18 - Palavras Contidas

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Vicente caminha pelas movimentadas ruas da cidade, um sorriso estampado em seu rosto ao lembrar-se do feito de Antonieta. Seu coração está repleto de alegria e orgulho por ela ter finalizado o livro.

Enquanto seus passos o conduzem pelo caminho conhecido, os sons da cidade preenchem seus ouvidos. O barulho dos carros, as vozes das pessoas, o som dos passos apressados. A energia vibrante do ambiente parece combinar perfeitamente com o seu estado de espírito elevado.

No entanto, algo chama sua atenção e interrompe sua euforia. O som familiar da voz do jornaleiro ecoa pelo ar, anunciando uma manchete com um tom de urgência. A curiosidade desperta em Vicente e ele se aproxima rapidamente do local onde o jornaleiro está.

Seus olhos se fixam no jornal que o homem segura, a manchete em letras garrafais capturando sua atenção. O sorriso desaparece instantaneamente de seu rosto, substituído por uma expressão de preocupação e incredulidade.

- Extra, Extra! A Folha de Ouro tem um livro censurado! A Folha de Ouro tem um livro censurado!

Sem hesitar, ele compra um exemplar do jornal. Seu olhar percorre as palavras impressas, capturando cada detalhe da notícia que abala seu espírito.

- E agora? Como vou dar essa notícia a Tadeu? - suspira fundo com desgosto.

Vicente, ainda carregando o peso da notícia, encontra-se com o autor do livro afetado. Com indignação, ele compartilha a dura realidade da situação, expressando sua solidariedade ao escritor.

- A culpa é totalmente sua, Vicente! Você é o editor aqui!

Com um esforço para conter sua frustração, Vicente responde com calma, embora seu tom revele a angústia que sente.

- Meça suas palavras, Tadeu. Eu luto para manter a liberdade de expressão, mas nem sempre consigo evitar as ações de terceiros. A censura é um obstáculo difícil de enfrentar.

- E o que você fez para isso ser evitado? Pelo jeito, foi nada!

Com o peso da responsabilidade pesando ainda mais em seus ombros, Vicente respira fundo, tentando manter a calma diante da acusação.

- Você precisa entender que há limites e poderes além do meu controle. Essas decisões são tomadas por pessoas poderosas e influentes, que estão dispostas a calar nossas vozes.

O autor fixa o olhar em Vicente, um misto de raiva e desconfiança em seus olhos.

- Então, você simplesmente aceita? Aceita que nossos livros sejam censurados, que nossa liberdade seja sufocada? Como pode ser um editor e não fazer nada?

- Eu não aceito. Irei fazer o possível para resistir, para encontrar brechas e alternativas.

O autor parece ponderar as palavras de Vicente e um lampejo de compreensão cruza seu rosto.

- Desculpe. É que dói, Vicente. Dói ver nosso trabalho ser silenciado, nossas palavras estão contidas.

Por compartilhar da mesma dor, Vicente fica calado. Tadeu, ao ver que ele não tem mais nada para falar, levanta-se e se retira.

Vicente fica sozinho no escritório por algum tempo, sentindo-se péssimo. Decide então fazer algo que ha tempos não tem vontade: sair para beber.

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