28 - Além da janela

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Antonieta acorda com os primeiros raios de sol filtrando pelas janelas do quarto, iluminando suavemente o ambiente. Ela franze a testa ao perceber que não ouve os ruídos habituais da casa, nenhum som de cafeteira sendo ligada, nenhum barulho vindo da cozinha, nenhum passo ecoando pelos corredores. Um silêncio paira no ar.

Com o coração batendo mais rápido, Antonieta se levanta da cama com cautela, tentando não fazer barulho. Ela olha ao redor, seus olhos param na porta que trancara na noite anterior como parte de seu plano de fuga.

Com passos lentos e silenciosos, ela se aproxima da porta e destranca-a com cuidado, sentindo um frio na espinha ao girar a maçaneta. Com o coração na boca, ela abre a porta e espreita para fora, encontrando os corredores vazios e silenciosos da casa, descobrindo que seu marido já foi trabalhar.

Pega sua mala de mão que havia preparado secretamente na noite anterior, e a segura com firmeza enquanto sai do quarto, seus passos ecoando levemente pelo corredor deserto.

Finalmente, ela chega à porta da frente, destranca-a e a abre cuidadosamente, revelando a luz do sol brilhando lá fora. Um sentimento de liberdade e expectativa a envolve enquanto ela dá um passo hesitante para fora da casa.

Antonieta caminha pelas ruas da cidade com passos firmes e decididos, seu olhar refletindo a coragem que a impulsiona adiante. O movimento na cidade começa a se intensificar conforme as pessoas iniciam mais um dia de atividades.

Ela chega ao escritório da Folha de Ouro ansiosa para rever Vicente e ve-lo reagindo pela surpresa. No entanto, ao se aproximar da porta, um choque toma conta dela ao perceber algumas madeiras fixadas nela. Ela para abruptamente, seu coração batendo mais rápido enquanto observa a cena diante dela. As tábuas grossas bloqueiam o acesso ao escritório, indicando claramente que algo está errado.

Um misto de frustração e desespero se espalha pelo seu corpo, enquanto tenta processar a situação, tocando as tábuas, sentindo a rugosidade da madeira.

- Fechado? O que aconteceu com a Folha de Ouro? - Assustada, ela se afasta da porta e começa a procurar por alguém que possa ajudá-la a entender.

- Ei, senhor, com licença. - ela aborda um homem qualquer que passa por ali no momento. - O senhor sabe o que aconteceu com esse escritório? Antes funcionava uma editora de livros, agora está interditada.

- Eu não sei ao certo, mas ouvi falar que ela faliu.

- Faliu?! - Antonieta arregala os olhos.

- Sim! Sinto muito... - ele acena com a cabeça brevemente, e se retira.

A noticia a deixa atordoada e sem palavras por um momento. Ela olha para o prédio interditado à sua frente, incapaz de acreditar no que está vendo.

Um turbilhão de pensamentos invade sua mente enquanto ela tenta processar a realidade da situação e sente uma onda de tristeza ao pensar em Vicente e no quanto ele trabalhou arduamente pela Folha de Ouro. Ela lembra-se dos longos dias e noites que ele passou dedicando-se a essa editora, do seu entusiasmo e paixão pelo projeto. Era o sonho dele, uma realização que ele perseguia com tanto empenho e dedicação.

Enquanto caminha pelas ruas novamente, pensativa e com o coração pesaroso, Antonieta reflete sobre os próximos passos a dar. Ela se sente impelida a apoiar e ser uma fonte de força para Vicente, cujo sonho foi abruptamente interrompido, porém, ela se sente impotente diante da incerteza sobre seu paradeiro.

Amor e ideais.Where stories live. Discover now