3 - O manuscrito vanguardista

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Depois que Antonieta arruma suas coisas dentro de uma mala que comprou com as próprias economias, ela a olha e sorri com satisfação, sentindo que está pronta para recomeçar. Por ter conseguido o emprego e um lugar novo para morar em apenas seis dias, exatamente dentro do prazo que seu pai lhe deu, sente orgulho de si mesma.

Ela desce as escadas da casa de seus pais, portando a mala, e vê sua mãe tirando a poeira dos móveis com um espanador. Ao escutar passos e ve-la, a mãe perde todo o entusiasmo de sua expressão feliz de todos os dias, nega a cabeça, desaprovando a atitude da filha.

- Nieta, você quer mesmo fazer isso? Você tem todo o conforto nesta casa, vai mesmo morar sozinha? Você ainda sequer aprendeu a cozinhar, querida.

Antonieta se aproxima da mãe soltando uma leve risada.

- Não se preocupe, mãe, vou ficar bem. - Abraça-a com carinho. - Eu virei visitá-los de vez em quando.

- Não vai se despedir de seu pai? - Pergunta, quando vê a filha já se afastando rumo à porta. - Ele esta no quarto terminando de se arrumar para trabalhar.

Ela para por um momento para refletir e vira-se novamente.

- Diga a ele que mandei um abraço e espero a visita dele. Tchau mãe, estou ansiosa para chegar à pensão.

Verônica escuta a filha boquiaberta, espantada em perceber o quanto de mágoa ela tem do pai. Mesmo assim, tem orgulho da mulher que Antonieta se tornou, uma mulher diferente, e sorri enquanto volta com a faxina sabendo que ela é uma pessoa com propósitos sólidos.

Antonieta desembarca do bonde após uma longa viagem até o outro lado da cidade, próximo à fábrica automobilística. Ela se depara com a modesta e simples pensão, cuja fachada de tijolos vermelhos mostra sinais de desgaste pelo tempo, no entanto, há presença de um jardim florido e bem cuidado com diversas espécies de flores, as quais emoldura a entrada, que é acessada através de um calçamento de pedra e alguns degraus até a porta principal.

O contraste entre a simplicidade da pensão e a beleza do jardim dá a Antonieta a sensação de que este é um lugar acolhedor e agradável para começar uma nova fase em sua vida.

Assim que ela entra na pensão, dona Maria a recebe com um sorriso caloroso e hospitaleiro. É uma senhora de meia idade, de cabelos grisalhos e um olhar doce que transmite paz e tranquilidade. Antonieta sente-se imediatamente à vontade na presença dela.

Dona Maria a acompanha até o quarto que Antonieta alugou e entram fazendo barulho no piso de madeira envernizado e repara na decoração bastante básica, com móveis de madeira maciça escura. Durante a breve visita, a dona da pensão não para de falar sobre a história do local, como começou e como tem sido ao longo dos anos, mas Antonieta está tão feliz, que mal presta atenção, deixa a mala no chão e se senta na cama de solteiro revestido com um lençol branco e alguns travesseiros desgastados.

- Seja bem vinda, espero que se sinta em casa. - A mulher a acolhe com carinho, a moça sorri grata pela recepção, ficando sozinha logo em seguida.

"Enfim, agora essa é minha nova vida." Pensa observando uma mesa de cabeceira ao lado da cama com uma pequena luminária. " Não era isso que você queria, Nieta? "

Abre a mala e retira suas coisas para se organizar, convencida de que é melhor começar a se adaptar. Guarda tudo dentro de um armário robusto e antigo, e assim encontra seu manuscrito. Para tudo a fim de examiná-lo com precisão, avalia se ainda há o que escrever e tem várias ideias sobre como continuar a história.

Amor e ideais.Where stories live. Discover now