... - aperto os punhos - irresponsável inconsequente!

- Toma uma para vocês! - Wukong arranca dois frutos, lança um para cada condicípulo.

- Grrr! - estou chegando no limite dos limites.

- Como está muito mal criada - Sun dá uma mordida no fruto -, vai ficar sem!

- Está querendo que eu te derrube daí? - ameaço.

- Tenta. - ele me dá uma piscadinha.

- Ok - me aproximo do tronco. - Foi você quem pediu!

- A gente deveria fazer alguma coisa - Sandy diz, seu tom de voz me soa preocupado.

- Por enquanto - Pigsy se senta na grama e come a manfruit -, vou esperar e ver no que vai dar. Se quiser, pode ajudar ela.

- Acho melhor esperar também - Sandy também se acomoda na grama e come a fruta.

A Discípula de Sun WukongOnde histórias criam vida. Descubra agora