Olhos cansados acompanham uma manchete do jornal e sobrancelhas grisalhas e grossas franzidas demonstram indignação. O óculos é ajeitado, para tentar ler melhor e acreditar naquele absurdo:
"Extra, extra! A velha editora Folha de Ouro reabre as portas lançando livros audaciosos!
O filho de Herbert Almeida, Vicente, está criando asas para sonhar com uma sociedade fora dos padrões, lançando livros de autores que exploram a sexualidade e racismo."
Américo é conhecido por sua careca brilhante e cabelos finos atrás da cabeça, mas também pelo seu ar de sabedoria que todos respeitam.
A rigidez de pensamento e sua visão estrita sobre os valores tradicionais intimida a muitos. Ele acredita que a sociedade deve permanecer ancorada nos costumes estabelecidos e que qualquer desvio desses padrões é uma afronta ao que considera certo e moralmente aceitável.
Nega a cabeça ao terminar de ler a manchete, sente uma mistura de repulsa e desdém. Ele considera essas obras como uma ameaça à moralidade e aos princípios que defende com fervor.
Larga o jornal sobre a mesa e abre uma gaveta para pegar um charuto e o acende depois de girar a cadeira e se levantar. Com uma expressão séria, caminha em seu escritório.
Américo, dono da editora Semente Negra, tem uma influência considerável em seu círculo social e está disposto a lutar contra qualquer ideia que desafie sua visão de mundo. A notícia sobre os lançamentos ousados da editora Folha de Ouro é um chamado à sua convicção de que a sociedade precisa ser protegida dos "desvios" e das influências que considera prejudiciais.
- FREDERICOO! - ele chama, e um rapaz loiro e magricelo aparece em sua porta.
- Sim, chefe? O que deseja?
- Ligue agora para a Câmara de Livros e Censura.
- Sim, chefe. Um momento, por favor.
★★★
Já passa das 10 horas da manhã, e Vicente, imerso em sua tristeza, ainda não se levantou da cama, ele ainda sofre pelo modo que Antonieta o tratou na manifestação. Sabe que é culpado pela atitude, mas ele ainda a ama e sente-se incompleto sem a presença dela ao seu lado.
A luz do sol entra pela janela, iluminando suavemente o quarto, mas ele permanece imóvel, incapaz de encontrar a força para se levantar. Ele se encontra em um estado de angústia e várias lembranças entre eles veem em sua mente. Entre tantas, há uma que o atormenta particularmente: o beijo que trocaram naquela noite fatídica em que se desentenderam. A doçura daquele momento agora é uma faca afiada que perfura seu coração, fazendo-o questionar se aquela demonstração de amor foi genuína ou apenas uma ilusão.
Com um suspiro pesado, Vicente finalmente se levanta da cama e se dirige ao espelho. Ele olha para seu reflexo e vê seus cabelos lisos castanhos claros bagunçados, sua barba a fazer e seu pijama azul listrado. Percebe o quanto está abatido e decide que precisa do amor de Antonieta.
Sem fome pela primeira vez, dirige-se para a sala de estar e vê sua mãe sentada em sua poltrona preferida costurando a mão uma camisa.
- Vicente? - ela fica surpresa em vê-lo em casa naquele horário. - Você não foi trabalhar hoje ainda, meu filho?
- Não, mãe... Não estou muito bem...
- O que houve, querido? - ela olha para ele atentamente.
YOU ARE READING
Amor e ideais.
RomanceNos vibrantes anos 50, em uma pequena cidade do interior, vive Antonieta, uma jovem determinada e apaixonada pela escrita. Enquanto o mundo ao seu redor tenta encaixá-la em padrões estereotipados, ela se esforça para encontrar sua voz em meio ao con...