6 - Tempo para a inspiração.

57 10 115
                                    

Naquela manhã, Antonieta acorda com um sentimento de frustração ao olhar para o caderno vazio que havia comprado para escrever seu livro. O objeto está sobre a cômoda, mas sua mente parece estar bloqueada, sem nenhuma inspiração para preencher as páginas. Vicente, o homem que mexe com seus pensamentos, é a razão disso, ela está completamente atraída pelo jeito encantador que ele tem.

Enquanto segue para o trabalho, seus pensamentos estão em tumulto. Ela pondera sobre o que aconteceria se iniciasse um relacionamento com Vicente, questionando se isso a levaria a seguir as tradições patriarcais e se afastaria de suas ambições feministas, tornando seu caminho incerto e cheio de dilemas.

Ao chegar ao trabalho, ela encontra sua amiga Bárbara fumando um cigarro e fica quieta por um momento, pensando em como lidar com sua atração por Vicente. Antonieta sabe que precisa ignorar seus sentimentos e não se deixar levar pelo charme dele, caso contrário, pode perder toda a essência do feminismo que há nela.

Ela teme que qualquer envolvimento emocional possa atrapalhá-la e pondera sobre a estratégia que planejou inicialmente: manter sua relação com Vicente estritamente profissional e séria.

- Está tudo bem, Antonieta? - Bárbara apaga seu cigarro no cinzeiro. - Você chegou tão quieta hoje...

Ela assente rapidamente, tentando dar um sorriso.

- Sim, estou bem. Só estou pensando sobre algumas coisas.

- Quais coisas? - sorri, curiosa.

Antonieta hesita um pouco enquanto suspira e decide não tocar no assunto Vicente.

- Preciso me inspirar para escrever o livro e não sei como.

- Ah, então você está mesmo empenhada no livro! Fico feliz por você.

- Obrigada, mas como me inspirar? Eu não tenho ideia de como continuar.

- Você precisa sair mais, conhecer vários lugares, pessoas, conversar, trocar experiências... - Responde, arrumando uma folha numa máquina de escrever.

- Boa ideia! Seria muito legal!

- Então vamos num clube de jazz. Conheço um muito bom, já fui várias vezes.

Antonieta aceita enquanto balança a cabeça, empolgada. Neste momento, Sr. Barbosa entra na sala, silenciando-as. Logo elas começam cada um com o seu trabalho nas máquinas de escrever.

- Quando? - Antonieta cochicha depois de alguns minutos.

- No próximo sábado?

A moça reflete por alguns segundos e lembra que prometeu a Vicente que irá neste dia para a editora a fim de escrever o livro, mas chega a conclusão de que, se quer mesmo se inspirar, precisa sair com Barbara.

- Pode ser sábado. - Responde, e volta com seu trabalho.

No final do expediente, Bárbara conta no caminho para casa algumas histórias divertidas sobre suas aventuras em clubes de jazz anteriores, deixando Antonieta ainda mais animada.

A moça fica ansiosa para que chegue sábado, ela nunca havia entrado num clube de jazz antes.

Neste dia, escolhe um vestido curto até o joelhos preto, faz tempo que não usa. Ela gosta muito dele por causa da saia cheia de bolinhas brancas.

Com esse vestido, combina muito uma tiara preta nos seus cabelos curtos, sem se esquecer daquela maquiagem básica, incluindo batom vermelho e pó de arroz.

Ao chegar no clube, as amigas se deparam com um local escuro e intimista, com mesas redondas cobertas por toalhas brancas e velas acesas em candelabros no centro, um pouco afastadas por causa do salão de dança. Elas se acomodam em uma delas, perto do palco, e começam a desfrutar da música.

Amor e ideais.Where stories live. Discover now