2 - Escritora feminista

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A reforma da velha Folha de Ouro tem sido um dos principais assuntos comentados na vizinhança. Enquanto Vicente está em plena atividade, pintando com dedicação a parede de sua futura editora, um cavalheiro trajando um elegante terno e um chapéu impecavelmente alinhado, aparentando ter posses financeiras consideráveis, percebe que a porta está aberta e decide adentrar o espaço.

- Boa tarde. Você por um acaso é filho de Herbert?

O rapaz para um pouco com a pintura e vira o pescoço para olhar quem entrou e sorri em saber que um conhecido da familia se interessa pelo local.

- Sim, sou! O senhor conheceu meu pai?

- Conheci, este lugar era a paixão dele. - Diz, caminhando lentamente para dentro.

- Isso é verdade... Bom, como pode notar, quero retomá-la, custe o que custar.

- Admirável! - ele olha em volta. - Está ficando ótimo!

- Obrigado!

- Também estou fazendo reforma em minha casa. Aceitaria algumas peças de madeira? Talvez possa improvisar com elas.

- Claro! Poderei criar uma prateleira ou até uma mesa!

O homem sorri amigável com a empolgação do rapaz e se retira, deixando-o com o seu empenho na pintura. Minutos depois, ele volta com seus filhos descarregando várias ripas e tábuas de diversos tamanhos.

- Nossa! Muito obrigado, senhor! Será de bom proveito. - Vicente agradece, pegando a mão do homem e chacoalha rapidamente.

- Não precisa agradecer, meu jovem. É um prazer ajudar a Folha de Ouro.

Até o final do dia, o futuro empresário ganha mais materiais para reforma de pessoas solidárias. Ele não sabia que ainda existem pessoas assim e se considera ter uma imensa sorte.

Depois de uma semana intensa de trabalho, Vicente finalmente termina a reforma da editora, embora tenha que deixar a janela sem conserto por falta de recursos, mesmo assim, ele se sente grato pelas pessoas que o ajudaram e reconhece que não teria conseguido sem elas. No entanto, após tudo o que fez, ainda não está contente, ele observa o local e repara na falta de mobília e maquinário para produzir livros.

Com um olhar distante, caminha para casa. Ele gostaria muito de logo iniciar suas atividades, mas percebe que precisará arrumar um trabalho a fim de juntar dinheiro. Ao chegar em casa, encontra sua mãe na companhia da tristeza e escutando o rádio.

- Como vai a editora? - Pergunta ela, sem deixar de observar o aparelho.

- Preciso de mobília e de pelo menos uma máquina de escrever. - Suspira, decepcionado, enquanto caminha em direção à cozinha, está faminto.

A mãe costuma deixar um prato tampado sobre a mesa, hoje ela preparou um ensopado cheio de legumes. Ele se ajeita para começar a comer e a vê chegar no batente da porta.

- Vicente, meu filho. Venha comigo, quero te mostrar uma coisa.

Prontamente, ele se levanta e a segue. Descem as escadas do porão dessa antiga casa, e com uma lamparina de querosene, ela ilumina o local. Param em frente a uma caixa de madeira num canto da parede, no chão.

- Abra essa caixa.

Ele a obedece e vê uma máquina de escrever. O rapaz olha para ela com surpresa.

- Vejo que você está bem empenhado na editora, então, pensei bem e resolvi 'emprestar' a máquina para você - Ela dá ênfase ao verbo. Os olhos de seu filho brilham diante dessa relíquia.

Amor e ideais.Where stories live. Discover now