15 - Fique até o amanhecer

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Depois de mais um dia frustrante em seu novo emprego, Antonieta retorna para casa, carregando consigo o peso das palavras que escreveu para a revista. Mais uma vez, as frases cortantes lhe atravessam o coração, deixando-a com um misto de tristeza e desânimo.

No conforto de seu quarto, Antonieta troca suas roupas do dia por uma camisola, buscando um pouco de conforto físico. Sentada na cama, ela se questiona até quando conseguirá suportar essa situação. A sensação de comprometer seus princípios apenas por causa do dinheiro a consome, e ela se sente péssima por ceder a essa pressão.

Decidida a não mais guardar esses sentimentos dentro de si, Antonieta pega seu caderno para continuar a dar vazão às suas emoções através da escrita.

As palavras fluem em forma de desabafo, expressando suas frustrações, suas dúvidas e seus anseios por uma vida que seja verdadeiramente autêntica e significativa. Naquelas linhas, ela encontra um refúgio para sua alma inquieta, permitindo-se sonhar com um futuro em que não precise sacrificar seus valores em nome da sobrevivência.

Enquanto mergulha na escrita, o tempo parece voar, ela está tão envolvida em suas palavras que mal percebe quando a luz do dia vai se apagando lentamente. Ao olhar pela janela, percebe que a noite já chegou, guarda seu caderno com cuidado, sabendo que suas palavras são um tesouro pessoal, e deita-se para dormir.

Ela acorda tranquilamente com um som de uma música ao violão e uma voz masculina cantando. É suave e bonita, e Antonieta passa a prestar atenção na letra, e por ser romântica, lembra-se de Vicente e o quanto ele era doce como a canção.

O ruido de uma pedra pequena batendo em sua janela chama sua atenção e ela ergue a cabeça, surpresa. Pensa ser algum animal e repousa novamente a cabeça no travesseiro.

O mesmo barulho se repete mais uma vez, e agora Antonieta decide conferir o que está acontecendo. Levanta-se, caminha em direção à janela e a abre. Ela vê um senhor de chapéu, barba e bigode tocando violão do lado de dentro do portão.

- Quem é ele? Por que está aqui? - ela franze a testa, confusa com a situação.

- Antonieta! - a voz a faz olhar para baixo, alguns metros do chão, até a altura da janela, e se depara com Vicente chamando-a.

- O que é isso? O que você está fazendo aqui, Vicente? - questiona, surpresa.

- Uma serenata, meu amor! - ele diz, quase gritando, transbordando de emoção.

- Você está louco? - Antonieta retruca, confusa e perplexa com a atitude inesperada de Vicente.

- Sim, louco por você! Eu te amo!

Pasme, ela sente seu coração disparar com a surpresa. A música e a expressão apaixonada de Vicente mexem com seus sentimentos, despertando uma mistura de emoções dentro dela. Considera a ideia de descer e conversar com ele, de se permitir envolver pela serenata romântica.

Apesar da alegria momentânea que a surpresa lhe trouxe, ela lembra de que não teve um dia muito agradável e também que ainda está magoada com ele.

- Vá embora, Vicente. - diz, com uma expressão triste. - Você veio num dia errado, não estou no melhor dos humores hoje.

Surpreso e sem graça, Vicente observa Antonieta fechar a janela do quarto e se sente desconcertado com a situação. O músico que tocava, ao notar o silêncio, também para de tocar, captando a tensão no ar.

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